Capítulo 0008

Após caminhar alguns metros, Félix sentiu um incômodo inexplicável e se virou, buscando com o olhar a figura solitária de Catarina, ainda parada no mesmo lugar, tão frágil e sozinha que sua imagem ficou marcada na memória dele como um retrato de abandono.

Naquele instante, Félix se deu conta de todas as promessas que fez e nunca cumpriu, percebendo que sempre arrumou desculpas para priorizar Eunice enquanto Catarina ficava em segundo plano. Uma ponta de culpa lhe atravessou o peito, e ele jurou para si que, quando tudo aquilo passasse, tentaria compensar Catarina pelo que ela suportou.

Quando ambos se distanciaram, Catarina permaneceu sentada. Alguns minutos depois, um garçom se aproximou com um bolo de dois andares.

— Moça, feliz aniversário! O Sr. Félix pediu esse bolo especialmente para você.

O garçom olhou ao redor e notou que ela estava sozinha.

— Pode deixar aqui mesmo, obrigada. — Disse Catarina.

Ele acendeu as velas com cuidado e lhe entregou ainda um pequeno boneco, como brinde do restaurante.

Catarina fechou os olhos, fez um pedido silencioso. Ela desejou, do fundo do coração, que seu bebê pudesse nascer de novo em um lar onde fosse verdadeiramente amado pelos pais e tivesse a felicidade que ela nunca conseguiu sentir.

Depois de soprar as velas, provou uma fatia do bolo. Era doce na boca, mas com um gosto amargo que lhe arranhava o peito.

Logo em seguida, recebeu uma ligação do advogado avisando que os papéis do divórcio estavam prontos para ela assinar.

Ela não hesitou e foi até o escritório, leu tudo com atenção e assinou sem tremer. O advogado, que já não escondia mais sua curiosidade, comentou, meio confuso:

— Senhora, todo mundo sabe o quanto você amava o Sr. Félix, vocês até tiveram um filho... Por que se divorciar agora?

Catarina sorriu leve, como se aquele capítulo da vida já não a doesse mais.

— Pode me chamar de Catarina. Entre Félix e eu não existe mais nada. — Ela desviou do assunto, preferindo esclarecer outras coisas. — Dr. Celso, amanhã por favor entregue os papéis do divórcio diretamente ao Félix. Depois que ele assinar, me avise para que eu possa te passar o endereço e você me envie os documentos.

Celso ainda quis questionar:

— Catarina, o Sr. Félix já sabe disso mesmo? E se ele se recusar a assinar?

Catarina deu de ombros e riu baixo, quase zombando daquela possibilidade:

— Ele mal pode esperar para se livrar de mim. Se não quiser assinar, faço tantas vias quantas forem necessárias. Quando chegar a hora, você entrega todas de uma vez.

— Pode deixar. Vou cuidar de tudo pessoalmente.

— Obrigada.

Ao resolver tudo, Catarina voltou para casa. O silêncio parecia ainda maior do que antes. Félix não tinha retornado e nem daria as caras tão cedo. Sem perder tempo, começou a arrumar as malas. Vendo a movimentação incomum, uma empregada não hesitou em perguntar:

— Senhora, vai viajar assim de repente?

— Só uns dias fora, preciso espairecer.

Ela dizia pouco, sem dar detalhes, já certa de que as Maldivas seriam seu destino. Aquela promessa nunca cumprida por Félix, agora seria realizada por ela própria.

— O Sr. Félix está sabendo?

— Não precisa saber.

Roupa organizada, Catarina ainda preparou uma caixinha com todos os exames do pré-natal, ultrassonografias e até o prontuário do aborto. Aquela seria sua última lembrança deixada para Félix.

Por um breve instante, imaginou qual seria a reação dele ao receber aquilo. Ficaria arrependido, sofreria, sentiria culpa? Ou só indiferença? No fim, não importava. O que foi perdido, não tinha volta.

Ela entregou a caixa para a empregada, pedindo:

— Amanhã cedo, dá isso para o Félix.

A empregada hesitou, confusa:

— Senhora, por que não espera ele voltar e entrega pessoalmente?

Catarina sorriu, leve, mostrando alívio em cada gesto.

— Tchau.

Sem olhar para trás, Catarina embarcou no avião com destino às Maldivas. No momento que o avião decolou, ela sentiu um alívio quase impossível de definir, uma leveza que nunca havia experimentado antes na vida.

No fim das contas, descobrir que sair da vida de quem não te ama pode ser, enfim, a sensação mais libertadora e feliz do mundo.