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Capítulo 4

Autor: Ginse
Desde o momento em que Vicente apareceu no restaurante, Susana fingiu estar morta, calada e invisível. Só quando ele foi embora é que ressuscitou e se inclinou sobre a mesa, cochichando com curiosidade brilhando nos olhos:

— Elisa, o Daniel é mesmo daquele jeito?

— Que jeito? — Elisa piscou, sem entender aonde a amiga queria chegar.

Susana uniu os dois indicadores num gesto sugestivo e nada sutil. Elisa entendeu na hora e sentiu o rosto esquentar.

Bom... daquele jeito, talvez até melhor do que ela imaginava. No começo, doeu para caramba, mas depois ficou bom. Muito bom, para ser sincera. Daniel podia não ter muita técnica ou experiência, mas compensava em outros aspectos, e, convenhamos, o homem tinha um "equipamento" generoso e fôlego de atleta.

Claro que ela jamais poderia contar isso para Susana. Apenas suspirou e desviou o assunto:

— Deixa esse homem para lá, só de lembrar já perco o apetite. E a pesquisa que te pedi, conseguiu alguma coisa?

— Consegui umas informações, sim. — Respondeu Susana, ainda meio distraída com o assunto anterior. — Mas aquele ponto comercial é caro para caramba. E você vai se divorciar agora, né? Duvido que o Daniel vá te dar uma parte justa da fortuna dele.

— Nem vou pedir nada. Saio de mãos abanando. — Declarou Elisa, dando de ombros com tranquilidade.

— Como assim? — Susana quase gritou, os olhos arregalados de indignação. — Foi a tia dele que obrigou o casamento, não você! Três anos cuidando desse homem como se fosse enfermeira, fazendo tudo por ele, e ainda tem coragem de sair sem nada? E para completar, você ainda é boazinha o suficiente para se afastar por causa da outra? Ah, não, isso é demais!

Elisa riu do desabafo da amiga e empurrou um copo de água para ela.

— Calma, toma um gole e respira.

— Calma, uma ova! — Susana bufou e xingou entre dentes, com o rosto vermelho. — Juro que vou desenhar um círculo no chão e rogar praga para esse desgraçado ficar broxa! Quero ver como ele vai aproveitar a lua de mel com a amante depois disso!

Elisa quase engasgou com a água que bebia. Se ao menos Susana soubesse a verdade... Daniel nunca mais teria esse problema depois da noite anterior. Caso contrário, até o avô dela voltaria do túmulo para xingá-la de aluna incompetente por ter falhado no tratamento.

— Você é boa demais, Elisa. Por isso ele te fez de tapete por três anos. — Suspirou Susana, mais calma agora. — Mas quer saber? Se livrar dele é escapar do inferno. Ele vai perceber, mais cedo ou mais tarde, o que perdeu.

Elisa apenas assentiu, sem discutir o assunto.

— Se estiver sem dinheiro, te empresto para pagar o aluguel. Aquele ponto é disputado, quem chega primeiro leva. — Insistiu Susana, ainda empolgada com a ideia.

A família Pinto podia estar na base da elite de Ispala, mas ainda assim tinha muito mais dinheiro do que Elisa jamais teria.

— Está bem, então aluga o espaço para mim. — Concordou Elisa, sem cerimônia.

Depois do almoço, as duas se despediram na porta do restaurante. Elisa pegou um táxi direto para o Hospital Central, onde trabalhava Tiago Nunes, seu amigo.

Ao vê-la entrar no consultório, Tiago sorriu, surpreso e contente com a visita inesperada. Mas o sorriso sumiu do rosto assim que notou o curativo grosso na mão dela.

— O que aconteceu com a sua mão? — Perguntou Tiago, a preocupação evidente na voz.

— Cortei num vidro, nada demais. — Respondeu Elisa, levantando o curativo para mostrar, disfarçando a gravidade. — Quer ver como está?

— Nem pense nisso! — Tiago segurou o pulso dela com cuidado, sério. — Está bem enfaixado, não mexe nisso. E não deixa molhar de jeito nenhum.

Elisa assentiu, aliviada por ele não insistir em examinar. A ferida no dorso da mão estava feia demais, mas pelo menos ele não insistiu em olhar de perto.

— E o que te trouxe aqui hoje? — Perguntou Tiago, servindo-lhe um copo de água enquanto se sentava à mesa.

Elisa sorriu, puxou a mão dele com delicadeza e a colocou sobre seu pulso esquerdo.

— Me faz um favor, Tiago. Mede meu pulso para mim.

— Você está sentindo o quê? — Perguntou ele, preocupado, posicionando os dedos com precisão, indicador, médio e anelar, sobre a pele fria do pulso dela.

Passou-se um minuto inteiro em silêncio tenso. De repente, o rosto de Tiago ficou pálido como papel. Ele se levantou tão bruscamente que a cadeira arrastou no chão com um barulho estridente.

— Elisa, você enlouqueceu? — Exclamou Tiago, incrédulo e furioso ao mesmo tempo.

Foi então que ele reparou nas marcas roxas no pescoço dela, os beijos de Daniel ainda visíveis na pele clara. A dor que surgiu em seus olhos era quase física, como se tivesse levado um soco no estômago.

— Você passou três anos tirando o veneno do corpo dele com acupuntura e ervas! Nove décimos já tinham sido eliminados. O resto, ele ia curar sozinho com o tempo! — A voz dele subiu de tom, trêmula de revolta. — Por que diabos você foi fazer isso? Você tem ideia de que o veneno agora pode ter passado para o seu corpo através do contato íntimo?
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