Share

Capítulo 3

Author: 258w
As palavras de Leonardo pareciam um eco do que Gabriel tinha dito há pouco. Olhei para o meu irmão, o único laço de sangue que me restava nesse mundo, e tudo aquilo só me pareceu ainda mais irônico.

Três anos atrás, aquele projeto não era grande coisa, mas, para uma empresa jovem, era uma chance rara, já que o Grupo Duarte e o Grupo Nogueira estavam juntos tocando o negócio. Achei que, por ter o contato direto, conseguiria aproveitar a oportunidade e pedi ao Leonardo pelo projeto. Ele foi direto e negou. Quando Gabriel soube, não ficou atrás. Ele veio logo me dar um sermão.

Os dois me disseram que seria injusto com as pequenas empresas, que estavam tentando começar do zero.

O que nunca fez sentido para mim, porque todo mundo sabia que no mundo dos negócios, vencia quem sabia usar o que tinha ao alcance. Se eu tinha capacidade e contatos, por que não usar? Só fui entender depois. Eles só queriam ajudar Clara, que também estava na disputa.

Eles me impediram de usar meus contatos, mas logo depois enviaram equipes inteiras para ajudar Clara a montar o projeto dela, como se ninguém fosse perceber. No final das contas, quando eu estava quase ganhando, os dois, como jurados, deram o voto decisivo para ela, mudando tudo de última hora.

Quando fui tirar satisfação, vieram cheios de discurso:

— Você não pode ser mais empática? Você tem as famílias Duarte e Nogueira como garantia, enquanto para Clara é a única chance dela, tem que dar uma força para ela.

Naquela vida, nunca engoli essa história. Escancarei tudo publicamente e fiz Clara perder o projeto na época. Depois disso, virei o alvo dela, e a briga não acabou mais.

A vingança não demorou, pois Leonardo e Gabriel juntaram forças para acabar com a minha empresa, me levando à falência antes mesmo de Clara ter qualquer problema. E quando eu estava atolada em dívidas, os dois, os que teoricamente mais deveriam estar do meu lado, só ficaram lá, com ela, assistindo minha queda, fazendo piada.

Naquela noite, após perder tudo, desmaiei de tanta chuva, e, quando abri os olhos, voltei para licitação de três anos atrás.

Ver Leonardo e Gabriel tramando de novo o golpe na cara dura para Clara só serviu para apagar o último pingo de esperança dentro de mim.

Fechei minha empresa e fui embora do país de uma vez, bem na noite em que eles levantaram um brinde para Clara. Nos três anos seguintes, ninguém sequer tentou entrar em contato comigo.

E aí, bastou eu voltar, para Cidade S, para eles ficarem de prontidão, cheios de medo de que eu, de alguma forma, pudesse machucar a queridinha deles.

Vivendo duas vidas, ainda assim era impossível não fissurar o peito.

Meus olhos ficaram marejados quando encarei Leonardo, repetindo, palavra por palavra, o que ouvi dele na primeira licitação:

— Não estou aqui pela família Duarte. Você não tem o direito de me tirar dessa concorrência.

Mal terminei de falar, me desvencilhei do braço dele e tentei sair, só que dois seguranças apareceram do nada e bloquearam a passagem.

Olhei para Leonardo, que mantinha aquela frieza de sempre.

— Se a Clara conseguir esse projeto, a empresa dela pode abrir capital dois anos antes do normal. Não vou deixar que você atrapalhe isso.

Se o responsável da empresa não estava presente, era como desistir da disputa. O projeto automaticamente passava para o próximo da fila.

Depois de três anos ajudando a Clara, ele ainda não confiava nela o suficiente nem para deixar a disputa seguir sem apelar.

E pensar que foi por causa de gente desse tipo que perdi quem mais confiava em mim... Era tragicômico.

Por um instante, quase perguntei ao Leonardo o que ele enxergava na Clara, mas, sinceramente, percebi que resposta nenhuma faria diferença.

Nosso abismo era tão fundo que nada consertaria mais.

— Leonardo, sério que está achando que dois brutamontes vão dar conta de mim? — Eu disse com frieza.

Ele olhou para mim, franzindo as sobrancelhas.

— O quê? O que quer dizer com isso?

Soltei um riso seco, fui andando na direção dos seguranças.

— Segurem ela. — Ordenou Leonardo.

Eles deram uns passos pesados para cima de mim, achando que iam me pegar fácil. Mas, quando vieram para o ataque, joguei o corpo para frente, me esquivei e fui direto nas axilas expostas. Os caras até tentaram travar meu pulso, mas puxei rápido, empinei o tronco e, em um só movimento, acertei o peito de cada um com o cotovelo. Os dois deram um passo para trás, cambaleando, e, enquanto isso, passei por trás deles, aproveitando o desequilíbrio para me livrar. Antes de avançarem outra vez, dei um passo para trás e fiquei onde a câmera de segurança podia me ver claramente.

— Parem! — Leonardo gritou, correndo para segurar os seguranças. Quando olhou para mim, não conseguiu disfarçar a surpresa. — Desde quando você ficou assim, tão forte?

Não falei nada, só troquei um olhar e fui andando direto para sala da licitação.

Pois é. Quem diria, não é?

Morar fora nunca foi fácil. Segurança? Esquece. Quase todo mês passei por tentativa de assalto. Se não tivesse aprendido a me defender, já tinha virado estatística há muito tempo.

Isso tudo porque, na minha vida passada, meu próprio irmão e ex-noivo se uniram para jogar a vida fora por causa daquela "amiga". Ficaram lá, do lado dela, só assistindo meu fracasso, debochando enquanto ela vencia.

— Lorena, olha para você! Igual a um cachorro abandonado!

Na última vez que fechei os olhos, estava tudo acabado. Quando acordei, era de novo o auditório da licitação de três anos atrás.

Naquela época, minha empresa ainda era pequena. Meu irmão e noivo fingiam se importar com ética, dizendo que eu não devia usar as conexões das famílias Duarte e Nogueira. Porém, pelas costas, davam o melhor projeto para "minha amiga" só para vê-la sorrindo feliz.

Quando finalmente entrei, Clara estava encerrando a apresentação.

Eu sentei perto do Gabriel, que, assim que me viu, não perdeu tempo em sussurrar, debochado:

— Não acredito que seu irmão foi tão inútil a ponto de deixar você entrar aqui.

Ele apontou com o queixo para o palco, com aquele olhar mole de quem estava apaixonadinho.

— Está vendo? Se não fosse para entregar o projeto na mão da Clara, você acha que o Grupo Saluena ia chamar ela para discursar? Já que entrou, fique bem quieta aí. Se atrapalhar a Clara, não reclame quando eu perder a paciência.

Logo depois, Leonardo também entrou.

Quando percebi que todo mundo estava reunido, dei um pequeno sorriso e acenei discretamente para um canto.

No momento em que Clara terminou de falar e se preparava para sair do palco, o apresentador subiu rápido e manteve ela ali em cima.

— Imagino que todos aqui conheçam a senhorita Clara, uma das jovens mais fora de comum do mercado da Cidade S. Em só três anos, conseguiu construir tudo do zero...
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Irmão Arrependido e Noivo de Joelhos: Minha Doce Vingança   Capítulo 8

    Quando a Clara tentou abrir a boca para falar qualquer coisa, não consegui segurar uma risadinha debochada.— Ah, fala sério, Clara. Você achou mesmo que ele ia te tirar daqui?Leonardo, já perto da porta, chegou a hesitar, mas no fim não fez nada.Quanto ao Gabriel, desde que soube do fracasso do Grupo Nogueira, saiu correndo feito um desesperado, largando tudo para trás.Na vida passada, foi ele quem me deixou na lama. Dessa vez, fui eu quem pôs um fim no Grupo Nogueira. Minha vingança já estava mais do que pagava.Quem nasceu e cresceu acostumado com a vida feita e perdeu o colchão do Grupo Nogueira ia sentir na pele como podia ser difícil encarar a vida sem grana e, sinceramente, isso já era punição suficiente. Eu não precisava fazer mais nada para completar o serviço.No salão, só restamos eu, Renato e Clara.Tentando fazer pose, ela se sentou meio afastada e tentava parecer forte, mas a voz tremia quando retrucou:— Nem pensa que venceu, tá? Aqui é um estado de Direito. Se você t

  • Irmão Arrependido e Noivo de Joelhos: Minha Doce Vingança   Capítulo 7

    Eu estava ali, encarando Leonardo completamente fora de si, e sentia aquele gosto amargo tomando conta da boca.Na real, ele já foi alguém bom para mim, sim. Por muito tempo eu me enganei pensando que ele só estava passando por uma fase ruim. Mesmo após ter me apunhalado várias vezes por causa da Clara, eu ainda achava que era só questão de esperar, que ele ia voltar a ser o que era. Só fui cair na real no meio daquela tempestade, tarde demais.Depois que pedi para o apresentador tirar todo mundo que não tinha nada a ver dali, cheguei mais perto do Leonardo e fui direto ao ponto:— Você está de olho nos 20% das ações, né?Assim que ele congelou sem reação, fechei a mão e continuei, meio cansada:— Sempre achei estranho... Passamos a vida juntos. Tudo bem que você já gostava de outra pessoa, mas não precisava mudar comigo assim, do nada. Não faz sentido.Um riso sem graça escapou com as lágrimas e acrescentei:— Quanto mais eu pensava, mais tudo se encaixava. O Gabriel sempre foi cara d

  • Irmão Arrependido e Noivo de Joelhos: Minha Doce Vingança   Capítulo 6

    Enquanto o clima ainda era tenso, os integrantes do júri daquela seleção de projetos de três anos atrás começaram a entrar. E, curiosamente, todos eram do Grupo Nogueira.Renato não perdeu tempo e, com aquela calma de sempre, virou-se para Gabriel para conferir:— E aí, conhece esse pessoal ou vai fingir que nem sabe quem são?Gabriel empalideceu. Ele até tentou fazer de conta que nada estava acontecendo, mas não teve coragem de negar.Renato sorriu, satisfeito de ver a máscara caindo, e acrescentou:— Então, será que agora pode contar de boa para galera quem foi que quis passar por cima dos outros lá atrás, ou vai continuar bancando o inocente?Gabriel ficou em silêncio. Aproveitei para dar uma cutucada, sem perder tempo:— Ué, Sr. Gabriel, não era você quem vivia espalhando por aí que fui eu quem se aproveitou? Agora ficou sem palavras?Como ele não queria comprar briga com Renato, acabou sobrando tudo para mim na resposta dele. Veio com aquele papo, meio bravinho:— Leonardo é seu i

  • Irmão Arrependido e Noivo de Joelhos: Minha Doce Vingança   Capítulo 5

    No meio de todo mundo, Leonardo foi abrindo caminho pelo salão até chegar bem na minha frente. Sem pensar duas vezes, levantou a mão, pronto para me dar um tapa.Dei um passo para o lado e escapei. O olhar dele era puro desgosto, frustrado por eu não seguir o roteiro que ele esperava.— Lorena, não já falei mil vezes? Você pode ser da família Duarte, mas se quer empreender, não tem que ficar usando o nome da família para conseguir as coisas. Todo mundo suando para arrumar lugar, correndo atrás de proposta, aí você chega só dizendo que é da família Duarte e pronto, pega o projeto. Acha mesmo certo com as outras empresas?Olhei de canto para Clara, pálida no canto da cadeira, e soltei, meio debochada:— Então, Leonardo, diz aí... Você está defendendo o pessoal todo ou está só passando pano para Clara?Ele deu uma travada, mas logo voltou para o discurso de sempre:— Não muda de assunto, Lorena! A Clara está se matando por esse projeto faz dias. E você? Vai querer se comparar com ela em q

  • Irmão Arrependido e Noivo de Joelhos: Minha Doce Vingança   Capítulo 4

    Depois de uma sequência de elogios, o apresentador de repente mudou a expressão e virou o discurso, dizendo de forma solene:— Para demonstrar o compromisso do Grupo Saluena em investir na Cidade S e promover uma relação de cooperação e benefício mútuo com todos os colegas do mercado, não apenas convidamos a senhorita Clara para subir ao palco e discursar, como também solicitamos que ela, representando a empresa, anuncie oficialmente o resultado desta licitação.O sorriso seguro de Clara vacilou na hora. Ela puxou o apresentador de lado, sussurrando rapidamente algo no ouvido dele, claramente querendo entender melhor o que estava acontecendo.Logo, como se tivessem chegado a um consenso, ele lhe entregou um cartão e voltou ao microfone cheio de animação, anunciou:— Agora, convidamos a Srta. Clara para revelar qual empresa saiu vencedora desta disputa.Clara pegou o microfone e começou a ler. — Declaro que o projeto foi conquistado pelo Grupo Lorenato, tendo como proprietária a... Lor

  • Irmão Arrependido e Noivo de Joelhos: Minha Doce Vingança   Capítulo 3

    As palavras de Leonardo pareciam um eco do que Gabriel tinha dito há pouco. Olhei para o meu irmão, o único laço de sangue que me restava nesse mundo, e tudo aquilo só me pareceu ainda mais irônico.Três anos atrás, aquele projeto não era grande coisa, mas, para uma empresa jovem, era uma chance rara, já que o Grupo Duarte e o Grupo Nogueira estavam juntos tocando o negócio. Achei que, por ter o contato direto, conseguiria aproveitar a oportunidade e pedi ao Leonardo pelo projeto. Ele foi direto e negou. Quando Gabriel soube, não ficou atrás. Ele veio logo me dar um sermão.Os dois me disseram que seria injusto com as pequenas empresas, que estavam tentando começar do zero.O que nunca fez sentido para mim, porque todo mundo sabia que no mundo dos negócios, vencia quem sabia usar o que tinha ao alcance. Se eu tinha capacidade e contatos, por que não usar? Só fui entender depois. Eles só queriam ajudar Clara, que também estava na disputa.Eles me impediram de usar meus contatos, mas log

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status