— Toma essa água morna primeiro, depois te conto tudo. — Disse Daniela, enquanto encaixava o copo nas mãos ainda geladas de Larissa. Encheu o peito de ar e passou a língua nos lábios, o nervosismo estampado no rosto. — O que vou falar agora vai te deixar de queixo caído, mas jura que vai manter a calma.Vendo Daniela com aquela cara de velório, Larissa engoliu em seco e prendeu a respiração, se preparando para a bomba que estava por vir.— Bom, é o seguinte. Vou me casar e esta aqui é minha casa de casada.— Que porra é essa? — Larissa saltou do sofá que nem foguete e derrubou a água, que voou direto na cara da Daniela, encharcando ela toda.Daniela ficou ali parada, pingando que nem torneira quebrada.— Você quer me deixar desfigurada, é essa a ideia?Ainda bem que a água não estava fervendo, senão ela tinha virado linguiça.— Ai, desculpa! Foi reflexo! Eu só me assustei demais... — Larissa ficou toda atrapalhada e já esticava a manga para limpar a cara da amiga.— Para aí! Eu me viro
Jardim Verde.Daniela chegou em casa trazendo Larissa e deu de cara com uma confusão danada na casa vizinha. O pessoal da mudança estava numa correria louca, subindo e descendo com móvel para todo lado.A curiosidade bateu e Daniela se dirigiu ao portão onde encontrou o porteiro conhecido parado na guarita.— Caio, finalmente venderam a casa do lado?Desde que Daniela tinha se mudado para o bairro, aquela mansão ficava encalhada, com placa de venda tremulando no vento.— Oi, Srta. Daniela! — Caio escutou a voz dela e veio correndo com um sorriso de uma orelha na outra. — Venderam, sim, fecharam ontem de noite e hoje cedo já apareceu essa galera toda. Pelo que soube, o novo morador está com pressa braba para se instalar. Nem quis mexer na decoração, só mandou trazer os móveis dele.— Que coisa... — Daniela deu uma olhada rápida nele, vendo que estava com cara bem melhor que antes, e relaxou aliviada. — E aquela tosse danada, ainda está pegando no seu pé?— Que nada, estou novo em folha!
— Para de bancar o coitadinho, que nojo! — Completou Daniela, com desprezo.A porta do quarto bateu com uma pancada seca!Severino ficou plantado no corredor com a cara emburrada, olhando para os pães de açúcar espalhados pelo chão. A raiva borbulhou no peito e ele ergueu o pé para pisar com força em cima de um deles!O pãozinho redondo estourou que nem balão, espalhando recheio de carne por todo canto enquanto o cheiro de carne moída com cebolinha invadia o corredor....Após resolver toda a burocracia da alta da Larissa, Daniela mandou ela esperar no saguão e subiu para ver como estava Ivana.Abriu a porta do quarto e deu de cara com uma mulher de uns quarenta e poucos anos de conjunto azul, que estava cuidando das mãos da Ivana com a maior paciência do mundo.A mulher notou que alguém tinha chegado, se virou e abriu um sorriso acolhedor.— Você é a Srta. Daniela, né? Sou a cuidadora que a Srta. Sabrina enviou. Me chama de Laura.Laura tinha um rosto redondo e bondoso, apanhou a toal
Severino captou o nervosismo dela na hora e abriu um sorriso de quem acabava de tirar a sorte grande. Recuou um passo para não pisar na bagunça espalhada pelo chão, cruzou os braços com toda tranquilidade do mundo e soltou uma risadinha provocativa.— Dani, que aflição é essa? Calma, não vou fazer mal nenhum para ela.Daniela cerrou os punhos até os nós dos dedos ficarem brancos, travou a boca e o encarou com um olhar cortante como navalha. A inquietação tomava conta dela e era impossível disfarçar.— Ela é sua professora, uma pessoa que respeito muito. Sabendo que está doente e internada aqui, eu como seu noivo posso muito bem-fazer uma visitinha de cortesia.— Então você está me ameaçando mesmo? — Daniela destravou os lábios e o fuzilou com uma expressão que prometia problema.— Dani, que história é essa de ameaça? Você me conhece, quando que fiz alguma maldade dessas? — Severino fingiu ser a própria inocência, mas por dentro estava se lambuzando de satisfação.Quanto mais Daniela se
Após refletir um pouco, Severino conseguiu identificar exatamente por que Daniela havia explodido daquele jeito. Primeiro, ele tinha vindo interceder pela Mariana, o que despertou ciúmes e irritação nela. Segundo, havia tocado no assunto do pai, provocando a fera que dormia dentro dela.Daniela estreitou os olhos e franziu o cenho, apertando com força a maçaneta gelada da porta enquanto permanecia em silêncio, claramente decidindo se valia a pena continuar discutindo com ele.— Estou indo embora, mas logo vamos...Antes que Severino pudesse terminar a frase, Daniela bateu a porta bem na cara dele.Severino ficou plantado no corredor, encarando a madeira fechada enquanto esfregava o nariz que quase foi atingido. Fez uma careta e murmurou sozinho, determinado a ter a última palavra:— Logo vamos nos ver de novo.A porta se abriu novamente, pegando-o de surpresa.Severino sentiu uma faísca de esperança se acender no peito, convencido de que havia interpretado a situação corretamente.Conh
— De jeito nenhum. — Daniela recusou de pronto, sem dar margem para negociação.Severino ficou mudo por um instante. A cordialidade que fingia manter se desfez aos poucos enquanto permanecia ali com o semblante cada vez mais sombrio, pressionando-a com irritação crescente:— Por que não? Qual é o problema? Dani, desde quando você ficou tão fria assim? Henry tem só quatro anos. Você consegue mesmo ver esse menino perdendo a mãe sem fazer nada? Me lembro que você também perdeu seu pai cedo. Ninguém melhor que você sabe o que é ficar sem um dos pais, não acha? Tenta se colocar no lugar da criança...— A Mariana foi sentenciada à morte por acaso? — Daniela saltou da cadeira com os olhos flamejando de raiva, encarando-o com uma frieza cortante. — Você mesmo vive dizendo que quem faz errado tem que pagar. Agora ela está pagando pelo que fez. Que razão tem para se queixar?A fúria explodiu no peito de Daniela, que fechou as mãos com tanta força que as unhas perfuraram as palmas. Respirou pesa