All Chapters of Perdi Para Sempre o Meu Coração: Chapter 1 - Chapter 10

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Capítulo 1

Casar com um libertino exige verdadeira disciplina.Enquanto via o pacote de lenços em minha mão ficando cada vez mais fino, essas palavras surgiram do nada na minha mente.A garota sentada à minha frente era Camila Duarte, aluna do último ano da faculdade.Desde que entrou, já chorava havia duas horas.No total, seu romance açucarado com Renato não passara de um mês.Francamente, não valia a pena chorar até borrar toda a maquiagem.Abri a boca para tentar consolá-la, mas ela, com os olhos vermelhos, olhou direto para mim:— Ele disse que eu me parecia um pouco com você. Olhando bem... realmente parece.Fiquei surpresa. Nenhuma das outras havia dito isso antes.Camila fungou, enxugou os cantos dos olhos e, com ironia amarga, acrescentou:— Não preciso do seu consolo. Você é bem mais lamentável do que eu.E não era verdade?Todo Porto Azul sabia que Renato tinha se casado com uma esposa perfeita.Tão perfeita que, mesmo sendo traída repetidas vezes, ainda ajudava a enxugar as lágrimas d

Capítulo 2

Uma montanha de comida estava empilhada no prato à minha frente, mas eu permanecia absorta, olhando para o pulso dele exposto ao arregaçar as mangas.De quem seria aquele elástico de cabelo?A náusea que me revirava por dentro já havia roubado todo o meu apetite.Um homem que descasca camarões para você pode não te amar.Um homem que não esquece o aniversário de casamento mesmo depois de dez anos pode não te amar.Um homem que nem tira a aliança para tomar banho também pode não te amar.Devo agradecer a Renato — tudo isso foi ele quem me ensinou.Crescemos juntos, dois amigos de infância, quase como se estivéssemos destinados.Mas isso sempre foi sobre Renato e minha irmã, Juliana Moreira.Mesmo quando eu ainda mal compreendia o que era amor, já sabia que a Família Moreira e a Família Vieira planejavam se unir em casamento.Não era que eu nunca tivesse visto o rosto corado da minha irmã nos encontros com ele.E também não era que eu nunca tivesse presenciado o notoriamente arrogante R

Capítulo 3

Não consigo esquecer a voz fria de Renato do lado de fora da enfermaria naquele dia:— É melhor assim. Isso nunca deveria ter acontecido.Depois disso, parecia que tínhamos chegado a um acordo silencioso.Ele continuou a viver como o libertino que era.E eu me dizia que estava tudo bem, desde que a Família Moreira permanecesse respirando.Ele podia namorar, desde que não levasse ninguém à morte.Agora, foi ele quem quebrou a promessa.A Família Moreira já não passava de uma casca vazia desde a morte dos meus pais.E ele... eu também não queria mais insistir.Encostei a cabeça na janela do carro, respirando o ar quente que me sufocava.Vi-o acalmar Camila antes de voltar para o meu lado.Abriu a porta, colocou minha mão ao redor do pescoço e me carregou até a sala de emergência.Por cima do ombro dele, vi Camila fungar e me encarar com desprezo.Quando ele passou, ela tentou agarrar o casaco dele.Mas ficou com a mão no ar.Ele avançava a passos largos, o rosto — uma obra que nem o melh

Capítulo 4

Naquele momento, eu não fazia ideia de que Renato havia praticamente revirado Porto Azul de cabeça para baixo à minha procura.A Cidade da Névoa era o destino que Juliana sonhara em alcançar. Ela nunca chegou, mas eu sim.Caminhando por ruas cada vez mais desertas, às vezes me confundia, acreditando ser Juliana.Ninguém sabia que eu estudara pintura em segredo, não por amor verdadeiro à arte, mas apenas para me parecer mais com ela.Parecer com ela me dava a ilusão de estar mais próxima de Renato — um passo a mais, sempre.Por ironia, foi Juliana quem abandonou os pincéis para nunca mais retomá-los.E eu, ao contrário, fui alçada ao pedestal de “gênio cuja pintura falava por si”.A década em que estive casada com Renato também foi o auge da minha produção.Hoje, dezenas dessas obras estão expostas na maior galeria de arte da Cidade da Névoa.Passei quase meio mês atônita, até entrar lá no último dia da exposição.Como previsto, havia pouca gente.Envolta no meu sobretudo, pude enfim pe

Capítulo 5

Renato voltou a si e retirou a mão de repente.Com um gesto impaciente, disse:— Vá. Procure meu assistente, como você pediu.O homem que o acompanhava logo avançou para arrastar Marcelo para fora.Dei dois passos à frente.— Espere... o que você quis dizer com isso?Renato bloqueou meu caminho, suas mãos firmes apertando meus ombros como um torno.— Nada. Volte comigo.Soltei-me com esforço e corri até Marcelo, agarrando a lapela de seu casaco.— Você só quer dinheiro, não é? Eu lhe dou. Mas diga claramente o que quis dizer agora há pouco.Meu coração batia violentamente, o pânico sem precedentes quase me tirando o ar.Marcelo já havia se livrado da contenção. Passando por mim com calma, encarou diretamente Renato:— No mês passado, enquanto esperava pelo seu investimento, acho que finalmente compreendi muitas coisas.— Dez anos foram suficientes para provar que eu realmente não sirvo para os negócios. Mudei de área tantas vezes e todas fracassaram.— Então, quando soube do divórcio d

Capítulo 6

Uma onda de distanciamento voltou a me invadir quando levantei lentamente o olhar para encontrar o dele.— Juliana sabia de tudo.— Sabia o quanto eu gostava de você naquela época.— Lembra da minha primeira exposição solo que nunca aconteceu? A galeria inteira estava cheia de retratos seus.Um sorriso amargo surgiu em meus lábios:— Com medo de entristecer minha irmã, pendurei discretamente alguns retratos dela também.— Como se fosse um presente pelo aniversário de namoro de vocês.Passei três meses inteiros me preparando, colocando ansiosa o bilhete na gaveta da minha irmã.Ao descer as escadas, fui atingida pela atmosfera festiva.No dia seguinte, seria a cerimônia de noivado deles.A linguagem do pincel nunca mente.Juliana certamente já tinha visto muitas vezes o cavalete escondido sob o pano branco.Ela via como, ao retratar Renato, eu despejava sentimentos que não podiam ser ditos.Agora tudo estava exposto, e finalmente eu podia revisitar o passado de outra perspectiva.Naque

Capítulo 7

— Sempre me referi a elas como suas ex-namoradas, mesmo quando apareciam durante o nosso casamento.— No entanto, nenhuma delas foi a destruidora da nossa união. Do começo ao fim, quem me consumiu foi você.Todas eram apenas passageiras, fugazes como a água corrente.Eu já pensei que fossem, ao menos, um pouco melhores do que eu, que tivessem deixado algum traço no coração de Renato.Mas, ao ver seus olhos cada vez mais perdidos, senti de repente uma compaixão infinita por elas.— Não se lembra?— Esta aqui, que você preferia... depois de quase um ano juntos, ela apareceu de vestido de noiva para tentar reconquistá-lo.— E esta, que meus pais flagraram e foram confrontá-lo... por causa dela, você cortou vários empréstimos bancários da Família Moreira.Talvez fosse porque, nesses dez anos, meus pais já haviam feito exigências absurdas vezes demais, às claras e às escondidas.Ao mencioná-los novamente, meu coração mal se agitou.Mas a palma da mão de Renato começou a suar. Após longa pau

Capítulo 8

Ele voltou de madrugada, impregnado de perfume e álcool.Quando, apreensiva, lhe entreguei o plano de investimento que meu pai pedira para passar, o ódio em seus olhos ameaçava me devorar como uma fera.Como fui empurrada contra o sofá, como minhas roupas foram rasgadas...Mais tarde, em minha memória, tudo se tornou fragmentos desconexos.As mordidas insanas, os soluços após a dor — quase todo o meu pesadelo daquela noite.O que finalmente o trouxe de volta à razão foi o sangue que jorrava sem parar, encharcando o tapete.Do instante em que soubemos da criança até o momento em que a perdemos, passaram-se apenas algumas horas.— Eu ouvi tudo o que o médico disse, mesmo que você o tenha ameaçado para mudar sua versão.Abri a boca, mas, ao ver a expressão complexa dele, não quis mais falar.— Renato, talvez nós já tenhamos nos amado...— Mas nos amamos em tempos errados. Ao olhar para trás, só restam lembranças dolorosas.— Faz sentido continuar assim?Ele permaneceu calado, músculos fac

Capítulo 9

Parecia que desde pequena eu existia apenas como o contraponto de Juliana, como sua sombra imperfeita.Evitando o olhar dele, estendi a mão para ajeitar o cobertor.Minha mão, porém, congelou no ar: o afundamento de um lado vazio deixou meu peito em desamparo.Ele apenas sorriu de forma constrangida.— Agora não tenho mais capital para ser imprudente.Levantei a cabeça de repente, com o coração acelerado.— Renato! Você enlouqueceu? Com a Camila no carro, por que dirigiu tão rápido?A mão dele, sobre o cobertor, estremeceu levemente.Curvou os lábios, mas já não conseguia mostrar nem sombra de um sorriso.— Houve um instante em que pensei que ela fosse você...Naquele dia, ele fora se encontrar com Camila para negociar.Depois de mais de quinze dias de insanidade, estava à beira de enlouquecer com os próprios demônios.Sabia muito bem que seus pais queriam manter aquela criança, ainda que em circunstâncias vergonhosas.Ficou parado à porta por muito tempo, calculando cada trunfo de qu

Capítulo 10

De vez em quando, quando nos encontrávamos, uma delas passava o braço em volta do meu pescoço para me apresentar à outra.— A ex-Sra. Vieira... — Dizia com um sorriso malicioso. — Acho que você parece mais a secretária dele.Sorri sem jeito.— Como assim?— É a primeira vez que vejo a esposa legítima aconselhar alguém a pedir mais dinheiro de indenização no fim de um relacionamento. Foi quase comovente.As duas garotas riram juntas.Dentro de mim, havia apenas serenidade.Reencontrá-lo sem lágrimas nos olhos era, afinal, um alívio.Ainda assim, restava certa melancolia.Aquela garota chamada Camila... no fim, foi mesmo uma pena.Ao buscar um café para viagem, uma voz me chamou.A cadeira de rodas se aproximava, e meus olhos encontraram os de Renato.O calor do dia já se fazia sentir; sua camisa estava desabotoada no colarinho, mas as pernas continuavam cobertas por uma manta leve.Talvez percebendo onde meu olhar pousara, ele se apressou em alisá-la, um pouco constrangido.— A galeria

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