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Capítulo 7

Author: Perara
Nós quatro estávamos parados em um lugar. Talvez fosse porque Dante chamava muita atenção, mas ele acabou atraindo vários olhares curiosos.

Eu me senti um pouco desconfortável sendo observada. Quando olhei para Liz, a garota estava encarando Dante com um olhar cheio de admiração, muito mais tranquila do que eu. Eu sabia que aquilo era a confiança de quem se sentia amada.

— Dante disse que já está quase na hora do almoço. — Disse Liz, com a voz animada e um toque de ingenuidade juvenil. — Ele quer me convidar para comer no refeitório do hospital.

Bento me lançou um olhar confuso, depois olhou para Liz, que estava ao lado de Dante, e disse:

— Dr. Dante, não vai nos apresentar essa garota?

Dante respondeu de forma direta:

— Liz, minha colega mais jovem da faculdade de medicina.

Liz piscou seus olhos grandes e brilhantes, quase como os de um cervo, e olhou para o crachá de Bento.

— Dr. Bento, é um prazer conhecê-lo. Espero que possamos trabalhar bem juntos.

Bento assentiu enquanto dava um sorriso meio sem graça, mas seus olhos frequentemente se voltavam para mim, cheios de um tipo de compaixão que quase transbordava.

— Quezia, quer almoçar com a gente? — Liz perguntou, me olhando com sinceridade antes de se virar para Dante. — Mais tarde, o Dante vai me mostrar todo o Hospital Dona Presidente. Você também poderia vir com a gente.

O respeito nos olhos dela era claro, mas aquele tipo de admiração, por algum motivo, me machucava. Eles se conheciam há apenas um mês, enquanto eu, como esposa de Dante, já estava ao lado dele há três anos. Mesmo assim, ele nunca me deixou nem sequer entrar no setor de neurocirurgia, muito menos explorar todo o Hospital Dona Presidente.

— Não, obrigada. — Recusei sem hesitar, lançando um olhar para Dante antes de continuar. — Além disso, já conheço o Hospital Dona Presidente como a palma da minha mão.

Depois de dizer isso, me virei e saí.

Claro, aquilo não era um exagero. Durante os últimos três anos, além da faculdade e da nossa casa, o lugar onde mais passei tempo foi o Hospital Dona Presidente.

Na época em que eu ia ao hospital quase dia sim, dia não, aprendi exatamente onde ficavam os departamentos do primeiro ao quinto andar, para que lado estavam os laboratórios e os diagnósticos por imagem, quanto tempo levava para ir do ambulatório à ala de internação, e até os horários em que os elevadores ficavam mais lotados.

Eu imaginava que, um dia, se Dante mencionasse casualmente algum detalhe sobre o hospital, eu conseguiria responder de forma fluida, sem criar um momento constrangedor.

Mas o mais irônico é que, enquanto eu sempre pensava em como ser uma boa esposa, esquecia que o nosso casamento era apenas um acordo.

Quando cheguei ao cruzamento, Bento apareceu correndo atrás de mim:

— Com esse tempo chuvoso, vai ser difícil conseguir um táxi. Que tal eu te levar?

Ele segurava um guarda-chuva masculino longo e o abriu sobre minha cabeça de forma natural. Talvez por ter corrido, sua respiração estava um pouco descompassada.

— Obrigada, mas não precisa. — Respondi.

Eu já conhecia de cor a rota de metrô para voltar para casa.

— O resultado da prova escrita vai sair amanhã no site oficial. — Bento lembrou com paciência. — Tome cuidado no trajeto.

Depois de dizer isso, ele deixou o guarda-chuva nas minhas mãos e rapidamente se virou para ir embora.

Olhei para o guarda-chuva nas minhas mãos, e meus olhos ficaram instantaneamente marejados. Veja só, mesmo um amigo que me conhecia há menos de um ano era mais atencioso do que Dante.

Com o guarda-chuva em mãos, voltei para o laboratório da faculdade.

Bento estava certo. A prova escrita não tinha sido muito difícil, mas o que realmente faria diferença seria a entrevista que viria depois.

Eu precisava me preparar. Acabei me ocupando tanto que nem percebi o tempo passar. Foi só quando o celular vibrou que minha concentração foi interrompida. Era minha mãe ligando.

— Mandei o endereço para o seu celular. Vamos jantar juntas.

Antes que eu pudesse responder, ela desligou.

O lugar era um restaurante sofisticado de culinária autoral. Olhei o endereço por um momento antes de sair.

Meia hora depois, um garçom me levou até uma sala privativa. Laura, bem vestida e com cílios novos, ergueu levemente o olhar e reclamou:

— Mandei várias mensagens e você não respondeu. Está tão ocupada assim?

O cheiro forte do perfume dela invadiu meu nariz. Fui direta:

— O que é tão urgente?

— Comprei isso para você durante o dia. — Laura me entregou uma sacola preta. — Experimente esta noite.

Peguei a sacola com curiosidade e, ao olhar dentro, não contive um sorriso irônico. Era um conjunto de lingerie preta e provocante.

— Homens, não importa o quão sérios pareçam, sempre gostam dessas coisas na cama. — Laura disse, sem perceber meu desconforto. — E você está no seu período fértil, não está? Aproveitem.

Um sentimento de humilhação tomou conta de mim. Endireitei a postura e disse com seriedade:

— Mãe, eu não pretendo ter filhos.

Assim que terminei de falar, uma das mãos de Laura, que segurava um camarão, parou no ar e, em seguida, deixou o crustáceo cair no prato. Depois de alguns segundos de silêncio, ela se levantou com um sorriso nos lábios e olhou para alguém atrás de mim:

— Dante chegou!

Virei-me e, de fato, vi Dante parado na porta. Laura o havia convidado também.
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