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Capítulo 6

Author: Hannah
Os dedos de Daniela apertaram a sacola de papel, sentindo-se tensa diante de Mariana, que estava ali bem na sua frente. O olhar dela vacilou por um instante, mas logo fechou a expressão, deixando uma frieza surgir nos lábios.

Ver Mariana de repente fez Bruno ficar meio desconfortável que ele mexeu apressado no cabelo recém-pintado de vermelho, dando um sorriso meio torto antes de se explicar.

— Dani, a Mariana só apareceu porque soube da inauguração do bar. Veio para comemorar comigo, não imagina besteira, tá? — Ele falou rápido, tentando justificar.

Desde o momento em que viu Mariana acompanhada de Severino, Bruno sentiu um aperto no coração. Por isso ele já estava de olho na entrada, esperando Daniela chegar, querendo avisá-la. Só não esperava que Mariana fosse aparecer por conta própria.

E, mesmo sabendo que Severino e Mariana tinham oficializado o relacionamento, Bruno sentia, lá, no fundo, que Daniela sempre foi a pessoa certa para ele.

— É exatamente isso, Srta. Daniela. Não me entenda mal. — Mariana tentou se explicar também, procurando pelo olhar de Severino, que bebia calmamente em um canto reservando no sofá. — Quando o Severino contou que o bar do Bruno ia abrir hoje, pensei que com tanto tempo de amizade não tinha como não vir comemorar.

Mariana ficou ali parada, envergonhada, o rosto corado e um pouco nervosa. A maquiagem destacava sua expressão delicada, e ela mordeu levemente o lábio enquanto, meio sem jeito, trocava olhares com Severino.

Por alguns segundos, Bruno não sabia o que dizer. Sua expressão ficou ainda mais aborrecida, então ele respirou fundo, querendo acabar logo com a tensão.

— Bora entrar, pessoal, nada a ver ficar aqui no corredor.

— Isso, vamos logo. — Concordou Mariana, com um aceno leve.

Ela entrou primeiro e foi direto se sentar ao lado de Severino. Daniela, por sua vez, entrou silenciosa, passando a mão de leve no curativo na testa, seguindo Bruno até a mesa.

Severino parou o que estava fazendo ao vê-la.

— Dani, que bom que você veio. — Ele disse, levantando rápido, deixando de lado a taça de vinho recém-servida para ir na direção dela.

Mas, ao ver Daniela vestida com roupas esportivas, ficou surpreso. O sorriso sumiu do rosto na hora.

— Você resolveu vir de moletom para o bar mesmo? — Perguntou Severino, franzindo a testa.

Daniela olhou para ele com ar desafiador. Deu uma leve inclinada na cabeça, fazendo seu rabo de cavalo balançar.

— E qual o problema? — Falou com simplicidade, sem perder o controle.

— Não é exatamente um problema... — Severino coçou o nariz, sentindo o clima pesado, convencido de que Daniela ainda estava magoada com os eventos mais cedo no hospital.

— Sobre hoje, Dani... Não tive escolha nenhuma. — Ele começou, olhando nos olhos dela. — Os repórteres cercaram a Mari e o filho dela, quase como lobos, perguntando um monte de coisas maldosas. Eu não pude ver isso tudo acontecer e simplesmente ficar parado, ainda mais depois de tantos anos de amizade. Então decidi...

Mal terminou, Daniela já o interrompeu, com o olhar duro e gelado:

— Então você decidiu virar pai do dia para noite?

— Eu... — Severino parou, sem palavras. Agarrando as mãos frias de Daniela com nervosismo, tentou explicar. — Não tive escolha. Se eu não tivesse agido, eles não iam deixar Mariana e Henry em paz. Era só para resolver a situação do momento, Dani. Quando passar essa confusão, a Mari mesma vai esclarecer tudo para todo mundo. Eu prometo.

Daniela permaneceu impassível, as sobrancelhas franzidas, o rosto pálido como porcelana. Ouvia a justificativa dele sem qualquer emoção, só o sarcasmo preenchia seu peito. Sem dar tempo para ele insistir, soltou as mãos, apertou os lábios e, com um movimento rápido, entregou a sacola azul para Bruno.

— Trouxe só um gatinho da sorte. Nada de luxo. Que te traga sucesso.

Bruno nem pensou duas vezes, pegou o presente sorrindo largo, tentando aliviar o clima.

— Dani, você ter vindo já me deixa super feliz. Vou deixar o gatinho na minha mesa para dar sorte mesmo. — Ele respondeu, passando o olhar rápido de Severino para Daniela antes de sugerir, animado. — Bora sentar, gente.

De olho no ambiente carregado, Bruno trocou um olhar de preocupação com Severino.

Sob a luz fraca, Severino respirou fundo, o rosto fechado e a testa ainda mais franzida.

— Dani, sei que errei hoje. Quando a gente voltar para casa explico tudo, tá? Mas vem aqui, senta comigo.

Ele estendeu a mão, querendo puxá-la para perto, mas Daniela foi mais rápida, afastando as mãos para trás e indo direto para o lugar mais afastado do sofá, sentando-se praticamente no canto.

Severino permaneceu parado, as mãos fechadas com força do lado das pernas, com uma expressão dura e escura no rosto. A tensão era tanta que as veias das têmporas se destacaram.

Ele realmente não conseguia entender por que Daniela, de repente, estava tão fria com ele, já que, na cabeça dele, só estava tentando ajudar Mariana. Por que ela tinha mudado tanto de uma hora para outra?

— Severino, não adianta querer jogar a culpa na Dani. Se fosse qualquer outra mulher, teria zangado. — Bruno falou num tom baixo, chegando perto do amigo como quem dava um conselho, com aquele suspiro resignado. — Sinceramente, só dela ter vindo hoje já mostra que é muito mais compreensiva do que 99% das mulheres por aí. Eu te falei antes, pensa bem antes de se meter com esses problemas de Mariana. Você está quase casando, aí do nada aparece um filho perdido. Você queria que a Dani reagisse como?

— Já expliquei tudo para ela. Foi um baita de um mal-entendido. — Severino respondeu, com o rosto fechado. Ele pegou a taça de vinho e tomou num gole só.

Sentiu o vinho queimar na garganta, o gosto amargo só tornando tudo ainda mais difícil de engolir. Respirou fundo para não perder o controle.

— Você não viu como estava a Mari hoje, nem o filho dela. Se você estivesse na minha pele, também não ia conseguir virar as costas para eles.

— Eu não teria feito isso, nem ferrando... — Bruno murmurou, desviando os olhos, ainda mais porque notou Mariana olhando para Severino o tempo todo, claramente preocupada com a reação dele.

— O que você disse aí? — Os dedos pálidos de tanto apertar a taça, Severino estreitou os olhos escuros e ergueu a sobrancelha com frieza.

— Eu só disse que não... — Bruno começou a responder baixinho, mas logo foi interrompido quando uma voz suave e animada ecoou pelo espaço.

— Gente, quero cantar uma música para celebrar a abertura do bar do Bruno! — Mariana avisou de repente, já indo direto para o pequeno palco montado na sala VIP.

— Vim tão na correria hoje que nem deu tempo de comprar um presente decente para você, Bruno. — Ela disse com um sorriso leve, pegando o microfone prateado. — Mas quero compensar isso cantando para todo mundo aqui.

Ela segurou o microfone com as duas mãos, olhou bem para Severino e sorriu daquele jeito tímido e doce, deixando no ar um clima diferente.

— A música que escolhi é a que eu mais amo, aquela que me ajudou a aguentar tanta coisa nesses anos, que sempre me deu força para seguir em frente. E não é só isso, tem um significado enorme para mim porque foi o Severino quem escreveu para mim. O nome é "Primeira Vez".

De repente, todo o barulho da sala ficou em silêncio. Quase sem perceber, todo mundo virou o rosto na direção do canto do sofá, olhando para Daniela.
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