####Capítulo 3

— Vocês estão falando bobagem. — Disse Theo, sem nem olhar para mim, com um ar de indiferença. — Suzana vai ser uma grande artista.

Ele não negou as insinuações dos outros, claramente queriam empurrar o casal. Mas, no fim das contas, eu é que era a mulher prestes a se casar com Theo.

Penso em como eu tinha sido paciente no passado, suportando por tanto tempo ver o homem que eu amava com os olhos e o coração voltados para outra mulher.

Suzana mordeu levemente o lábio, os olhos marejados como os de um cervo.

— Bruna, não escute essas besteiras, eles vivem brincando, por favor, não leve a sério, está bem? — Dizendo isso, ela me entregou uma caixinha delicadamente embrulhada. — Bruna, eu trouxe um presente para você, abre aí para ver se gosta?

Abri a caixa. Dentro, havia uma pulseira fina e delicada com pequenos rubis irregulares. Levantei os olhos e olhei para Suzana. Em seu pescoço, estava um colar de rubis, com um modelo requintado e luxuoso, claramente feito sob medida.

Fiquei perplexa. Até, que repente, me lembrei que aquele colar de rubis era o que Theo havia mandado fazer para mim.

Ele havia dito que queria que eu o usasse com o vestido de noiva ao caminhar até o altar pelo tapete vermelho no casamento. O rubi simbolizava a sinceridade do seu amor.

Na época da encomenda, o designer comentou comigo que, depois de lapidar a pedra principal, ainda sobrariam fragmentos, que poderiam ser usados para fazer outros acessórios menores, como uma pulseira.

E agora, o colar principal que deveria ser combinado com meu vestido de noiva estava no pescoço da Suzana, enquanto a pulseira feita com as sobras foi entregue a mim como presente.

Não consegui conter uma risada.

Os amigos de Theo, vendo meu riso, acharam que era por deslumbramento e me olharam com desdém.

— Que tipo de pessoa o Theo anda gostando? — Alguém cochichou.

— Suzana! Esse seu colar é maravilhoso! — Outro exclamou olhando para o colar luxuoso no pescoço dela.

Suzana tocou o colar, constrangida, e olhou com ternura para Theo.

— Foi o Theo que me deu. Ele disse que era um presente para comemorar meu retorno. E que, se minha exposição de arte for um sucesso, ele vai me dar um ainda melhor. — Respondeu.

— Uau, o Theo é mesmo generoso. — Comentei friamente ao lado. — A matéria-prima desse colar foi herdada da mãe da família Salles. Só o esboço levou quase seis meses para ser desenhado. A lapidação foi feita sob encomenda no exterior. Essa joia só é passada para a nora da família. Você deve significar muito para ele mesmo.

O ambiente ficou imediatamente silencioso. A expressão de Theo se tornou sombria.

Mesmo os mais desavisados entenderam o que estava acontecendo.

Se era uma herança exclusiva para a nora da família, então deveria ser dada a mim, a mulher que vai se casar com ele. Mas agora estava no pescoço da Suzana. O significado era óbvio.

Suzana se levantou trêmula, segurando o colar, sem saber se tirava ou deixava.

— Theo, me desculpa, eu... Eu não sabia que era da Bruna. Fui tão burra, nem pensei em perguntar... — Seus olhos se encheram de lágrimas.

Antes que ela terminasse de falar, as lágrimas escorreram feito pérolas rompidas do colar, tão delicadas que era difícil não se comover.

Ela tentou, com as mãos trêmulas, tirar o colar à força, mesmo que isso marcasse o pescoço. A pele dela que era branca ficou vermelha em pouco tempo.

— Theo, me ajuda a tirar, por favor... — A voz dela tremia, mal conseguia respirar.

Theo imediatamente segurou suas mãos.

— Já disse que é seu, então é seu. — Disse, comovido. — Para que tirar? Fica com ele, não escute o que ela falou.

Depois virou-se e me lançou um olhar furioso.

— É só um rubi! Você estudou medicina, está fazendo doutorado, mas ainda age como se isso fosse um tesouro! Com tanta gente presente, não tem vergonha de se expor assim? — Continuou. — Além disso, se é para a nora da família Salles, eu tenho o direito de decidir quem vai usar. Afinal, é minha futura esposa. Não venha achar que era seu só porque achava que ia se casar comigo. Se eu dei para Suzana, é porque ela merece mais. Está prestes a se tornar a Sra. Salles, e ainda fica implicando com besteira. O que mais você quer?

— Theo, obrigada. — Suzana sorriu entre lágrimas. — Na verdade, eu também acho que esse colar combina mais com o vestido da minha exposição. Tantos anos se passaram, mas você continua sendo a única pessoa que sabe exatamente do que eu gosto.