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Capítulo 4

Author: Hannah
— Por favor, venha ver minha mãe, rápido! Ela se machucou, eu não sei o que fazer! — Henry suplicou, claramente em pânico.

Tomado de surpresa, Severino arregalou os olhos sem conseguir disfarçar a preocupação cada vez maior que sentia. As perguntas escaparam sem ele notar.

— Como assim, Henry? O que aconteceu com sua mãe? Onde ela se feriu? É grave? Onde ela está agora? Eu devia saber que uma criança não poderia lidar com isso sozinha.

Mesmo de olhos fechados, Daniela quase conseguia ver a aflição no rosto dele.

Num gesto nervoso, Severino passou a mão pelos cabelos, visivelmente tenso. Lançou um último olhar para Daniela, ainda recostada contra a parede, e disse:

— Dani, fica aqui e termina de medir a febre certinho. Eu vou lá ver a Mari. Ela acabou de voltar para cá, não conhece nada direito, fico preocupado. Fica tranquila, só me espera aqui, eu já volto.

Sem permitir qualquer protesto, ele lhe deu um rápido afago na cabeça, colocou o copo quente nas mãos dela e logo saiu apressado, puxando Henry pela mão.

Daniela continuou sentada. Abriu os olhos devagar, encarou o copo que, por mais quente que estivesse, não conseguia aquecer seu peito. O olhar dela era puro sarcasmo.

Uns cinco minutos depois, ela entregou o termômetro ao médico de plantão.

— Meu Deus, sua febre já está em quarenta! Por que demorou tanto para vir para o hospital? Cadê seu acompanhante? Preciso dele aqui para fazer a ficha e pagar as taxas, porque você precisa tomar soro urgentemente para baixar essa febre! — A médica falava depressa enquanto preenchia o formulário.

— Não tenho acompanhante. — Disse Daniela, quase num fio de voz, abaixando os olhos enquanto segurava o papel de pagamento com os dedos trêmulos. Com os lábios rachados pela secura, tentou engolir a amargura, mas só restou seguir sozinha até a caixa.

...

Do outro lado, Severino, guiado por Henry, finalmente encontrou Mariana.

— Mari, me conta o que houve, você se machucou onde? — Ele se aproximou num pulo, olhando preocupado para a mão dela envolvida em gaze. — Como isso aconteceu, foi de repente?

— Senhor Severino, minha mãe só se machucou por sua causa. — Disse Henry, com a voz trêmula, as lágrimas ainda penduradas nos cílios.

— Por minha causa? — Severino ficou surpreso e se voltou para Mariana, esperando uma explicação. — Mari, o que aconteceu afinal?

Com maquiagem impecável, Mariana mostrou um sorriso envergonhado e mordeu de leve o lábio, antes de falar baixinho:

— Na verdade, não foi nada demais. Eu só queria retribuir tudo o que você fez por mim e pelo Henry, então pensei em cozinhar para você, mas você sabe como sou péssima nisso. Desde o começo, né? Eu queria te dar uma surpresa, só que logo que comecei já me queimei com o óleo. Tinha acabado de jogar os legumes lavados na panela e o óleo espirrou. Severino, será que sou tão desastrada assim?

— Ah, Mari, você continua sendo essa bobinha adorável de sempre. — Ele riu, bagunçando levemente o cabelo dela. — Se coloca legumes molhados no óleo quente, claro que vai espirrar! Para mim está tudo bem, não precisa se preocupar em cozinhar. Seu rosto é seu charme, imagina se se queima só para me agradar? Isso, não.

— Se fosse por você, Severino, eu não ligaria de me queimar... — Mariana sorriu, com o olhar perdido nele, os olhos molhados brilhando de sinceridade.

No momento em que olhou para ela, Severino sentiu o coração disparar e desviou o olhar. Mariana percebeu aquela reação e abriu ainda mais o sorriso.

Enquanto isso, alguém gritou no corredor:

— É a Mariana!

— Olhem, ela está ali!

De repente, uma multidão de jornalistas surgiu correndo na direção deles, todos segurando câmeras e microfones. Num reflexo automático, Severino se pôs à frente, protegendo Mariana e Henry.

Ao mesmo tempo, Daniela, que acabava de voltar da caixa, seguia pelo corredor tentando chegar até a sala de soro, quando sentiu o tumulto avançando como uma enxurrada de gente com flashes e microfones.

— Ali! É Srta. Mariana!

— Não vai embora, Srta. Mariana. Queremos fazer algumas perguntas!

— Srta. Mariana, só um minutinho!

A confusão tomou conta do hospital em poucos segundos.

Parecendo um enxame descontrolado de abelhas, repórteres se lançaram para cima de Mariana. Daniela, cada vez mais exausta, se encostou na parede para tentar escapar do movimento, mas alguém a empurrou sem querer. Quando percebeu, já estava caída no chão.

A multidão, cega pelo espetáculo, passou por cima de Daniela sem nem olhar. No meio do empurra-empurra, sentiu uma dor aguda na testa e, num instante, uma sensação quente começou a escorrer pelo rosto. Só então percebeu que estava sangrando.

— Srta. Mariana, o que te trouxe de volta desta vez?

— E esse menino, Srta. Mariana, de quem ele é filho afinal?

— Dizem por aí que esse menino seria fruto de um caso seu com um magnata do meio. Isso é mesmo verdade?

O ambiente foi tomado por flashes incessantes que ressaltavam o semblante pálido de Mariana. Ela se encolhia ainda mais nos braços de Severino, enquanto pressionava com força as mãos sob as orelhas de Henry, tentando protegê-lo do turbilhão de vozes e perguntas.

A cada pergunta, o olhar de Mariana se enchia de lágrimas. Elas escorriam grossas, traçando caminhos silenciosos em seu rosto, enquanto seus olhos, cheios de fragilidade, buscavam apoio em Severino.

Ele não conseguiu suportar. Assistir Mariana, mesmo apavorada, fazendo de tudo para proteger o filho, apertou seu peito de um jeito quase sufocante. Instintivamente, segurou suas mãos com mais força, querendo ser o abrigo que ela tanto precisava naquele instante.

— Já chega! Aqui é um hospital, vocês ficaram loucos de invadir assim? Saíam daqui agora. Se não saírem, vou chamar a polícia.

Quando Severino ergueu a voz, os repórteres se agitaram.

— Mas, senhor Severino, há boatos rodando na internet de que o senhor e a Srta. Mariana já são casados oficialmente, isso é verdade?

— Vocês vieram para o setor de obstetrícia, Mariana estaria grávida de novo?

Ao escutar a última pergunta, Severino endureceu na mesma hora. Ele lançou um olhar direto para a placa do corredor e seu semblante ficou ainda mais fechado.

— Você trabalha para qual jornal? Sabe muito bem que mentir assim traz consequência. Mariana não está grávida. E tudo o que viemos fazer aqui diz respeito só à nossa vida. Não interessa a vocês nem a ninguém. Façam o favor de sair do nosso caminho antes que arquem com as consequências!

O tom de Severino disse tudo. Os repórteres se entreolharam, desconcertados, sem saber como responder por um momento.

Foi então que Mariana, com o rosto ainda pálido e o olhar úmido, tomou coragem e ergueu a voz:

— Eu só peço, por favor, não machuquem mais meu filho. Ele é só uma criança e não tem culpa de nada disso. Perguntem o que quiserem para mim, mas deixem o Henry em paz. Faço qualquer coisa para proteger meu filho, mas me deixem protegê-lo.

— Mamãe, estou com medo. — Henry, que até então só choramingava, finalmente se largou em lágrimas desesperadas.

— Nossa intenção é só descobrir quem é o verdadeiro pai da criança! — Alguém entre a multidão provocou.

— Srta. Mariana, desde o início da sua carreira você sempre foi símbolo de pureza, mas agora, após ir para fora, volta já com um filho. Quem acompanha sua trajetória tem direito de saber o que houve.

— Isso mesmo, esclarece logo! Assim a gente para de perguntar.

— Não são só os repórteres, seus fãs também esperam uma resposta. Quem é o pai do garoto, Srta. Mariana?

As perguntas se sucederam como uma saraivada, misturando-se aos gritos e choros, num caos de vozes desencontradas.

Até que Severino, vendo Mariana e Henry levados ao limite e sem conseguir mais suportar aquela cena, fechou ainda mais o rosto. Ele protegeu os dois em um abraço forte e respondeu num tom baixo, mas firme o suficiente para calar o corredor:

— O pai desse menino sou eu.
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