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Capítulo 5

Author: Hannah
O tumulto no salão sumiu como se alguém tivesse apertado o botão de silêncio. Todos os olhares estavam fixos em Severino, criando um clima denso.

Ainda encolhida contra o peito largo dele, Mariana deixou passar nos olhos marejados um brilho de conquista, que se misturava ao rubor recém-descido às maçãs do rosto.

Ela ergueu o rosto devagar, tentando disfarçar o sorriso orgulhoso e a satisfação, mordendo levemente a língua para se conter, mas não conseguiu impedir o olhar de agradecer, repleto de emoção, enquanto encarava Severino.

— Severino, obrigada. — Ela murmurou.

Com o olhar preto, Severino levantou uma das mãos com a intenção de enxugar as lágrimas no canto dos olhos dela. No último momento, parou o gesto e, preferindo não se alongar no carinho, apenas afagou os cabelos de Mariana de leve.

— Boba, não precisa disso, de verdade.

Nos olhos negros de Mariana passou rapidamente uma sombra sutil, enquanto ela mordia de leve o lábio avermelhado, num gesto tímido que deixava transparecer certa delicadeza envergonhada.

Ao ver aquela cena, os fotógrafos se agitaram de novo. O barulho das câmeras tomou conta do ambiente, todo mundo tentando capturar o instante que exalava ternura e parecia feito sob medida para a capa de amanhã.

Henry, por sua vez, um pouco afastado em meio à confusão, tirou um lenço do bolso e limpou discretamente as lágrimas do rosto. Sem chamar atenção, afastou o corpinho, escapando das mãos de Mariana, que até então apertava seus ouvidos, preferindo manter a discrição em meio ao tumulto.

— O que estão fazendo aqui? Saiam daqui logo!

Logo a segurança do hospital apareceu. A voz do segurança ecoou com autoridade, causando um sobressalto no grupo de repórteres que, percebendo a barra pesada, recolheu os equipamentos às pressas e foi sumindo um a um pelos corredores, como se jamais tivesse estado ali.

Com a multidão dispersa, Severino pôde, enfim, relaxar as sobrancelhas que até então estavam tensas e cerradas. O rosto, antes fechado e sombrio pela tensão, foi aos poucos retomando a expressão normal.

Passou o braço por cima de Mariana, segurou forte a mão de Henry e sussurrou:

— Aproveita que está tudo calmo, vamos sair daqui antes que comecem tudo de novo.

— Vamos, sim. — Mariana respondeu prontamente, já puxando um par de óculos escuros da bolsa e voltou a se aninhar no peito dele antes de acelerar os passos para os três atravessarem o corredor juntos.

Enquanto isso, Daniela conseguiu se erguer com grande esforço, apoiando as mãos na parede fria e branca. O sangue corria quente da testa, escorrendo por entre seus olhos, manchando de vermelho o vestido branco.

Ela mal conseguia escutar nada além de um zumbido longe, o corpo perdendo força de pouco em pouco. Seu olhar acompanhou Severino e Mariana enquanto eles se afastavam até onde conseguiu, até suas pernas finalmente cederem. Daniela caiu, vencida pelo cansaço e pela dor.

— Doutor, alguém desmaiou aqui!

— Meu Deus, ela está cheia de sangue na cabeça!

Pessoas que, instantes antes, apenas assistiam à confusão, agora corriam para socorrê-la, apavoradas ao ver o estado de Daniela. O sangue escorria e se misturava aos fios de cabelo, tornando a cena ainda mais grave e atraindo cuidado imediato.

Enquanto isso, um barulho vindo atrás acabou chamando a atenção de Severino, fazendo-o parar no meio do corredor. Uma inquietação inexplicável tomou conta dele, causando um calafrio que subiu pela sua espinha.

— Severino, o que houve? — Mariana perguntou em voz baixa, percebendo que ele tinha parado de repente. Seu olhar, ainda úmido, buscou o dele enquanto ela franzia as sobrancelhas delicadamente.

— Eu... — Severino começava a responder, mas o som da tosse repentina de Mariana rompeu o momento. Ela levou a mão ao peito, o rosto pálido ficando ainda mais sem cor.

— Mari, está tudo certo? Quer que eu chame um médico? — A voz de Severino soou preocupada, enquanto ele tentava acalmar a respiração dela com leves carícias nas costas.

— Não é nada, Severino. Acho que o tempo mudou, devo ter pegado um resfriado. É só descansar e tomar algo quente que logo passa.

— Tem certeza disso? Se quiser, vamos ao médico agora mesmo. — Severino falava com uma voz tensa, querendo resolver o problema, pronto para voltar ao médico se Mariana fizesse o menor sinal de dor.

— Não precisa, de verdade. — Disse Mariana, apertando a mão dele com firmeza, o rosto ainda levemente corado. — Sempre foi assim quando eu morava lá fora. Tomava um remédio e logo melhorava.

— Obrigada pela sua preocupação, Severino. Aposto que os repórteres ainda não saíram todos, a gente não pode voltar.

Enquanto dizia isso, Mariana acariciava os dedos de Severino, com um olhar sedutor que buscava toda a atenção dele.

Severino ficou alguns segundos calado, sentindo o calor da pele dela e acompanhando o vai e vem do próprio peito.

— Então vamos para casa agora mesmo.

Ele puxou a mão devagar e fechou o punho, tentando manter o autocontrole. Abriu o sorriso, afastando a sensação de ansiedade e convencendo a si de que, no fundo, alguém como Daniela, tão avessa a tumultos, jamais se meteria no olho do furacão na frente de tantas pessoas.

...

Daniela despertou ao sentir o cheiro característico de antisséptico.

Abriu os olhos com dificuldade, mas imediatamente os fechou novamente por causa da luz forte refletida no teto branco do hospital.

Só depois de alguns segundos, quando a claridade já não doía tanto, ela voltou a abri-los lentamente, piscando até que sua visão se ajustasse e pegou a se perder encarando o teto, enquanto sua mente tentava reconstruir os acontecimentos daquele dia.

De repente, um toque de celular cortou o silêncio carregado do quarto, trazendo consigo uma impaciência eletrônica difícil de ignorar.

Acostumada ao chamado, Daniela tentou estender o braço para pegar o celular que estava no criado-mudo azul ao lado da cama, mas a pressa a fez puxar sem querer o ferimento na cabeça. Uma fisgada de dor a fez prender o ar.

O quarto, tomado por aquele cheiro de hospital e o celular tocando sem parar, só parecia aumentar sua inquietação.

Franziu as sobrancelhas, respirou fundo antes de se forçar a sentar de leve e alcançou finalmente o celular, levando-o ao ouvido.

Do outro lado, a ansiedade de Severino atravessou a linha.

— Dani, só agora você atende? Você tem ideia da preocupação que me causou? Onde você está? Vem logo para o bar do Bruno, é a inauguração hoje! Não acredito que esqueceu.

Ela se manteve deitada, o rosto ainda mais pálido sob a fronha, dedos tão tensos no aparelho que ficaram brancos, sem dar resposta imediata.

— Dani, está me ouvindo? — Ao perceber o silêncio, Severino começou a vacilar, a voz dele já baixa e carregada de culpa. — Sobre o que aconteceu hoje no hospital, eu sei que foi minha culpa. Vem aqui, deixa eu te explicar olhando nos seus olhos, por favor?

Daniela agarrou o cobertor branco sobre o corpo numa tentativa de conter a inquietação dentro do peito. Suspirou fundo, engoliu a angústia e, com a voz rouca, finalizou a conversa:

— Pode desligar.

...

Assim que recebeu alta, Daniela voltou para casa, trocou calmamente o vestido marcado de sangue, pegou o presente que tinha separado para inauguração do bar do Bruno e só então pediu um táxi.

Cerca de meia hora depois, lá estava Daniela chegando à porta do Bar Brisa, usando um conjunto esportivo branco e carregando uma sacola azul com o presente.

Bruno, que fumava nervoso do lado de fora, ao vê-la, jogou rapidamente o cigarro no chão e, pisando forte sobre ele, correu ao encontro dela.

— Dani, finalmente você chegou! — Ele a saudou com um sorriso sincero, mas logo se mostrou surpreso ao reparar no visual diferente. — Ué, hoje resolveu mudar tudo? Veio de roupa esportiva?

Seus olhos castanhos brilharam com a novidade, mas como de costume, transformou surpresa em piada.

— Sendo você, qualquer roupa cai bem. Vem! Todo mundo já estava se perguntando de você. — Chamou Bruno, já abrindo caminho na direção da sala VIP, convidando Daniela a seguir.

Na entrada da sala VIP, Bruno espiou pelo vidro fosco, conferiu se estava tudo certo e, se aproximando, abaixou o tom da voz:

— Dani, você sabe... hoje é um dia especial para mim, a inauguração, então não importa o que...

Mas nem terminou a frase. A porta da sala abriu de repente e lá estava Mariana, com um vestido preto de alças finas e maquiagem impecável.

— Srta. Daniela, que bom que você veio! — Ela sorriu de forma calorosa.
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