O Amor Não se Pede, se Conquista

Eu renasci, voltei para o dia em que Gabriela chegou à minha casa.

Se eu tivesse renascido um pouco antes, talvez pudesse ter evitado a morte dos pais biológicos de Gabriela ou impedido meus pais de adotá-la, nem que fosse à força.

Mas agora, ela já estava aqui, não importava o quanto eu armasse um escândalo, seria tarde demais.

Gabriela era a filha da professora de meu pai, uma famosa pintora que a teve na velhice e a tratava como a joia mais preciosa. Ela demonstrava um talento incrível para a pintura, mas sofria de uma doença ocular desconhecida, com a visão oscilando e o risco de cegueira iminente.

Seus pais a levaram por todo o país em busca de tratamento. Até que, por causa de um acidente, morreram, deixando Gabriela sozinha no mundo.

A infância de Gabriela foi muito trágica, então, assim que meus pais a viram, decidiram adotá-la, considerando-a mais importante até do que a própria filha biológica.

— Letícia, você não queria tanto uma irmã? Agora, a Gabriela será sua irmã mais velha. Não está feliz?

Meus pais me olharam com carinho, esperando que eu a aceitasse de coração.

Na vida anterior, a Letícia de sete anos ficou realmente feliz, pensando que ganharia uma nova integrante na família, e estava disposta a compartilhar meu amor com aquela irmã de rosto gentil. Jamais imaginei que Gabriela era uma ladra disfarçada: ela nunca pensou em dividir... apenas em tomar para si todo o afeto.

— Letícia, seu pai sabe que você é muito madura. Sua irmã não tem boa saúde, e embora você seja a mais nova, precisa que ajude a cuidar dela. Você consegue fazer isso?

Antes que eu pudesse responder, lágrimas já brotavam nos olhos de Gabriela.

— Eu sei que a Letícia deve ter dificuldade em me aceitar. Quem gostaria de dividir o amor de sua família com outra pessoa? Não se preocupe, eu posso ir para o orfanato.

Às vezes, eu realmente me perguntava se Gabriela também tinha renascido. Como uma menina de oito anos poderia ser tão manipuladora? Eu nem sequer havia expressado minha oposição, e ela já estava me rotulando como uma garota invejosa.

Minha mãe enxugou as lágrimas de Gabriela, com o coração partido.

— Não chore, Gabriela, isso faz mal para os seus olhos.

— E pare de chamar a gente de senhor e senhora. Desde hoje, somos seu papai e sua mamãe.

Gabriela levantou o rostinho, com lágrimas cristalinas ainda penduradas nos cílios. Ela parecia tão chocada e grata que qualquer um teria pena dela.

— Eu tenho pais! — Ela soluçou.

Nesse instante, os três se abraçaram, chorando juntos. Ninguém se lembrou de perguntar minha opinião novamente. Gabriela tinha esse tipo de poder.

Naquela noite, meus pais me fizeram dividir o quarto com Gabriela. Eu deitei em silêncio, sem conseguir dormir, e comecei a planejar como me tornar independente e sair de casa o mais rápido possível.

Depois de tudo que aconteceu na vida passada, eu entendi: a partir do momento em que Gabriela entrou na família, meus pais e meu irmão se tornaram propriedade dela.

No meio da madrugada, vi Gabriela se levantar na ponta dos pés. Fingi dormir e observei quando ela seguiu direto para o quarto dos meus pais.