Capítulo 5

O olhar de Leonardo se voltou para ela, com um toque de melancolia quase imperceptível, que desapareceu tão rápido quanto surgiu.

A mente de Olívia já estava longe, e ela naturalmente não percebeu.

O carinho de Dona Mendes por Olívia quase superava o que sentia por Leonardo, e seu desejo de ter um bisneto crescia a cada dia.

Seis anos de casamento sem filhos a deixavam cada vez mais ansiosa.

Ela chamou Leonardo para perto de Olívia.

— Por que está sentado tão longe? Venha aqui! Sirva a Olívia.

Leonardo tinha o maior respeito por Dona Mendes e obedeceu.

Ele se sentou ao lado dela.

No instante em que ele se aproximou, o perfume doce de rosas de Eunice invadiu novamente as narinas de Olívia.

Discretamente, ela arrastou a cadeira para mais perto da avó, aumentando a distância entre eles.

— Sirva a Olívia! Se eu não mandar, você não se mexe, parece uma estátua! — Reclamou a avó.

Leonardo não se irritou.

Pelo contrário, um sorriso gentil surgiu em seu rosto.

Ele pegou os talheres e serviu a Olívia todos os seus pratos favoritos.

Olívia olhou para o monte de comida em sua tigela, seu olhar calmo e impassível.

Ela não se iludiria pensando que aquilo era amor da parte de Leonardo.

Era apenas sua etiqueta habitual.

Ele até mesmo descascou um camarão com cuidado e o colocou na tigela dela.

No passado, aquele camarão teria enchido o coração de Olívia de alegria.

Mas agora, ela apenas o empurrou para a beirada da tigela com indiferença e o ignorou.

Não o jogou fora para manter as aparências na frente da avó, mas seu coração já não sentia mais nada.

Ela ergueu o olhar para Dona Mendes e disse com voz suave:

— Vovó, eu criei um novo aromatizante calmante. É ainda melhor para o sono profundo. Outro dia eu trago para a senhora experimentar.

Ela ignorou completamente o Leonardo ao seu lado.

Os olhos de Dona Mendes brilharam.

— Sério? Essa insônia tem me atormentado há tanto tempo. Ah, quando a gente envelhece, as preocupações aumentam, especialmente com vocês, crianças...

Seu olhar passou de Leonardo para Olívia de forma significativa.

— Não sei se nesta idade ainda terei a chance de segurar um bisneto...

Olívia apenas sorriu levemente, sem responder.

Leonardo, no entanto, quebrou seu silêncio habitual, sua voz firme.

— Cuide bem da sua saúde. O bisneto, ele virá.

Os olhos da avó brilharam de alegria instantaneamente.

— É sério?

Até seus movimentos ao comer se tornaram mais leves.

Leonardo serviu a avó e seu olhar passou casualmente pela tigela de Olívia.

O camarão que ele havia descascado ainda estava lá, solitário, intocado.

Um sorriso quase imperceptível e enigmático surgiu em seus lábios, e ele pousou os talheres.

Olívia não olhou para ele em nenhum momento.

Ela sabia que o "bisneto" de que Leonardo falava certamente se referia a um filho dele com Eunice.

O divórcio nem havia sido finalizado e ele já estava ansioso para pavimentar o futuro deles.

Seu peito pesava como se uma pedra fria o esmagasse.

Ela mastigou a comida em silêncio, sentindo um gosto amargo.

Após o jantar, Dona Mendes insistiu que eles ficassem para dormir e preparou um quarto para eles.

Assim que Olívia entrou no quarto, Leonardo a seguiu.

Ela se virou, franzindo a testa e bloqueando a porta.

— Você não vai sair?

A gentileza de Leonardo à mesa havia desaparecido, substituída por sua frieza habitual.

— A vovó me pediu para ficar. Para onde eu deveria ir?

Antes que terminasse de falar, ele já havia se esgueirado para dentro.

Olívia ficou parada na porta por um momento, atordoada, antes de fechá-la.

Foi ela quem reagiu de forma exagerada.

Tanto faz.

Havia duas camas no quarto.

Depois ela explicaria que dormiriam separados.

Já eram nove da noite.

Leonardo, com sua etiqueta rígida, certamente não sairia a essa hora.

Olívia sentou-se na beirada da cama e abriu o celular para cuidar do trabalho.

Ela estava determinada a retomar sua carreira de perfumista, planejando a localização do ateliê e a fábrica.

No passado, por causa de Leonardo, ela se contentou em ficar nos bastidores de sua empresa, cuidando dos assuntos sujos para ele e até para Eunice.

Agora, aquele amor havia se esgotado.

Entre eles, restavam apenas interesses frios.

O som da água veio do banheiro.

A silhueta alta do homem se delineou no vidro fosco.

Olívia desviou o olhar, concentrando-se na tela.

Pouco depois, Leonardo saiu do banheiro enrolado em uma toalha.

Seu torso nu, sob a luz amarela e quente, exibia músculos definidos e oito gomos no abdômen claramente visíveis.

O olhar de Olívia se deteve por um instante.

Ela se lembrava que antes ele tinha apenas seis.

Em algum momento que ela desconhecia, ele começou a malhar?

Ela não quis pensar muito sobre isso, deslizando o dedo pelas informações de localização.

De repente, o Instagram atualizou e a postagem de Eunice apareceu.

Os dedos de Olívia congelaram, pressionando a tela com força.

Eunice havia postado uma foto: o torso nu de um homem com oito gomos no abdômen, com uma legenda brincalhona e exibicionista:

[Isso são oito gomos? Eu não tenho nenhum, hein?]

Abaixo do abdômen, uma pequena pinta familiar era claramente visível.

Olívia jamais se enganaria.

Era Leonardo.

Sua mente ficou em branco.

O que doeu mais foi que Leonardo havia curtido a postagem, o que era praticamente uma confirmação pública de que ele era o protagonista da foto.

Leonardo, o homem que tinha a etiqueta gravada na alma, permitiu que Eunice tirasse uma foto tão íntima e ainda a exibisse em suas redes sociais.

Os dedos de Olívia tremeram e ela acidentalmente curtiu a postagem.

Com o canto do olho, ela viu Leonardo olhando para o celular, um sorriso divertido nos lábios.

Ele então ergueu o olhar para ela.

— Você também gosta de abdômens definidos?

Sua voz, rouca após o banho, soou excepcionalmente clara no silêncio do quarto.

O coração de Olívia disparou.

Ela não se virou, muito menos olhou para ele.

Sabia que a foto não fora tirada para ela.

Ela não respondeu, guardou o celular e se levantou.

— Pode dormir. Eu vou dormir naquela cama.

No momento em que passou ao lado de Leonardo, ele agarrou seu pulso com força.

A força foi tanta que a pegou de surpresa, e ela caiu em seus braços úmidos e quentes.

No instante em que suas peles se tocaram, uma corrente elétrica pareceu percorrer seu corpo.

Em seis anos de casamento, contatos físicos tão íntimos foram raros.

O olhar de Leonardo era direto, suas pupilas escuras transbordando um desejo denso.

Seu rosto bonito se aproximou lentamente, seu hálito quente roçando sua bochecha.

Olívia podia ouvir claramente seu coração acelerar.

No momento em que seus lábios estavam prestes a se tocar, a voz baixa e sedutora de Leonardo soou em seu ouvido.

— Olívia, deveríamos ter um filho, não acha?

Naquele momento, ele não a forçou.

Seu tom de voz tinha até uma ternura rara e comovente.

Olívia quase se perdeu em seu olhar profundo, sem entender o que aquela ternura repentina significava.

Seus cílios tremeram, seus lábios se entreabriram.

O som estridente do celular tocou.

Leonardo a soltou instantaneamente, como se tivesse se queimado, e se virou para pegar o telefone.

Olívia viu claramente o identificador de chamadas na tela: [Querida].

Sua mente ficou em branco.

Leonardo atendeu, sua voz com uma ternura e urgência que Olívia nunca ouvira antes.

— Não chore, não tenha medo. Me diga onde você está. Fique aí, não se mova, estou chegando!

Ele nem mesmo olhou para Olívia.

Agarrou suas roupas rapidamente e desapareceu pela porta como o vento.

A porta se fechou.

O quarto ficou em um silêncio mortal.

Olívia ainda podia ouvir os batimentos acelerados de seu coração, que ainda não haviam se acalmado.