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Na Véspera do Casamento, Decidi Fazer um Aborto
Na Véspera do Casamento, Decidi Fazer um Aborto
Author: Antônia

Capítulo 1

Author: Antônia
As vozes dentro do quarto ainda continuavam, mas mais baixas agora. Não dava para entender tudo, mas os dois soltaram uma risadinha nojenta, cúmplices em algum plano baixo.

A voz dele vinha cheia de animação.

— Vai lá, se prepara! Hoje à noite a gente vai se divertir de verdade!

— Pode deixar, Léo. Hoje vou arrumar umas meninas bem soltinhas e animadas pra você. Vai ser show! Mas ó... Você não tem medo de queimar de vez com a Sabrina?

A resposta dele foi como uma faca entrando no meu peito... Fria, afiada e sem um pingo de culpa.

— Medo do quê? Ela me ama tanto que pode me esperar por dez anos, desde que eu peça. E sem hesitar!

Logo ouvi passos saindo do quarto.

Enxuguei rapidamente as lágrimas do rosto e fingi que estava apenas chegando à porta.

O amigo dele saiu e, ao me ver, abriu um sorriso amigável.

— Oi, cunhadinha! Que bom que veio. Pena que o Léo tá meio mal ainda, esqueceu até várias histórias da gente... Mas fica tranquila, hoje à noite vou armar uma festinha pra ajudar a memória dele a voltar.

Forcei um sorriso.

“Tão idiota que eu fui.”

Achava mesmo que ele estava se esforçando.

E eu ainda agradecia, como uma tola.

— Obrigada... — Murmurei.

— Nada! O Léo tá lá dentro com dor de cabeça. Vai lá fazer companhia pra ele, enquanto eu vou resolver o rolê da noite.

Entrei no quarto.

Leonardo franziu a testa ao me ver e falou com uma voz debochada e impaciente:

— Você de novo? Já falei que não te conheço!... Tá bom que eu sou bonito e devo ter um monte de gente afim de mim, mas você... Querer casar comigo? Nem chega perto! Já foi para vários lugares contigo esses dias, e não lembrei de nada! E você ainda insiste?

Apertei os lábios. Mesmo já tendo escutado tudo do lado de fora do quarto, ainda assim, ouvir da boca dele foi como uma faca girando no peito.

Aquele homem que, no passado, bateu de frente com a própria família por mim...

Agora que finalmente estávamos prestes a dar um passo definitivo, por que ele tinha se transformado tanto?

Estendi o relatório médico em sua direção.

— Nada demais. Só vim trazer seu resultado. Tá tudo ótimo com você. Pode receber alta.

Leonardo arregalou os olhos, surpreso. O entusiasmo escapou antes que pudesse conter:

— Sério?

A verdade é que ele só não tinha recebido alta antes por minha insistência.

Queria ajudá-lo a recuperar a memória... E, no fundo, temia que ele tivesse sequelas e precisasse de tratamento imediato.

Mas agora eu via claro: ele nunca tinha perdido a memória. E, talvez, aquele ataque nem tivesse sido real. Um teatro, todo encenado por ele mesmo.

Tudo isso, apenas para adiar nosso casamento.

Pois bem... Que seja como ele deseja.

— Claro que é sério. Você não está doente, tá saudável. Pra quê continuar internado, desperdiçando leito?

Leonardo se levantou num pulo e foi direto ao armário, procurando roupas limpas. De repente franziu a testa e perguntou:

— Cadê aquela jaqueta azul-marinho que eu gosto? Não estou vendo aqui.

Baixei os olhos, como se algo tivesse me atravessado o peito.

Aquela jaqueta... Eu tinha comprado pra ele.

Então ele se entregou. Estava tão animado por sair que esqueceu o próprio enredo da mentira.

— Ué... Você não disse que não me conhece? Como ainda lembra da jaqueta que eu te dei?

Fitei ele com firmeza, procurando nos olhos dele qualquer traço de arrependimento. Qualquer resquício de consciência.

A mão dele parou no ar por meio segundo.

Mas logo cambaleou para trás, segurando a cabeça e gritando:

— Ai! Minha cabeça!... Tá doendo muito!

Desabou no chão, como se estivesse prestes a desmaiar.

O médico foi chamado às pressas e, depois de algum esforço, conseguiu acalmá-lo.

Leonardo me lançou um olhar feroz e cuspiu com desprezo:

— Tirem essa mulher daqui! É ela que me faz passar mal! Ela não quer me curar... Quer me torturar!

Soltei uma risada amarga, fechei os olhos por um segundo e não disse nada. Apenas saí do quarto.

O médico me acompanhou até o corredor, tentando me consolar.

— Srta. Sabrina, o paciente ainda está instável. Talvez não seja bom provocar emoções fortes agora.

Na hora, entendi o recado.

Assenti com um meio sorriso, controlando a dor que engolia por dentro.

— Entendi, doutor. Pode avisá-lo que... Nunca mais vou provocá-lo.
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