Capítulo 4

— Nilda, você realmente é capaz de fazer qualquer coisa por esse restinho de orgulho que você chama de dignidade. Se você está tão desesperada para se casar, por que não escolhe logo um homem aqui e faz isso de uma vez? — Sugeriu Fernando, fingindo estar sendo gentil.

Mas eu sabia que ele fazia isso de propósito, só para me humilhar diante de todos.

No segundo seguinte, Fernando pegou o microfone e anunciou, com uma falsa animação:

— A Srta. Nilda está abrindo inscrições para casamento no local! Qualquer homem pode se inscrever. Se alguém aqui estiver interessado, podemos realizar a cerimônia agora mesmo. Alguém quer tentar? A Srta. Nilda é muito dedicada e apaixonada. Afinal, ela me perseguiu incansavelmente por anos!

Os convidados começaram a cochichar entre si, alguns até sacaram seus celulares para gravar e tirar fotos.

Eu senti meu rosto queimar enquanto mordia o lábio inferior, tomada pela humilhação. Sim, eu persegui Fernando por muitos anos, mas ele sempre aceitou minha dedicação, respondendo com palavras vagas e ambíguas. Repetidamente, ele pisoteou os meus sentimentos sem a menor consideração.

Uma brisa fria passou, e eu me senti gelada da cabeça aos pés, tanto no corpo quanto na alma. Para piorar, alguém no meio da plateia realmente levantou a mão, apoiando a ideia de Fernando e se oferecendo para casar comigo.

Fernando trouxe um homem ao palco. Ele aparentava ter uns quarenta ou cinquenta anos, mais velho que meu próprio pai. O sorriso dele era asqueroso, exibindo dentes amarelados.

— A Srta. Nilda é realmente linda, pele branquinha e muito charmosa. — Disse o homem.

Otávio e Simão aproveitaram a situação para me empurrar em direção ao sujeito, forçando-me a encará-lo.

Eu fiquei tão enojada que não consegui dizer uma palavra sequer.

Simão, percebendo minha resistência, debochou:

— Isso aqui não é mais rápido do que contratar um figurante para fingir ser seu noivo? Casa logo e para de envergonhar a família Penha!

Maia também entrou na conversa:

— Nilda, para de fazer drama. Nós escolhemos esse homem com muito cuidado para você. O que mais você quer?

Eu encarei aquele grupo de hipócritas, com os punhos cerrados de raiva:

— O meu casamento não é problema de vocês!

Então, me lembrei de algo importante. No dia anterior, eu tinha registrado meu casamento. Meu certificado de casamento estava na bolsa que eu havia trazido comigo.

Caminhei rapidamente até a mesa onde estava minha bolsa, peguei o documento e o abri. Com um movimento decidido, joguei o certificado na frente deles:

— Este é o meu certificado de casamento. Eu já disse, meu marido está a caminho. Ele só ainda não chegou.

Simão ficou paralisado por um instante, com uma expressão confusa. Mas logo depois ele começou a gargalhar, segurando a barriga de tanto rir:

— Nilda, você realmente leva suas encenações até o último detalhe! Você sabe quem é esse homem na foto? Você teve coragem de usar a imagem dele e fingir que é seu marido?

Fernando pegou o certificado para olhar. Os convidados ao redor começaram a rir também, sem qualquer pudor.

Fernando zombou:

— Onde você mandou fazer esse documento falso, Nilda? Nem se deram ao trabalho de editar a foto direito. Esse é o Sr. Ian, CEO do Grupo Valente. Ontem mesmo eu pedi uma reunião com ele para discutir uma parceria, mas ele recusou dizendo que estava ocupado porque tinha acabado de se casar e queria passar o tempo com a esposa. E agora você vem me dizer que é seu marido? Só pode ser piada!

Minha mente voltou ao dia anterior. Aquele homem realmente tinha passado o dia todo comigo, me ajudando a experimentar vestidos de noiva. Durante esse tempo, o celular dele não parou de tocar, mas eu insisti para que ele atendesse às suas obrigações. Ele, no entanto, recusou, dizendo que queria ficar comigo até o final da prova do vestido.

Maia me olhou com um olhar carregado de pena. Então, ela comentou:

— Mana, não é sua culpa amar um homem e não ser correspondida. Mas insistir em uma encenação tão ridícula só faz você parecer uma palhaça.

Meu pai, Enrico, finalmente perdeu a paciência. Ele subiu ao palco e me agarrou pelo braço, tentando me arrastar para fora:

— Chega, Nilda! Você já não se envergonhou o suficiente por hoje?

Fernando, no entanto, segurou minha outra mão, impedindo que eu fosse levada:

— Não era você quem dizia que ele estava a caminho? Por que não deixa a gente conhecer o seu marido? Ou será que viemos todos aqui para nada?

Simão e Otávio também seguraram meu braço, rindo e me provocando. Nesse empurra-empurra, eu perdi o equilíbrio e quase caí da escada do palco.

Achei que iria cair de cara no chão, perdendo o resto da pouca dignidade que ainda me restava.

Um homem me envolveu firmemente em seus braços, e o aroma fresco e agradável de madeira de pinho me envolveu por completo.

— Desculpe, amor. Cheguei tarde.