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Capítulo 11

Author: Heloísa Rodrigues
Sérgio ergueu uma sobrancelha e a olhou:

— O quê?

— Me dá um cigarro, por favor. — Isabela repetiu.

Ela precisava de um cigarro para se acalmar, porque estava tremendo sem parar.

Sérgio ficou em silêncio por um momento, olhou para ela com um certo interesse e foi até o carro pegar um cigarro para ela.

— Srta. Isabela, você não vai chamar uma ambulância primeiro para o Gustavo?

Isabela pausou brevemente, acendeu o cigarro e deu uma tragada, tentando acalmar suas emoções antes de pegar o celular e discar para o número de emergência.

Sérgio já tinha ido embora quando a ambulância chegou.

Antes de sair, ele deixou um cheque de quinhentos mil, dizendo que era uma compensação.

Quando se acalmou, Isabela pensou que Sérgio não seria tão cego daquela forma, afinal, o estacionamento era tão grande e ele justamente bateu no carro do Gustavo. Não existia uma coincidência tão grande daquele jeito no mundo.

Mas, ao pensar na expressão indiferente de Sérgio, ela começou a se perguntar se realmente não poderia ter sido uma coincidência.

Não conseguia entender, então ela decidiu parar de pensar sobre aquilo.

Pela consideração que tinha pela Noemi, Isabela acabou levando Gustavo ao hospital. O imbecil Gustavo não parou de praguejar durante todo o trajeto, acusando que o Sérgio e a Isabela haviam feito aquilo de propósito.

Ele ainda gritava que iria processar Sérgio.

Isabela lançou um olhar fulminante a ele e disse:

— Se você não se calar agora, eu vou pedir ao médico para te tirar do carro e você vai para o hospital a pé.

Não importava se Sérgio tinha feito de propósito ou não, Isabela achava que Gustavo merecia. Afinal, ela tinha perdido um contrato de milhões e nem sabia a quem recorrer.

Se fosse antigamente, Gustavo apostaria que Isabela não faria o que ela tinha dito.

Mas naquele momento ele não tinha certeza, então, resmungando de raiva, ficou quieto. Mas seu olhar continuava fixo em Isabela, como se quisesse devorar ela viva.

Quando chegaram ao hospital e Gustavo recebeu o gesso, Noemi chegou correndo.

— Ah! Meu Deus! O que aconteceu?!

Isabela apertou os lábios e lançou um olhar rápido para Gustavo, dizendo para Noemi:

— Melhor perguntar a ele.

Gustavo engasgou. Mesmo sem vergonha, ele não se sentia à vontade para admitir que tinha sido atropelado por Sérgio enquanto tentava forçar Isabela, então acabou gaguejando:

— Nada grave, foi só um acidente de carro.

Noemi franziu a testa e perguntou:

— Quem foi que bateu em você? Eu vou fazer justiça!

Gustavo fez uma careta:

— Foi o Sérgio.

Noemi ficou em silêncio, sem saber o que dizer.

Afinal, a família Medeiros tinha um poder enorme na Cidade J, e não era alguém que eles podiam se dar ao luxo de mexer com.

Noemi ficou em silêncio por um bom tempo, até que finalmente disse baixinho:

— E o que tem o Sérgio? Ele te atropelou, mas isso não está certo. Amanhã vou pedir ao seu pai para ir atrás de uma explicação dele.

Isabela observou a cena entre mãe e filho com frieza. Quando finalmente terminaram, ela tirou da bolsa o cheque que Sérgio havia deixado.

— Madrinha, aqui está a compensação que o Sérgio deixou. Ele disse que, se você ainda tiver algum problema, pode procurar o advogado dele.

Noemi ficou em completo silêncio, e deu uma tapa no rosto de Gustavo:

— Você até não sabe nem dirigir direito agora?

Gustavo levou a tapa, que o fez sentir dor, mas ficou quieto, pressionando os lábios e não querendo falar mais nada.

Isabela já estava sem paciência e, de forma calma, disse a Noemi:

— Então, vou indo embora agora.

Foi quando Noemi reparou que as roupas de Isabela estavam rasgadas e, com um olhar preocupado, disse:

— O que aconteceu com você? Vá, vá logo para casa!

Isabela assentiu, se virou e saiu do hospital.

Tudo aquilo a estava deixando exausta, e ao chegar em casa, a escuridão e o silêncio a receberam. Todos haviam ido dormir, e a mansão, grande como era, não passava a menor sensação de lar.

Ela caminhou até o seu quarto, tomou um banho e, depois se deitou na cama, suspirou pesadamente.

No dia seguinte, que era sábado, ela acordou e viu a família inteira sentada à mesa.

Eles estavam tão felizes, como se ela fosse uma estranha ali.

Ela apertou os lábios, fez questão de descer as escadas com força, fazendo barulho. Todos à mesa olharam para ela.

Hanna se virou para ela, com um ar de desculpas no rosto.

— Desculpa, mana, eu não sabia que você tinha voltado, então não te chamei para comer. — E, como uma empregada, se levantou. — Vou pegar pratos e talheres para você.

Luciano franziu a testa ao ver aquilo e disse:

— Sente! Você não precisa fazer isso. Ela tem mãos e pés, não é deficiente. Não precisa de você para servir ela.
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