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Perdi Para Sempre o Meu Coração
Perdi Para Sempre o Meu Coração
Author: Rubro Lanvar

Capítulo 1

Author: Rubro Lanvar
Casar com um libertino exige verdadeira disciplina.

Enquanto via o pacote de lenços em minha mão ficando cada vez mais fino, essas palavras surgiram do nada na minha mente.

A garota sentada à minha frente era Camila Duarte, aluna do último ano da faculdade.

Desde que entrou, já chorava havia duas horas.

No total, seu romance açucarado com Renato não passara de um mês.

Francamente, não valia a pena chorar até borrar toda a maquiagem.

Abri a boca para tentar consolá-la, mas ela, com os olhos vermelhos, olhou direto para mim:

— Ele disse que eu me parecia um pouco com você. Olhando bem... realmente parece.

Fiquei surpresa. Nenhuma das outras havia dito isso antes.

Camila fungou, enxugou os cantos dos olhos e, com ironia amarga, acrescentou:

— Não preciso do seu consolo. Você é bem mais lamentável do que eu.

E não era verdade?

Todo Porto Azul sabia que Renato tinha se casado com uma esposa perfeita.

Tão perfeita que, mesmo sendo traída repetidas vezes, ainda ajudava a enxugar as lágrimas das ex-namoradas dele.

Cada garota com quem ele se envolveu depois do casamento — eu as chamava de “ex-namoradas” dele.

Eu, a esposa original, já não tinha mais dignidade alguma.

Meu celular vibrou: uma mensagem de Renato.

[Renato: Ainda não terminou? O filme já vai começar.]

Bati o aparelho na mesa, levantando os olhos para encarar Camila, cujo olhar voltava a marejar.

— Diga o que você quer como compensação. Qualquer coisa. Eu vou garantir para você.

Era uma fala que eu já repetira incontáveis vezes, tão automática quanto um gerente de RH demitindo funcionários.

Ela bufou e se levantou bruscamente:

— Não quero nada.

Suspirei:

— Mas deveria querer alguma coisa.

Dinheiro, carro, casa... algo sólido para segurar nas mãos.

Seu olhar ficou ainda mais frio.

De repente, ergueu a mão e despejou lentamente o café gelado sobre a minha cabeça.

— Estou grávida.

— E vou ter esse filho.

Fiquei olhando para ela, sem palavras, esquecendo de insistir.

Apenas forcei um sorriso fraco, disfarçando a amargura.

Renato, nenhuma das promessas que me fez você cumpriu.

Molhada, sentei-me no banco do passageiro. Renato falava ao telefone.

Sem se importar em esconder, era evidente que já havia outra garota em sua vida.

Minha mão apertou instintivamente o cinto de segurança, cravando as unhas até doer.

Do outro lado, não sei o que disseram, mas ele riu, e as rugas sutis em torno dos olhos apareceram.

— Tudo bem, tudo bem. À noite eu vou te acompanhar.

Desligou, ligou o carro e virou-se levemente para mim.

O aperto em suas mãos sobre o volante, porém, se intensificou de repente, e seu semblante escureceu:

— Foi ela quem derramou?

Eu já enxugava o cabelo, lenço após lenço.

Talvez, ao perceber meu silêncio, ele se inclinou e tomou o papel da minha mão:

— Não se mexa.

Instintivamente, deslizei para a direita, mas fui puxada de volta contra seu peito por sua voz fria.

Ele secava meu cabelo com certo cuidado, ainda que o cenho estivesse profundamente franzido.

— Você simplesmente ficou parada, deixando ela jogar café em você?

— Isadora Moreira, onde foi parar aquele gênio tempestuoso que você sempre descarregava em mim?

A lembrança de “antes”...

Desde o encontro com Camila, uma sensação de vazio se instalara no meu coração, espalhando-se sem parar.

Afastei-me do abraço dele, com o rosto frio:

— Eu não posso perder a paciência com uma mulher grávida, não é? O que você acha?

Ele ficou sem jeito, mas, teimoso, continuou a secar meu cabelo.

Depois disso, o silêncio tomou conta. Ele dirigia, eu olhava a paisagem pela janela.

Pelo canto do olho, percebia seus olhares furtivos em minha direção.

Ondas de emoção reverberavam dentro de mim, uma após a outra.

Mas a decepção já tinha atravessado montanhas e mares, transformando-se em desespero; restava apenas a apatia.

Durante o filme, minha mente vagava. Renato passou quase todo o tempo com os olhos no celular, respondendo a mensagens.

A chamada solenidade do nosso aniversário de casamento já havia ruído junto com o fim do filme, tornando-se escombros.

E o mais irônico: após os créditos finais, eu ainda estava sentada ao lado dele, assistindo ao seu teatro.

Os convidados eram todos parentes e amigos próximos; os convites da Família Vieira em Porto Azul haviam sido enviados com duas semanas de antecedência.

Entre brindes e conversas, Renato transitava pelo salão, enquanto descascava camarões para mim com as próprias mãos.
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