No dia seguinte, Ryan levou Maysa para conhecer um grupo de seus amigos mais próximos. Eles conversaram com ela de forma calorosa, mas Maysa não percebeu o leve tom de sarcasmo escondido nos olhares deles.
Afinal, como o grande herdeiro Ryan poderia realmente se apaixonar por um “patinho feio” pobre?
Todos assumiam que Ryan estava apenas se divertindo. Maysa, apesar de sua beleza, era simples e bondosa demais. Ela colocava seu coração puro e sincero à mostra, o que, na visão deles, tornava tudo muito previsível e, eventualmente, entediante.
Até mesmo Ryan pensava assim. Ele não acreditava que Maysa pudesse mudar algo em sua vida. Para ele, aquilo era temporário. Ele sabia que, no futuro, teria que viajar frequentemente para o exterior, e a relação com Maysa seria apenas um encontro ocasional.
Quando disse que a amava, Ryan achou que fosse apenas o impacto de um momento de alívio pós-crise. Uma ilusão passageira.
Mas o que ele não esperava era que, diante do amor genuíno de Maysa, ele não conseguiria dizer as palavras “vamos terminar”. Em vez disso, ele permaneceu ao seu lado, e o relacionamento, que ele achou que duraria pouco, acabou se prolongando por anos.
Maysa nunca quis seu dinheiro, apenas seu amor.
No último ano da faculdade, Ryan começou a assumir as responsabilidades do Grupo Dantas, enquanto Maysa conciliava sua preparação para o mestrado com a rotina de morar com ele e cuidar de suas necessidades.
Na universidade, todos sabiam que Maysa tinha um namorado rico e influente. Mas ninguém a via como uma interesseira. Pelo contrário, mesmo sendo conhecida por sua origem humilde, ela conquistava a admiração de todos.
Maysa era sincera, dedicada e brilhante nos estudos. Os rapazes a viam como uma musa inalcançável, enquanto as moças a admiravam como um exemplo. Ela era uma mulher tão incrível que, para muitos, parecia que eram os homens ricos que estavam tentando “subir na vida” ao namorar com ela.
Mas a vida de Maysa sofreu um golpe devastador quando recebeu a notícia da doença de sua mãe. O câncer no pâncreas a consumia de maneira cruel, deixando-a pálida e magra, uma sombra do que já fora. Cada olhar para o rosto sofrido da mãe fazia o coração de Maysa doer como se fosse rasgado em pedaços.
Naquela noite, sem saber o que fazer, ela ligou para Ryan pela primeira vez pedindo ajuda financeira.
— Ryan, você pode... Me emprestar cem mil reais?
Naquele momento, Ryan estava bebendo em um bar com amigos. Claro, ele havia dito a Maysa que estava em uma reunião de negócios.
Ao ouvir o pedido, o olhar de Ryan ficou frio.
— Pra quê você precisa?
— Se possível... — Maysa, que raramente demonstrava fraqueza, parecia hesitante. Era essa dignidade que sempre o atraíra. — Eu estou precisando com urgência...
Antes que ela pudesse terminar, Ryan a interrompeu com uma voz gelada:
— A gente fala sobre isso amanhã. Agora não estou disponível.
E desligou.
O coração de Maysa parecia ter caído em um abismo gelado. Pela primeira vez, ela havia engolido seu orgulho para pedir ajuda, e essa foi a resposta de Ryan...
Não, talvez ele realmente estivesse ocupado. Talvez não fosse o momento certo para falar de dinheiro. Maysa tentou se convencer disso, agarrando-se a qualquer desculpa para justificar a atitude dele.
Enquanto ela ainda segurava o celular, uma segunda ligação chegou. Era a voz de uma garota, uma colega da universidade.
— Maysa, seu namorado está no bar se divertindo. Eu e minhas amigas vimos ele. Não deixa ele te enganar!
Foi como se uma mão estendida por outra mulher a tivesse puxado do fundo do poço.
Maysa foi até o bar e encontrou o camarote onde Ryan estava. Antes mesmo de entrar, ouviu risadas altas e descontroladas vindas de dentro. Eram Ryan e seus amigos.
Ele sempre fora assim: impiedoso, rebelde, alguém que vivia como se o mundo inteiro não importasse.
— Sua esposa não vai ficar brava se souber disso? — Perguntou um dos amigos.
— Esposa? Eu nunca vou me casar com ela. Só namorar com a Maysa já é um sacrifício.
— Deixa disso. Ela é linda. Na faculdade, tem um monte de cara que quer ficar com ela. Você deveria dar mais valor.
— E daí que tem um monte de idiota atrás dela? Aqueles fracassados não chegam nem perto de mim. Nem perco tempo pensando nisso. Maysa é muito certinha. Eu fui o primeiro homem dela. Tudo o que eu mando ela fazer na cama, ela faz.
A voz de Ryan estava cheia de arrogância. Ele sabia que o vínculo físico entre eles era intenso, e seus desejos mais obscuros eram satisfeitos por ela sem resistência.
— Então você é praticamente um imperador, hein? — Provocou outro amigo, rindo.
— Exatamente. — Ryan respondeu, seus olhos brilhando de maneira estranha, como se ninguém pudesse distinguir se ele estava falando sério ou apenas brincando.
— Se ela é tão boa pra você, você não tem medo de machucá-la desse jeito?
— Boa? Quem sabe o motivo dela estar comigo? — Ryan soltou uma risada fria. Ele se lembrou da ligação de mais cedo. — Ela acabou de me ligar pedindo dinheiro.
Os amigos começaram a rir e a zombar.
— Interesseira? Maysa não parece ser do tipo.
— Ela é boa atriz. Passou cinco anos fingindo ser honesta e agora mostrou as garras. Deve estar planejando dar o golpe, uma “musa do golpe de luxo”.
— Ryan, ela está claramente atrás do seu dinheiro. Quanto ela pediu? Aposto que não foi pouco. Isso é praticamente o mesmo que... Vender o corpo.
Enquanto ouvia os outros rebaixarem Maysa, Ryan franziu a testa, incomodado de forma quase imperceptível.
— Não me diga que você está apaixonado e não consegue se separar dela. — Um dos amigos deu um tapa no ombro de Ryan, e ele finalmente voltou à realidade.
— Apaixonado? — Ryan riu com desdém. — No ensino médio, eu fingi ser sincero e a persegui por um bom tempo. Naquela época, ela me rejeitava, e isso era divertido. Quando consegui conquistá-la e levá-la para a cama, perdeu a graça. Já estava pensando em como terminar.
Do lado de fora, Maysa mal conseguiu ouvir o restante da conversa. As palavras que havia captado eram mais do que suficientes para destruí-la. Era como se uma verdade cruel tivesse explodido em sua mente, arrancando-a de uma ilusão onde vivera nos últimos anos.
Uma bela fantasia, mas carregada de destruição.
Se sua mãe não estivesse gravemente doente, se ela não estivesse completamente sem saída, jamais teria engolido o orgulho para pedir ajuda a Ryan...
Maysa não entrou na sala. Ela sabia que, se confrontasse Ryan ali, só conseguiria se humilhar ainda mais. Em vez disso, ela encostou-se na parede do corredor, escorregando lentamente até se agachar no chão. Lágrimas escorreram pelo seu rosto, quentes e silenciosas.
Enquanto isso, no camarote, um dos amigos de Ryan, já embriagado, disse com a língua enrolada:
— Cara, se você terminar com ela, deixa que eu fico com a Maysa. Sempre quis experimentar.
O rosto de Ryan endureceu imediatamente. Sem dizer uma palavra, ele pegou uma garrafa e a lançou com força no chão, fazendo o vidro estilhaçar aos pés do homem. Apesar do sorriso despreocupado que ainda mantinha nos lábios, sua voz carregava um tom gelado:
— Cai fora.
— Desculpa, Ryan, desculpa. Foi só brincadeira. Eu jamais me atreveria a pensar na Maysa...
Maysa não ouviu nada disso. Naquele momento, uma mulher alta e elegante se aproximou do corredor. Com joias brilhantes e um ar de sofisticação que exalava riqueza, ela parecia nunca ter enfrentado nenhuma dificuldade na vida. Ao ver Maysa agachada no chão, a mulher pensou que fosse uma funcionária exausta e se abaixou para ajudá-la a se levantar.
— Ei, o que aconteceu? Não chore. — A voz da mulher era suave, mas carregava uma superioridade natural.
Maysa tentou parar de chorar, mas não conseguiu.
— Eu estou aqui para ver o Ryan. Ele está lá dentro? — A mulher finalmente notou o rosto de Maysa e estreitou os olhos por um breve momento, como se estivesse se lembrando de algo.
Em seguida, ela sorriu com um ar gentil:
— Uma moça tão bonita como você não deveria ficar chorando assim.
Maysa recuou alguns passos, tentando buscar ar.
— Desculpe, eu...
— Ryan está lá dentro? — Insistiu a mulher. — Sou a noiva dele. Vim buscá-lo.
Maysa levantou a cabeça de repente, sentindo como se tivesse sido atingida por mil flechas ao mesmo tempo.
Ela abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Depois de alguns segundos de silêncio, respondeu com um fio de voz rouca:
— Ele está lá dentro... Todos estão. Eu vou pegar alguns copos para vocês.
A mulher sorriu satisfeita, deu um tapinha amigável no ombro de Maysa e entrou no camarote. Lá dentro, risadas e exclamações ecoaram.
— Olha só, Ryan! Quem veio te buscar? A princesinha! O que faz aqui a essa hora?
— Você está saindo para farrear com meu noivo? Vamos ter que acertar as contas depois.
— Não seja tão ciumenta, princesa. Depois do casamento, ele será todo seu. Não pode deixar ele se divertir um pouco antes?
As vozes dos amigos de Ryan enchiam o ambiente, mas o que ele dizia era difícil de distinguir.
Casamento…
Eles iam se casar. Eles, com seus mundos perfeitos e alinhados. E ela? E a mulher que havia dado tudo de si por ele?
Maysa fingiu ser uma funcionária e saiu correndo pelo corredor. Ela correu até chegar à rua, onde o vento frio da noite parecia perfurar sua alma. As lágrimas caíam livremente enquanto seu coração parecia ser comprimido e rasgado ao mesmo tempo, como se fosse morrer.
Ryan gostava de pedir que ela desempenhasse papéis durante a intimidade. Ele tinha desejos extremos e obsessões que beiravam o insano. Maysa sempre colaborava, suportava, amava.
Mas naquela noite, ela finalmente entendeu. Durante todo o relacionamento, ela não passava de uma personagem. A funcionária.
Na relação que ela acreditava ser profunda e significativa, Maysa agora via que havia apenas servido a ele, como um brinquedo, como uma empregada.
Uma tempestade chamada verdade a atingiu sem aviso, destruindo tudo que ela conhecia. E, naquele momento, ela compreendeu as palavras que nunca tinham feito tanto sentido: “Quando você atravessa uma tempestade, nunca sai do outro lado sendo a mesma pessoa.”
Maysa voltou para casa sozinha, desolada. Não contou a Ryan que havia ido ao bar, nem mencionou o que tinha ouvido. Ela também decidiu que nunca mais pediria nada a ele. Não era só dinheiro que ela havia pedido. Era sua dignidade, e a resposta dele foi como um tapa em seu rosto.
Ela parou de procurá-lo. E Ryan, satisfeito com a desculpa de que ela estava ocupada, usou isso como pretexto para cortar o contato. Uma semana depois, ele, fingindo frieza, sugeriu o término.
“Uhum” foi tudo o que Maysa respondeu.
Só isso? Ryan olhou para a mensagem com as sobrancelhas franzidas.
Ela não deveria estar chorando, implorando? Maysa era completamente apaixonada por ele. Como podia reagir com tanta calma?
E então ele percebeu que, em questão de segundos, ela já havia bloqueado seu número no WhatsApp.
A sala de Ryan ficou em silêncio. Ele engoliu em seco, os músculos da mandíbula se contraindo.
“Essa mulher... Está querendo me provocar?”
Ele riu, mas o sorriso era frio.
“Ela está brincando com fogo.”
Ryan não conseguia acreditar que ela tivesse coragem de virar as costas para ele. Afinal, ele era Ryan Dantas. Acreditava que Maysa, com toda sua dignidade de “intelectual”, jamais suportaria a queda.
Ele pensou que ela estava apenas fazendo birra. E assim, o bloqueio durou um ano inteiro.
Ryan nunca admitiria para si mesmo, mas passou todo esse tempo acreditando que Maysa ainda estava fingindo. Até que, um mês atrás, veio a notícia.
Heitor Loureiro, o infame herdeiro da família Loureiro, havia se casado.
— Nenhuma herdeira de respeito toparia casar com ele. — Comentou um amigo de Ryan. — Ele é um canalha, vive se envolvendo em escândalos. Ouvi dizer que ele até precisa tomar remédio pra... Bem, você sabe.
Ryan não conteve a curiosidade:
— Quem foi a alma caridosa que aceitou esse lixo?
— Uma mulher de fora do círculo, claro. Ele precisava de uma esposa que quisesse dinheiro, e ela precisava de estabilidade. Parece que ela é formada em uma universidade de prestígio, ganha até bolsa de estudos. Deve ter sido para melhorar os genes da família Loureiro.
O coração de Ryan deu um salto.
— Qual o nome dela? Eles já registraram o casamento?
— Sim, registraram ontem. O nome dela é Maysa. Estranho, não? Parece familiar.
O copo na mão de Ryan caiu no chão, espatifando-se em mil pedaços.