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Capítulo 3

Author: Lia
Simão riu com desdém e disse:

— Nilda, mesmo que você ache que está perdendo a dignidade, não precisa mentir, né? Sem falar que, se alguém estivesse interessado em você, eu, como seu irmão, já saberia disso!

O comentário dele arrancou gargalhadas de todos ao redor.

Durante todos esses anos, o fato de eu perseguir Fernando era algo que todos sabiam.

Otávio fingiu pensar por um momento e, em seguida, comentou:

— Você não está tentando fazer o Fernando sentir ciúmes, está? Nilda, esse truque é tão ultrapassado. Você não acha isso ridículo?

Maia, com uma voz doce, tentou interrompê-los e virou-se para mim:

— Mana, essa brincadeira de hoje foi só uma bagunça que eles fizeram para me animar. Saber que você aceitou participar para me divertir me deixou muito emocionada. Eu sei que você gosta do Fernando há muito tempo, mas, no final, os sentimentos só funcionam quando são mútuos... Uma garota precisa se valorizar. Nosso pai e nossa mãe estão lá embaixo, na plateia, além de todos esses convidados. Não seria melhor parar com isso agora?

Maia falava com um tom gentil, mas suas palavras estavam carregadas de acusações. Ela me culpava, indiretamente, por estar envergonhando a todos.

Eu olhei para a plateia e vi meu pai com o rosto fechado, claramente irritado, enquanto ele se esforçava para justificar a cena diante dos convidados.

Respirei fundo e enfatizei:

— Hoje é, sim, o dia do meu casamento. Meu noivo já está a caminho.

Enquanto eu dizia isso, peguei meu celular e liguei para o número que estava fixado no topo da minha lista de contatos. Entretanto o sinal de ocupado ecoava várias vezes. Foram minutos tentando, mas ninguém atendia.

Meu coração estava cheio de insegurança, e a falta de confiança começou a me dominar. Afinal, nós só tínhamos nos encontrado uma única vez.

Fernando, com um tom de deboche, me olhou e disse:

— Nilda, antes eu só achava que você era um pouco sem vergonha. Agora vejo que você também é ótima em mentir para si mesma.

Simão riu com desprezo e acrescentou:

— Nilda, para com isso. Você está se esforçando à toa.

Maia, fingindo compaixão, olhou para Fernando e sugeriu:

— Fernando, parece que a mana realmente quer se casar. Por que você não finge que é o noivo e ajuda ela a terminar essa cerimônia? Ela está mesmo muito triste.

Fernando nem pensou duas vezes antes de recusar:

— Eu só quis fazer essa brincadeira para te animar, Maia. Não tenho o menor interesse em casar com a Nilda.

Ele recuou um passo, deixando claro que queria manter distância. Era evidente que ele queria evitar qualquer tipo de associação comigo.

Maia então olhou para Otávio, como se esperasse algo dele.

Otávio, no entanto, fez questão de rejeitar a ideia imediatamente:

— Eu? Fazer algo tão vergonhoso assim? Nem pensar!

Os dois, apressados em se recusar, pareciam querer demonstrar lealdade a Maia a qualquer custo.

Por um instante, minha mente me levou de volta ao passado, quando eu tinha dezoito anos. Naquela época, Fernando e Otávio disputavam para me convidar como parceira na cerimônia de maioridade. Eles brigavam para plantar rosas no meu jardim, só para me agradar.

Mas agora, meu coração estava completamente anestesiado. Eu não tinha mais forças para encarar a falsa bondade de Maia.

Com frieza, declarei:

— Fiquem tranquilos. Eu nunca me casaria com vocês, dois canalhas. E não quero que vocês tenham qualquer ligação comigo. Meu noivo é outro.

Meu pai biológico, Enrico Penha, parecia não aguentar mais a situação. Ele se levantou e gritou, furioso:

— Nilda! Para de fingir! Você quer acabar com a minha reputação? Por que você não tenta aprender com a Maia? Seja mais sensata! Você precisa mesmo fazer todo mundo aqui perceber que é uma mulher desesperada que ninguém quer casar?

Ali, bem no meio do altar, eu me sentia completamente humilhada. Mas tudo o que ele parecia se importar era com a própria imagem.

Minha avó, no entanto, segurou minha mão com dificuldade e, mesmo frágil, permaneceu firme ao meu lado. Ela me lançou um sorriso reconfortante e disse:

— A Nilda nunca mentiria! Por favor, esperem só mais um pouco.

Nesse momento, o celular que eu segurava com força começou a tocar. Com o coração acelerado, atendi a ligação. Do outro lado da linha, uma voz masculina, urgente e ao mesmo tempo tranquilizadora, falou:

— Me desculpe, amor! Houve um congestionamento, mas já estou a caminho.

Eu pedi a ele que tomasse cuidado na estrada.

Otávio, com um tom zombeteiro, olhou para mim e disse:

— Nossa, você está mesmo interpretando bem. Não me diga que arrumou um figurante de última hora?
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