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capítulo 2

Penulis: Florzinha Nº 6
— Marcou com tanto cuidado, com medo de esquecer? — A porta do apartamento se abriu devagar. A voz de Lourenço soou suave, provocativa.

Minha mão parou no ar. A ponta da caneta deslizou no papel, deixando um risco preto e longo no calendário.

Ele lançou um olhar para o que eu segurava, e a curva de deboche se formou nos cantos de sua boca.

— A formatura da minha querida, como eu poderia esquecer? Preparei até uma surpresa especial pra você naquele dia.

Apertei o calendário entre os dedos, tentando controlar o tremor. Levantei os olhos e forcei um sorriso.

— Eu também preparei um presente especial pra você.

Lourenço arqueou as sobrancelhas, com um sorriso divertido:

— Um presente? Pra mim? Justo no seu dia?

Ergui o olhar, firme, com voz tranquila:

— Por que não? Não posso?

Ele soltou um riso baixo, relaxado, os olhos semicerrados com preguiça provocante:

— Pode sim, claro. Mas me diz, amor, o seu tio vem na cerimônia?

Dei um sorriso leve, sem alma:

— E você quer que ele venha?

— Com o temperamento do Gilberto? Se ele descobrir que o maior inimigo dele tá com a sobrinha querida, vai me socar na frente de todo mundo. Vai me deixar irreconhecível. — Disse em tom de brincadeira, como se aquilo tudo fosse apenas um jogo.

Fingi desinteresse, como se fosse um comentário qualquer:

— Pois ele acabou de me ligar. Disse que vai, sim.

Lourenço ergueu as sobrancelhas, e deu uma risadinha baixa, a voz rouca:

— Perfeito. Ótima oportunidade pra contar pra ele sobre a gente. Mesmo sendo meu inimigo, fazer o quê... ele é o tio da mulher que eu amo. Se ele me der uns tapas, fazer o quê, né? Paciência. Não seria vergonha nenhuma.

Senti meu coração apertar como se fosse esmagado por mãos invisíveis. O ar parecia mais pesado, e respirar, mais difícil.

Lourenço se aproximou, e seu hálito quente tocou meu ouvido.

Meu corpo se retesou no mesmo instante. Virei o rosto, desviando.

— Eu... estou cansada hoje.

Os lábios dele pararam por um segundo na altura do meu pescoço. Suspirou com leveza, e apenas me envolveu com um braço, abraçando-me por trás:

— Tudo bem, então descansa, minha princesa.

Fez um carinho nos meus cabelos e seguiu em direção ao banheiro.

No dia seguinte, acordei cedo e separei uma caixa de coisas velhas.

Relógios Patek Philippe, prendedores de gravata, abotoaduras, sapatos italianos...

Cada peça, um presente que escolhi pra ele ao longo dos anos com carinho e cuidado.

Cada objeto me trazia a imagem do sorriso dele — aquele sorriso meio irônico que dava sempre que recebia algo.

Na época, eu achava que aquilo era amor recíproco. Hoje, sei que era só ilusão minha.

Pensando nisso, peguei a caixa nos braços e desci as escadas.

Sem hesitar, joguei tudo — caixa, lembranças e passado — direto na lixeira de resíduos não recicláveis.

Quando Lourenço acordou, notou de imediato o vazio pela casa. Olhou em volta com o cenho franzido, a expressão levemente surpresa.

— Parece que tem coisa faltando aqui. Cadê meu barbeador? E os nossos copos de casal? Também sumiram...

Respondi com naturalidade, sem alterar o tom:

— Joguei fora.

Ele pressionou as têmporas com os dedos, um traço de confusão surgindo na voz:

— Por que jogou tudo assim, do nada?

Levantei os olhos e, com um olhar calmo, disse:

— Estavam ultrapassados. Depois a gente compra novos.

Lourenço não insistiu. Apenas murmurou um “tudo bem” e continuou:

— Faz uma lista do que precisa e manda pro meu assistente, ele cuida disso. Já são quase dez da manhã, quer que eu te leve até o trabalho?

Sorri, recusando com leveza:

— Não precisa. Pedi demissão hoje cedo.

Lourenço parou por um segundo, e me lançou um olhar curioso:

— Mas você não gostava daquele emprego? Eu te ofereci estágio na minha empresa e você não quis. Por que sair agora?

Esperei alguns segundos antes de responder, com voz baixa:

— A formatura está chegando. Quero focar nos estudos.

Os olhos dele brilharam com algo indecifrável. Deixou o que estava fazendo e me empurrou gentilmente até o sofá.

— Tudo bem. Depois da formatura, então, você vem trabalhar comigo. Eu quero...

Passou um braço pelos meus ombros, enquanto a outra mão brincava com meu lóbulo da orelha. A voz saiu baixa e envolvente:

— Quero poder te ver todos os dias. Toda hora.

Levantei de repente, escapando do toque.

— Já tá ficando tarde. Se você não sair logo, vai se atrasar.

Lourenço parecia prestes a responder, mas ao checar o relógio, apenas riu e deu um leve toque no meu centro da testa com o dedo.

Depois de ajustar a gravata, se dirigiu à porta. Antes de sair, ainda se virou:

— Ariadne, tenho um jantar de negócios hoje. Dorme sem mim, tá?

Não disse nada. Apenas o observei partir.

Quando a porta se fechou, voltei para o quarto. Passei toda a tarde limpando o que restava de “nós dois”. Cada item de casal foi jogado fora, um por um.

Meu peito pesava. O ar parecia mais denso, difícil de respirar.

Foi nesse instante que recebi uma mensagem de um número desconhecido.

[Hoje às 19h, Restaurante Nas Nuvens. Sou a noiva do Lourenço. Te espero lá. Não falte.]
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