Capítulo 1

Eu estava parada do lado de fora da nossa casa de noivos, e através da enorme janela de vidro, pude ver Rafael e Gabriela se beijando loucamente.

Ele a abraçava com força, beijando-a com uma urgência e possessividade. Parecia querer fundi-la ao seu corpo, sem nenhum sinal daquela pose fria e contida que ele tinha no dia a dia.

Minhas roupas, sapatos e cabelo estavam encharcados de neve, e eu tremia de frio.

Aquela frieza se espalhou pelos meus membros e invadiu meu estômago, fazendo-o revirar sem parar.

Vendo os dois rolarem para a cama de casal que eu tinha escolhido com tanto carinho, peguei meu celular e gravei um vídeo deles. Não aguentei, vomitei até não poder mais.

Em todos esses anos, quando Rafael e eu estávamos na cama, ele nunca me beijava.

Ele dizia ter nojo, e eu acreditei.

Na verdade, ele só tinha outra pessoa em seu coração; ele só beijava a pessoa que mais amava...

Os dois no quarto ouviram o barulho e olharam para fora ao mesmo tempo.

Mesmo sendo eles os traidores, naquele momento, eu me escondi instintivamente.

Molhada pela neve, eu tremia incontrolavelmente de frio, querendo apenas voltar para casa depois que Gabriela fosse embora. No entanto, esperei uma hora e ninguém saiu.

Espirrei, e arrastei meu corpo rígido e gelado de volta para casa.

A casa de noivos estava quentinha, e Rafael, que nunca sujava as mãos na cozinha, estava preparando o jantar.

Os movimentos eram muito habilidosos, dava para ver que ele não era iniciante.

O exaustor fazia um barulho alto, mas o cheiro picante e único da comida se espalhava.

E eu, com meu problema de estômago, nunca comia nada picante.

— Gulosinha, a comida ainda não está pronta...

Rafael ouviu o movimento, virou-se sorrindo.

No instante em que me viu, o sorriso sumiu de seus lábios: — Ah, é você. Está toda molhada, por que não vai logo tomar um banho e trocar de roupa em vez de ficar andando por aí? Sujou a casa toda!

— Desculpa.

Apertei meu casaco molhado, pedindo desculpas por hábito.

Rafael franziu a testa, descontente, e estava prestes a dizer algo mais quando Gabriela apareceu.

Os lábios dela estavam inchados, e o rosto corado, parecia que tinha sido "bem usada".

Olhei para ela.

Ela instintivamente puxou a roupa, explicando apressadamente: — Letícia Lima, não, não me entenda mal!

— O que tem para ela entender mal? Está nevando muito hoje, as ruas estão ruins, a cunhada vai ficar aqui esta noite. — Rafael nem mudou o olhar, decidindo de uma vez por todas.

Gabriela era a namorada do irmão dele. Os dois ainda não tinham se casado quando o irmão dele faleceu.

Mas, nesses anos, ele sempre a chamava de cunhada.

A comida ficou pronta, e Rafael chamou Gabriela para comer.

Ele a via comendo feliz e sorria junto, sem nem notar que eu estava comendo apenas arroz branco.

Depois de comer, Gabriela foi dormir.

Esta era minha casa de noivos, mas Rafael queria que ela dormisse no quarto principal e me mandou para o quarto de hóspedes.

— O quarto de hóspedes não está arrumado, a cunhada não vai se sentir confortável lá. Você se vira lá.

Mas esta era a nossa casa de noivos, eu nem sequer tinha dormido no quarto principal ainda. Como ele podia deixar outra mulher dormir lá?

Quis rebater, mas as palavras ficaram presas na minha garganta, e eu não disse uma única letra.

Rafael ficou no quarto principal até quase meia-noite, e só então voltou para o quarto de hóspedes.

Eu estava com frio e com fome, me sentindo péssima, com as cenas dele beijando Gabriela na cabeça, e não conseguia dormir.

Quando ele abriu a porta e entrou, eu realmente quis questioná-lo sem rodeios:

"Por que você se casaria comigo se não me ama?"

"Por que, tão perto do casamento, ainda podia beijar outra mulher?"

"Por que, comigo aqui, ainda podia ser tão íntimo com Gabriela, tão na cara dura?"

Uma pilha de perguntas estava presa na minha garganta, mas no fim, só consegui dizer amargamente:

— Rafael, se você se arrependeu, se não quer mais casar comigo, pode me dizer.

Ele podia cancelar o casamento, eu aceitaria.

Mas eu não aceitava que ele fugisse do casamento, me deixando lá como uma idiota no altar.