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Capítulo 2

Author: Peixe Dourado
Plaf! Algo macio caiu aos pés de Sabrina, despertando-a de seu breve transe.

Ela abaixou o olhar, confusa, e viu um bolo azul de pasta americana jogado no chão.

— Mamãe, já falei que eu não quero que você faça meu bolo de aniversário! — A voz insatisfeita de Diego ecoou pelos seus ouvidos. Ele ergueu o rosto para encará-la com impaciência. — É feio e horrível! Você não entende o que eu digo?

O que estava acontecendo…

Sabrina prendeu a respiração. Ela piscou, tentando entender. Será possível? Ela havia renascido? Será que ela realmente havia voltado para um ano atrás, no aniversário de Diego?

Diego continuava reclamando, sem perceber a expressão atônita de Sabrina:

— Eu quero comer o bolo que a tia Margarida fez!

— Mamãe, eu acho que o bolo que você fez está uma delícia. Se o Diego não quiser, eu como tudo sozinha. — A voz doce e delicada de Cecília soou novamente, enchendo o coração de Sabrina com uma mistura de alegria e tristeza.

Sabrina abaixou o olhar e encontrou o rostinho magro e delicado da filha. Suas lágrimas embaçaram a visão.

Ela se ajoelhou, segurou o rostinho pequeno da filha com as duas mãos e sentiu o calor real daquela pele. Foi então que ela acreditou: ela realmente havia renascido.

Nesta vida, ela não deixaria Cecília sofrer nem por um segundo.

Cecília virou-se para Diego, com o rosto sério:

— Você não pode falar assim com a mamãe. Não tem medo que ela nunca mais faça bolo para você?

— Pode ficar com ele pra você. Eu nem ligo. — Diego respondeu com desdém, puxando a mão de Margarida. — Eu quero que a tia Margarida seja a minha mãe. A tia Margarida faz coisas gostosas, me leva para andar de cavalo e escalar montanhas. Já a mamãe nem sabe o que é equitação, é uma vergonha. O papai gosta da tia Margarida, e eu também!

Afonso franziu o cenho, irritado:

— Que besteira você está falando?

Margarida, vestindo uma jaqueta de couro sofisticada, sorriu com confiança. Ela passou o braço esquerdo pelo ombro de Afonso em um gesto descontraído, como se fossem velhos amigos, e com a outra mão bagunçou os cabelos de Diego.

— Ah, ser mulher do seu pai não deve ser nada fácil, viu? Mas fica tranquilo, eu e ele somos só amigos de verdade, daqueles que confiam a vida um no outro. E, Diego, querido, eu já não te ensinei a não falar assim com a sua mãe? O que foi, agora você não escuta mais o que eu digo?

Diego fez um bico, mas se aproximou ainda mais de Margarida, buscando seu afago. Ele pegou o presente que Sabrina tinha dado e o jogou no chão, com desprezo:

— Mas a mamãe só sabe me dar presentes baratos, como essa caneta boba. Ela nunca me dá brinquedos. Não é igual você, que me deu aquele modelo de avião que fez com suas próprias mãos. Ele até voa! É muito mais legal que qualquer coisa que a mamãe me deu.

Anteriormente, o pai dele havia comentado que Margarida queria projetar aviões grandes no futuro. Ele até falou que Diego poderia um dia viajar em um avião desenhado por ela. Isso parecia tão incrível aos olhos do menino.

Já a mãe dele? Sabrina era só uma mulher simples, que não sabia de nada e, para ele, não passava de uma pessoa sem graça.

Sabrina observou o garoto que ela havia criado como se fosse seu próprio filho, agora enfiado ao lado de Margarida. Do fundo do coração, ela achou graça.

Como ela nunca havia percebido antes?

Diego era filho de Margarida, era natural que ele se sentisse mais próximo dela — mesmo que ele não soubesse que sua verdadeira mãe era Margarida.

Na vida passada, Sabrina tratou Diego como se fosse seu próprio filho, tudo para tentar ganhar um mínimo de afeto de Afonso. Mas eles dois sempre tomaram isso como algo natural, como se fosse obrigação dela.

Agora, ela não iria mais engolir desaforos em silêncio, nem permitir que Cecília continuasse sofrendo humilhações ou injustiças!

Sabrina abaixou-se, pegou a caneta caída no chão e, sem nenhuma emoção em seu rosto, sorriu de leve:

— Margarida, você realmente sabe cuidar das pessoas. Então, de agora em diante, deixo o Diego e o Afonso por sua conta.

Margarida congelou no lugar, surpresa. Ela claramente não esperava uma resposta tão direta de Sabrina. Não houve discussões, implorações ou lágrimas. Apenas um sorriso calmo, como águas tranquilas.

No instante seguinte, Margarida virou-se para Afonso com um olhar preocupado:

— Afonso, será que eu disse algo que fez a Sabrina me interpretar mal? Melhor eu não falar mais nada. Acho que exagerei.

Afonso franziu ainda mais o cenho e lançou um olhar de reprovação para Sabrina:

— Vai continuar pagando de criança na frente de todo mundo? Não fala besteira sem pensar.

Era óbvio que ele estava defendendo Margarida. Para ele, Sabrina era quem estava sendo irracional.

Sabrina olhou diretamente para Afonso. O olhar dele era frio, indiferente, como sempre foi. Mesmo na frente de tantas pessoas, ele não hesitou em proteger Margarida, deixando Sabrina sem qualquer consideração.

Ele tinha tanta certeza de que ela nunca o deixaria que agia como se tudo fosse um direito dele.

Mas desta vez, Sabrina não seria a mesma mulher tola de antes. Não ficaria ali, aguentando tudo em silêncio, só para que Cecília pudesse passar o aniversário com o pai.

Ela havia renascido. E, desta vez, ela seria a fortaleza de Cecília.

Ninguém mais teria a oportunidade de ferir sua filha. Tudo o que Cecília precisasse, Sabrina daria a ela com suas próprias mãos.

Ela desviou o olhar com indiferença e segurou a mão da filha.

— Cecília, vamos. Eu vou te levar para comemorar seu aniversário.

Nesta vida, Sabrina não permitiria que a filha continuasse sendo alvo de olhares de desprezo ou sofrendo humilhações gratuitas.

Cecília lançou um olhar esperançoso para Afonso, mas, no final, decidiu seguir a mãe e sair dali.

No entanto, elas mal haviam dado alguns passos quando foram interrompidas.

— O Sr. Afonso deixou claro que, enquanto a festa de aniversário do Diego não terminar, ninguém pode sair.

Sabrina encarou a mão que a impedia de passar. Sentiu o peso daquela situação em seu coração.

Afonso sempre dava a Diego toda a atenção, todo o prestígio, a ponto de todos acreditarem que Diego era seu único e verdadeiro filho. Para os outros, Cecília era apenas uma filha ilegítima que Sabrina supostamente teve fora do casamento.

Agora, até mesmo no aniversário de Diego, ele fazia questão de impor regras, como se fosse um evento inabalável. Mas será que, no fundo, ele se lembrava de que Cecília também fazia aniversário naquele mesmo dia?

Claro que não!

Sabrina sabia bem disso. Quando ela deu à luz Cecília, enfrentando uma hemorragia que quase as matou, ele sequer estava ao seu lado. Afonso estava com Margarida, que também estava dando à luz naquele dia.

Ele usava como justificativa o fato de que Margarida estava sozinha e precisava de apoio. Ele precisava estar lá. E, assim que Margarida deu à luz Diego, ela partiu para o exterior, deixando o filho para trás, alegando que precisava se dedicar à carreira.

Agora, Margarida estava de volta, com dois diplomas de prestígio em Finanças e Engenharia Aeroespacial. Com sua reputação em alta, diversas empresas a disputavam, mas ela recusava todas. Ouviu-se que ela queria ingressar no Instituto Nacional de Engenharia de Aviação (INEA) para trabalhar no desenvolvimento de novos projetos. Era um ambiente extremamente competitivo e com exigências rigorosas, mas Afonso estava usando sua influência para ajudá-la a entrar.

Na vida anterior, Sabrina nunca prestou atenção nessas coisas. Ela só tinha olhos para Afonso e não se importava com os avanços profissionais de Margarida. Pelo contrário, foi ingênua o suficiente para criar o filho de Margarida por cinco anos, sacrificando sua própria vida e sonhos para ser uma esposa dedicada e uma mãe exemplar.

Agora, olhando para trás, Sabrina achava tudo isso ridículo.

Ela soltou uma risada fria.

— As regras do Sr. Afonso não me prendem.

No passado, ela se importava demais com Afonso e com seu papel como a Sra. Barreto. Mas, desta vez, ela não iria mais se rebaixar. Sabrina não queria mais ser apenas uma secretária ou assistente de Afonso. Ela estava decidida a retomar sua carreira, alcançar o sucesso e, principalmente, ser uma fortaleza para Cecília.

A expressão de Afonso ficou visivelmente sombria, e sua postura exalava um frio intenso e ameaçador.

Sabrina notou o olhar dele, mas apenas riu para si mesma.

Talvez ele estivesse se perguntando por que sua esposa, antes tão submissa e obediente, agora o desafiava publicamente.

Mas se ele estava irritado, isso era problema dele. Ela não seria mais a mulher que aceitava tudo em silêncio.

No instante seguinte, Sabrina tirou a aliança de casamento do dedo e a lançou com força ao chão. O som do anel batendo no piso ecoou pelo salão, provocando uma onda de suspiros surpresos entre os convidados.

— Afonso, vamos nos divorciar. Diego fica com você. Cecília fica comigo. O acordo de divórcio estará na mesa da diretoria amanhã cedo.

Se ele amava tanto Diego e Margarida, ela os deixaria juntos.

Sabrina não apenas rejeitou Afonso, mas fez isso diante de todos, deixando-o sem saída.

Afonso lançou um olhar pesado e fixo para ela.

— Sabrina, até quando você vai continuar com esse drama? Diego ainda é uma criança. Você realmente vai pedir o divórcio por uma coisa tão pequena?

Na visão de Afonso, que nunca a amou, tudo o que Sabrina fazia parecia ser um exagero ou uma provocação infantil.

Mas Sabrina não cometeria mais os mesmos erros. Nunca mais viveria na indiferença dele. Nunca mais seria a mulher que criava um filho que não era seu, enquanto recebia apenas desprezo em troca.

Afonso e Diego não faziam mais parte da nova vida de Sabrina.

Ela olhou diretamente para ele, com frieza nos olhos:

— Sim, vou.

Então, voltou-se para o segurança que ainda bloqueava o caminho.

— Agora, saia da minha frente.

O segurança, visivelmente desconfortável com a tensão no ambiente, deu um passo para o lado, deixando Sabrina e Cecília passarem.

Afonso permaneceu parado, com o rosto tão sombrio que parecia prestes a explodir.

Ele observou a figura decidida de Sabrina, que caminhava segurando a mão de Cecília. A determinação dela era inabalável, e cada passo parecia um golpe em seu orgulho.

Atrás dele, Margarida quebrou o silêncio.

— Sabrina deve ter entendido algo errado. Eu vou falar com ela... Você sabe como as mulheres podem ser. Quando ficam com raiva, são capazes de fazer qualquer coisa.

Ela deu um passo à frente, com o rosto cheio de preocupação fingida.

— Não vá atrás dela. — Afonso respondeu com frieza. — Ela não vai se divorciar de mim.
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