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Gêmeos do Silêncio: Minha Dor, Sua Indiferença
Gêmeos do Silêncio: Minha Dor, Sua Indiferença
Author: Peixinha

Capítulo 0001

Author: Peixinha
— Por que a Joyce, aquela ciumenta, parou de gritar? — Indagou Francisco, casualmente.

— Senhor... Será que ocorreu alguma coisa com a senhora? Ontem à noite, ela gritava de um jeito tão desesperador, parecia estar passando por uma dor horrível... — Respondeu o mordomo.

Francisco tomou uma colherada do mingau, soltando um resmungo indiferente, como se nem se importasse:

— Ninguém conhece a Joyce melhor do que eu. Isso tudo é só teatro! Dessa vez, ela vai aprender uma lição, assim para de mexer com a Rafa.

Inquieto, o mordomo lançou um olhar apreensivo na direção do sótão antes de falar, visivelmente hesitante:

— Mas, senhor, a senhora está esperando gêmeos... O médico recomendou internação o quanto antes, para aguardar o parto...

Por um instante, Francisco parou, a colher suspensa no ar, o rosto tomando um ar de leve desconforto.

— É mesmo? — Ele ficou girando a colher dentro da tigela, as sobrancelhas franzidas, com expressão de dúvida. — Tudo bem, diz para a Joyce vir aqui preparar outro mingau para mim. Depois disso, quero que peça desculpas para Rafa! Hoje é o dia previsto para o parto, se o pedido de desculpas for sincero, eu mesmo levo ela ao hospital.

Dizendo isso, Francisco aqueceu um copo de leite e foi até o quarto de hóspedes.

Na cama, Rafaela dormia profundamente, com aquela respiração calma que tomava todo o ambiente e trazia certa paz. O cobertor tinha escorregado, deixando à mostra parte dos seus seios e sugerindo, de um jeito sutil, o encanto do seu corpo.

Francisco não conseguiu evitar engolir em seco. Por alguns segundos, ele ficou apenas olhando Rafaela, até finalmente desviar o olhar à força. Aproximou-se devagar e pousou um beijo carinhoso em seus lábios.

Rafaela abriu os olhos devagar, se espreguiçando como um gato preguiçoso, fazendo bico e reclamando em tom de brincadeira:

— Chico, você me provocando de novo?

Ele ajeitou Rafaela em seu colo, seus dedos passeando suavemente pela cintura dela.

— Dormindo assim, como eu resisto?

Rafaela escondeu o rosto no peito de Francisco, soltando um gemido confortável.

— Mas a Joyce está esperando seu filho, com tanto sacrifício... Eu sou mulher também, não aguentaria ver você traindo ela num momento tão delicado da vida dela! — De repente, como se lembrasse de algo, Rafaela ficou aflita. — Ontem à noite, a Joyce gritava daquele jeito... Será que ela já começou o trabalho de parto? Sinceramente, mesmo ouvindo o sofrimento dela, eu admito que sinto inveja, sabe? Gerar um filho seu, sentir a dor do parto... Para mim, isso seria uma felicidade doce, mesmo doendo tanto.

Felicidade doce?

Naquele momento, eu não era mais do que um espírito vagando ao redor deles.

O chão do sótão estava todo tomado pelo vermelho do sangue, manchando cada canto daquele espaço.

Nas paredes, marcas profundas, deixadas pelas minhas unhas, que foram arrancando carne enquanto eu era consumida por uma dor indescritível, eram a única prova do meu desespero.
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