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Capítulo 6

Author: Heloísa Rodrigues
Suzana ergueu a sobrancelha e disse:

— Paciência. Se acabou, acabou. Não somos só nós com esse cliente, vamos com calma.

Isabela suspirou, se jogando no banco de trás do carro, sentindo uma onda de cansaço tomar conta de si.

Na verdade, não importava o quanto ela tentasse parecer forte, de vez em quando ainda se sentia exausta.

Desde que a mãe faleceu, ela sempre vivia em eterno estado de alerta, como uma galinha combatente, com medo de ser derrubada e não sobrar nem os ossos.

Ao chegar em casa, já era tarde. Normalmente, naquela hora, Luciano já estaria dormindo.

Mas naquele dia ele não estava. Estava sentado no sofá, todo sério.

Ela até tentou fazer de conta que não viu, mas Luciano a chamou:

—Para onde foi? Por que voltou tão tarde?

Isabela se virou com um olhar cortante

— Sr. Luciano, arrumou tempo para se preocupar comigo hoje, né?

Na verdade, quando sua mãe estava viva, Luciano até era bastante legal com ela. Mas desde que sua mãe faleceu e Hanna e Lívia Cunha se mudaram para a casa, a relação entre ela e Luciano só piorava.

Luciano ficou sem palavras por um momento, mas surpreendentemente não explodiu de raiva.

Ele bateu no sofá ao lado e disse:

— Isabela, venha aqui. Tenho algo para conversar com você.

Fazia tempo que Luciano não falava com ela de forma tão suave e gentil.

A situação estava estranha, algo estava errado. Ela queria ver o que Luciano tinha a dizer, então se sentou de forma dócil, fingindo estar tranquila.

Luciano suspirou, e logo começou:

— Isabela, você sabe que a família Santiago chegou até aqui com muito esforço. Olha... Você pode me entregar o que sua mãe deixou para você?

Isabela, ao ouvir aquilo, ficou com a expressão completamente alterada:

— Nem pensar! Aquilo é a única coisa que minha mãe me deixou. Não importa o que aconteça, não vou te dar!

Antes de morrer, a mãe realmente deixou algumas coisas para ela, mas era apenas uma chave. Só que aquela chave trancava a coisa mais preciosa que a mãe havia deixado para trás.

Mas ela lhe disse que só poderia buscar aquele item depois de completar 24 anos, caso passasse por uma dificuldade impossível de superar. Caso contrário, ela nunca poderia usá-lo.

Ela ainda tinha 23 anos, ou seja, faltava só um ano.

O problema era que, quando sua mãe morreu, a guarda dela ainda estava com Luciano. Por isso, todos os documentos importantes ficaram em suas mãos.

Cinco anos se passaram, e ele ainda se recusava a entregar.

Naquele momento ela entendia o motivo. Era aquilo o que ele queria desde o começo.

Luciano, ao ver que Isabela se recusava de forma tão firme, ficou sério.

Pensou um pouco e então falou:

— Então, se case logo com o Gustavo, prenda de vez a parceria entre nossas famílias, e eu deixo esse assunto de lado.

Isabela riu de raiva:

— Você tem alguma noção? O Gustavo agora está com a Hanna, e você ainda quer que eu me case com ele? Você enlouqueceu? Ou você acha que todo mundo é igual a você, querendo pegar o que sobra dos outros!?

"Pá!"

O som da bofetada ecoou pela sala. A sala estava vazia e o barulho foi bem alto.

Isabela sentiu o rosto arder de dor e calor. Ela segurou o rosto e olhou para Luciano, com os olhos cheios de lágrimas, mas sem deixar que nenhuma caísse.

Foi naquele momento que Lívia chegou, voltando do hospital onde tinha cuidado de Hanna.

Ao ver a briga entre pai e filha, ela ficou contente por dentro, mas tentou disfarçar e fez cara de preocupação:

— Luciano, o que foi isso? Se tiver algum problema, fale então, mas não pode bater na criança!

Luciano pareceu se arrepender de ter dado a bofetada, mas ainda assim tentou justificar:

— Eu sou seu pai, como você pode falar assim de mim?

— Se eu tivesse escolha, eu preferia ter um mendigo como pai do que você!

Isabela, teimosa, levantou a cabeça e saiu de casa.

Felizmente, dois anos atrás ela comprou seu próprio apartamento. Não era grande, mas tinha sido decorado de forma aconchegante, exatamente após a Hanna ter tomado o seu quarto.

O apartamento tinha ficado pronto recentemente.

Ela chegou em casa, colocou uma bolsa de gelo no rosto para reduzir o inchaço. A bofetada de Luciano não foi fraca, e a bochecha dela já estava bem inchada.

No dia seguinte, ainda teria que trabalhar, então não podia se dar ao luxo de aparecer daquele jeito.

Depois de se arrumar, já era madrugada quando ela finalmente mandou uma mensagem para Suzana, avisando que chegaria mais tarde no trabalho. Só então se deitou e finalmente caiu no sono.

Mas no dia seguinte, ela ainda foi acordada bem cedo pelo barulho.

Ela pegou o celular e, ao ver quem estava ligando, hesitou por um momento, com o dedo suspenso sobre a tela.

A pessoa do outro lado não era ninguém menos que a mãe de Gustavo.

A mãe de Gustavo, Naomi Valente, era amiga íntima de sua mãe. A razão de ela ter se aproximado de Gustavo foi, na verdade, pela amizade entre os adultos. As duas mulheres eram inseparáveis, verdadeiras irmãs.

Na verdade, Isabela até tinha chamado Naomi de madrinha.

Ela era, fora sua mãe, a pessoa mais importante para ela.

Portanto, não importava o que Gustavo fizesse de errado, ela não poderia simplesmente ignorar a ligação de Naomi.

Quando a chamada estava prestes a cair automaticamente, Isabela finalmente atendeu:

— Alô, Naomi.

Antes, ela sempre a chamava de madrinha, mas naquele dia usou um tom um pouco mais formal, um tanto estranho.

Do outro lado da linha, Naomi ficou em silêncio por um momento antes de suspirar.

— Ah, Isabela, querida... Já sabemos de tudo o que o Gustavo e a Hanna fizeram. Não fica brava, tá? Mas o Gustavo jurou que não aconteceu nada de realmente grave entre ele e a Hanna. Não fique chateada, por favor. Hoje é um dia especial, não deixe essas coisas estragarem seu humor. Eu só reconheço você como minha nora.

Depois que Naomi falou, Isabela finalmente se lembrou de qual dia era.
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