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Capítulo 2

Author: Bella Fortuna
— Jade, por que você voltou sem avisar? Eu e a menina não fizemos nada, não tire conclusões precipitadas! — Disse Gustavo.

Ao acordar, ele saiu da cama às pressas e vestiu qualquer roupa que encontrou no caminho.

Lívia acordou com o barulho e, ainda sonolenta, murmurou:

— Desde pequena tenho medo de trovões... Sempre que troveja, só consigo dormir nos braços do meu tio. Tia, você não se incomoda com uma coisa tão boba, não é?

Fiquei tão indignada com os dois que quase chorei. Mas, ao sair do hospital, já havia prometido a mim mesma que não derramaria mais nenhuma lágrima pelo Gustavo.

— Não há nada para se incomodar. Fiquem tranquilos. Mesmo que façam na minha frente, eu não vou impedir. — Respondi, me virando para sair.

Se eu não saísse naquele instante, temia que minhas lágrimas caíssem.

Mas Gustavo veio atrás de mim e, irritado, me puxou com força.

— Eu e a menina somos inocentes! Você, como mais velha, não deveria dizer uma coisa tão absurda para ela! Sabe o tipo de trauma psicológico que isso pode causar? Vá pedir desculpas!

— Uma hora é "a menina não quer comer", outra hora é "a menina vai ficar traumatizada". — Soltei o braço dele com força, à beira do colapso. — Gustavo, eu estive internada por vinte e cinco dias, quase morri. Por acaso, você se preocupou comigo nem que fosse por um segundo?

Ao ouvir sobre a minha internação, a indignação no rosto dele virou desconforto.

— Não é como eu simplesmente não tivesse ido te visitar... A menina ficou muito abalada com a explosão, precisei acalmá-la. Simplesmente não tive tempo!

Com essa única frase, todo o ressentimento que ainda ardia dentro de mim se apagou. Restou apenas o vazio. As mil palavras presas na minha garganta desapareceram, junto com minhas lágrimas. Não havia mais nada para discutir.

Gustavo não me amava mais. Essa frase respondia todas as minhas perguntas.

Lívia o chamou do quarto. Ele franziu a testa para mim e, antes de ir embora, me deu um aviso:

— Vou deixar passar hoje. Mas nunca mais diga essas bobagens para ela.

Até o fim, ele não perguntou como eu estava. Ele nunca se importou.

— Agora sim posso desistir de vez. — Murmurei para mim mesma, parada ali por algum tempo, antes de ir arrumar minhas coisas.

Fora alguns documentos e algumas peças de roupa, joguei todo o resto fora. No fim, só sobraram os retratos que Gustavo desenhou de mim quando ainda me cortejava.

Lembro de uma amiga que estuda artes ter brincado dizendo:

— Esses retratos não têm técnica, só têm sentimento. Nem que eu quisesse, conseguiria fazer algo assim!

Foram justamente esses desenhos que me fizeram acreditar que ele realmente me amava.

Sorri baixo com sarcasmo, peguei a caixa de desenhos e saí. Coloquei fogo em todos eles. Gustavo apareceu bem na hora, vendo tudo de longe. Correu até mim, empurrou-me para o lado e, sem se deixar abalar pelo calor, tentou salvar os retratos que ainda não haviam sido consumidos pelas chamas.

— O que você está fazendo?! — Sua voz estava trêmula.

— Esses desenhos estavam com traças... — Eu queria dizer que não queria mais, mas o que saiu foi isso.

Brigamos tanto por tantos anos... Foi extremamente cansativo. Eu não queria mais discutir.

Gustavo hesitou por um instante, depois jogou os desenhos resgatados de volta no fogo.

— A menina tem pavor de insetos. Depois eu desenho outros para você. — Disse.

— Não precisa. — Respondi.

Não existe mais um "depois".

O fogo cresceu, depois foi diminuindo até virar cinzas. Assim como o amor entre mim e o Gustavo.

[Contando hoje, faltam cinco dias.] — Postei no meu Twitter enquanto jogava as cinzas no lixo.

Em seguida, fui descansar no quarto de hóspedes mais distante da suíte principal.

Na manhã seguinte, ao abrir os olhos, vi uma enxurrada de comentários debochados perguntando se eu estava ansiosa para me casar com o Gustavo.

[Também estou ansioso pelo dia em que você virá até mim vestida de noiva.] — Ele comentou.

Ele é o maior estelionatário do amor.

Eu estava emocionalmente esgotada. Ele ainda queria fingir que éramos um casal feliz, mas eu já não tinha energia para continuar atuando. Não respondi ninguém. Apenas fui escovar os dentes e desci para tomar café.

— Jadinha, é hoje à tarde que vamos assinar os papéis? — Gustavo perguntou, durante o café da manhã.

Era, sim. Hoje à tarde. Mas agora... Eu não quero mais.
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