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Lágrimas que Nascem em Flor
Lágrimas que Nascem em Flor
Author: Florzinha Nº 6

capítulo 1

Author: Florzinha Nº 6
Meu coração deu um salto, como se uma descarga elétrica tivesse atravessado meu peito. Fiquei parada, sem conseguir me mover.

— Hahaha! Gilberto jamais imaginaria que, enquanto disputa com o Lourenço nos negócios, tá sendo passado pra trás por ele. Lourenço armou direitinho aquele naufrágio, salvou a sobrinha querida do Gilberto e fez ela cair de amores por ele na hora.

— Estão juntos há anos, né? Quantas fotos picantes já tirou? Lourenço, quando é que você vai encerrar esse joguinho? Eu realmente quero ver como a princesinha da família Marques reage. Aliás, mais ainda: ver a expressão do Gilberto quando ele descobrir que a garotinha que ele estava protegendo está sendo tratada como um brinquedo!

Lourenço e os amigos riam alto, animados, completamente alheios ao fato de que havia alguém parado do lado de fora do elevador.

Cada palavra deles martelava na minha cabeça, rasgando minha sanidade como uma lâmina.

Lourenço...

Então aquele “resgate” foi tudo armado?

Nosso namoro... só fazia parte de um plano sujo contra meu tio?

— E aí, Lourenço, por que tá calado? Não foi você quem se aproximou da Ariadne porque o Gilberto roubou aquele terreno do Valthor? Foi só pra se vingar, né? Não vai me dizer que se apaixonou de verdade pela sobrinha dele?

— Apaixonado?

Aquele homem que, horas antes, me chamava de “meu amor” com tanta ternura, agora estava encostado na janela, brincando distraidamente com o isqueiro.

O canto da boca se ergueu num sorriso torto, carregado de escárnio:

— Gilberto é meu inimigo desde criança. Vocês sabem melhor do que ninguém o quanto ele ama aquela sobrinha. Me digam... qual seria o melhor momento pra divulgar aquelas fotos? Que tal... no dia da formatura da Ariadne? Aposto que ver a carinha do Gilberto, assistindo às imagens da menininha dele na cama, vai ser... inesquecível.

— Lourenço, você é genial! — Exclamou um dos amigos dele, seguido por uma gargalhada geral.

Eles riam alto, empolgados, como se comemorassem a jogada perfeita.

Minhas palmas suavam, o coração batia tão forte. Dei meia-volta e saí apressada, sentindo as lágrimas escorrerem silenciosamente sob as luzes de néon.

Aquela “dívida de vida” que eu pensava ter com ele, desde o início não passava de um jogo calculado.

Caminhei sem rumo pelas ruas, sem saber quanto tempo havia se passado, até que o vento frio secou as marcas das minhas lágrimas. Foi então que meu celular tocou — era meu tio.

— Ariadne, lembra da vinícola na França que te dei de presente no ano passado? Já está toda reformada. E tem mais, escolhi um noivo ideal pra você. Por favor, termina logo com esse seu atual. Você sabe que todos estamos preocupados com você aí em Solmaré. Nossa família está em Valthor. Eu já aceitei você ir pra uma cidade desconhecida estudar, mas casar com alguém daí? Nem pense nisso...

Assim que ouvi a voz dele, familiar e firme, as lágrimas voltaram com força.

Tentei me recompor, respirando fundo, e assenti levemente, mesmo sabendo que ele não podia me ver.

— Me desculpa, tio. Sei que fiz vocês se preocuparem esses anos. Pode ficar tranquilo. Depois da formatura, volto pra Valthor. E vou tentar conhecer a pessoa que você escolheu.

Do outro lado da linha, Gilberto respirou aliviado.

— Ariadne... você vai mesmo voltar pra casa? E vai conhecer o rapaz que escolhi? E o seu namorado? Aquele por quem você jurava que morreria de amor?

— Terminamos. — Respondi, em voz baixa.

— Até que enfim. Sempre achei que isso não ia dar certo. Ficaram juntos anos e ele nunca teve coragem de me encarar. Sempre soube que não era o cara certo pra você.

Diante das palavras firmes do meu tio, apenas abaixei os olhos e murmurei um sim, quase inaudível.

Conversamos mais um pouco antes de desligar. Ele se despediu a contragosto, e eu voltei pro meu apartamento.

Fui direto pro banheiro e tomei um banho quente. Queria lavar a dor, o cansaço, tudo.

Depois, tirei o calendário da parede e comecei a fazer planos.

Peguei uma caneta e escrevi: Organizar minhas coisas, arrumar as malas, pegar o diploma, me despedir dos colegas, apagar as fotos.

Fiquei olhando por muito tempo para a última linha. A mão tremeu ao segurar a caneta.

A cerimônia de formatura se aproximava, e eu precisava resolver tudo antes de partir.

Especialmente... deletar aquelas fotos.

Pensei nisso enquanto pegava uma caneta preta e circulava a data no calendário.
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