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Capítulo 3

Author: Peixe Dourado
À noite, a festa de aniversário finalmente chegou ao fim.

Diego, sentado no banco de trás do carro, ainda agitava as mãos no ar, cheio de energia e felicidade. Afinal, para ele, aquela noite havia sido perfeita. Pela primeira vez, sua mãe não estava presente para controlá-lo. Ele pôde comer tudo o que quis e, além disso, teve Margarida ao seu lado, mimando-o de todas as formas. Para Diego, Margarida era muito melhor que sua mãe.

Quando o Maybach parou em frente à entrada da mansão, Diego fez um bico e, contrariado, desceu do carro segurando a mão de Afonso.

Sempre que saía para se divertir, Diego ficava relutante em voltar para casa, porque sabia que sua mãe estaria lá esperando por ele. No entanto, Margarida havia lhe ensinado que ele precisava respeitar todos os esforços da mãe, mesmo que não gostasse dela. Ela também prometeu que, se ele fosse obediente, da próxima vez o levaria para fazer ainda mais coisas divertidas.

Afonso também havia reforçado que, se ele não se comportasse, não poderia sair com Margarida novamente. E foi assim que, mesmo contrariado, Diego decidiu voltar para casa.

— Papai, amanhã eu quero brincar com a tia Margarida de novo. Não deixa ela ir embora para outro país, pode ser? Assim, a mamãe não vai mais poder me controlar.

Afonso respondeu com um tom neutro, sem entregar qualquer emoção:

— Ela vai viajar por um tempo, mas depois volta e fica com você.

Afonso e Sabrina estavam casados havia seis anos. Durante todo esse tempo, Sabrina sempre o agradava, sempre cedia. Tudo o que ela dizia ou pedia, Afonso geralmente recusava.

Com Margarida, porém, era diferente. Ele sempre fazia o possível para atender seus desejos.

Diego, apesar de ser apenas uma criança, percebia a relação especial entre seu pai e Margarida. O sorriso satisfeito que surgiu em seu rosto ao ouvir a resposta de Afonso deixava isso ainda mais evidente.

Assim que entraram na casa, Diego correu pela sala de estar e gritou animado:

— Mamãe, põe água no meu banho! Quero tomar um banho de leite bem cheiroso!

Hoje, Margarida havia elogiado como ele cheirava a leite docinho, dizendo que o aroma lembrava o cheiro de Afonso quando era criança.

Antes mesmo de ouvir a resposta da mãe, Tábata, a governanta, apareceu para recebê-los.

— Diego, sua mãe não está em casa esta noite. Que tal eu preparar o banho para você?

Afonso, com um tom indiferente, perguntou:

— Onde ela está?

Tábata respondeu com a mesma neutralidade:

— Não sei, senhor. Hoje, tanto a Sra. Barreto quanto Cecília não voltaram para casa. Ah, e isto aqui…

Tábata estendeu um envelope selado para ele.

— A senhora pediu que eu entregasse para o senhor.

Afonso abaixou o olhar e pegou o envelope. Sem muito interesse, ele o jogou sobre a mesa. Depois, virou-se para Diego:

— Deixe que Tábata prepare o seu banho.

Diego, porém, parecia estar se divertindo com a ausência da mãe e da irmã:

— Se a mamãe e a Cecília não estão em casa, o quarto de brinquedos agora é só meu!

Afonso sorriu de canto e bagunçou os cabelos do filho:

— É todo seu.

Diego, empolgado, continuou:

— Não quero mais brincar com os blocos e brinquedos que a Cecília me deu. São todos chatos e sem graça. Quero colocar os brinquedos que a tia Margarida me deu no quarto, e não vou deixar a Cecília usar nenhum deles!

Para Diego, era simples. Cecília não gostava de Margarida, só gostava da mãe. Mas, para ele, Sabrina não tinha nada de especial. Era apenas uma mulher simples, sem graça, que não tinha motivo para ser admirada.

— Papai, já que a mamãe não está em casa, posso pedir para a tia Margarida dormir comigo hoje?

— Não. — Afonso respondeu sem titubear. — Sua tia Margarida está ocupada.

Diego fez um bico, mas aceitou a resposta e subiu para tomar banho.

No meio da escada, Tábata parou de repente e olhou para Afonso com uma expressão hesitante:

— Senhor, acho que a Sra. Barreto arrumou as malas dela e as de Cecília antes de sair. Talvez ela tenha ido para a casa dos pais.

Afonso assentiu, mas continuou com a mesma expressão apática. Ele não se importava.

A família Costa, os pais de Sabrina, nunca foi um bom apoio para ela. No fim das contas, o único lugar para onde podia voltar era a casa dos Barreto.

Normalmente, Sabrina era paciente, compreensiva e nunca se opunha a que Diego estivesse com Margarida. Mas hoje, ela havia se comportado de forma diferente, como se estivesse de mau humor.

Afonso tinha certeza de que, depois que a raivinha passasse, ela voltaria como sempre fazia.

Mais tarde, Afonso sentou-se no sofá da sala e respondeu a alguns e-mails de trabalho. Quando finalmente decidiu subir para se preparar para dormir, seus olhos caíram no envelope que havia jogado na mesa.

Sem pressa, ele o abriu e viu as palavras "Acordo de Divórcio" impressas em letras grandes.

Ele folheou os papéis com desdém, lendo cada cláusula com atenção. Sabrina pedia apenas cinco milhões de reais e a guarda de Cecília.

Afonso soltou uma risada curta e despreocupada. Ele não levou o pedido a sério e, sem pensar duas vezes, jogou o documento no lixo.

Para ele, aquilo era apenas mais um capricho de Sabrina. Assim que o humor dela melhorasse, ela voltaria por conta própria.

Sabrina levou Cecília até a mansão, onde juntas recolheram os pertences delas, e depois as duas se hospedaram temporariamente em um hotel.

— Cecília, você quer morar fora comigo? — Sabrina perguntou, com um tom suave.

Cecília abaixou a cabeça, mordendo o lábio inferior. Sua expressão era de hesitação e tristeza.

Sabrina se agachou para ficar na altura da filha:

— Cecília, você está com saudade do papai e do seu irmão, não está?

Cecília realmente ansiava poder chamar Afonso de pai, e ainda mais, desejava que o irmão brincasse com ela. Mas, na maior parte do tempo, ela só esperava por eles. Sempre aguardava Diego e Afonso voltarem para jantar, mesmo quando o horário já tinha passado. Sabrina muitas vezes dizia para Cecília comer, mas ela só dava duas mordidas e afirmava estar cheia, embora continuasse com fome, aguardando os dois.

Com o tempo, Cecília, ainda tão pequena e em fase de crescimento, ficou cada vez mais magra e sua saúde começou a piorar.

Sabrina, no início, pensava que a filha apenas comia pouco por ser criança. Mas, mais tarde, percebeu que Cecília estava esperando por Afonso e Diego.

Cecília ergueu os olhos, encarando a mãe com um olhar cheio de dúvidas:

— Mamãe, será que o tio não gosta de mim? É por isso que ele também não gosta de você?

As palavras da filha atingiram Sabrina como uma lâmina afiada. A dor era insuportável, como se estivesse sendo rasgada por dentro.

— Minha querida, você é perfeita. Se ele não gosta de você, é porque ele simplesmente não sabe enxergar o que realmente importa. — Sabrina segurou a pequena mão de Cecília e perguntou novamente. — Você quer vir comigo?

— Uhum… — Cecília assentiu com firmeza. — Mesmo que eu sinta falta do tio e do Diego, eu sei que você me ama mais do que tudo. Onde você estiver, eu quero estar.

Os olhos de Sabrina se encheram de lágrimas. Ela abraçou a filha com força, prometendo para si mesma que, desta vez, protegeria Cecília a qualquer custo.

Na mansão, Sabrina havia pegado apenas algumas trocas de roupa para ela e Cecília. Desde o casamento, Afonso depositava mensalmente 500 mil reais em sua conta para que ela cuidasse da casa e dos dois filhos.

Mas ele sempre dava mais dinheiro a Diego, além de trazer roupas de grife e acessórios exclusivos para o menino quando voltava de viagens. Afonso justificava dizendo que Diego era uma criança órfã de pai e rejeitada pela mãe biológica, o que o tornava digno de pena.

Na vida passada, Sabrina amou Afonso cegamente e fazia tudo o que ele queria. Ela sempre comprava presentes e roupas para ele, dedicando todo o seu tempo e energia ao marido e aos filhos. Muito do dinheiro que recebia era gasto com a família ou em eventos sociais para manter as aparências da alta sociedade. No fim, quase nada sobrava para ela mesma.

Agora, olhando para trás, Sabrina se achava ingênua e patética.

Depois de dar banho em Cecília e colocá-la para dormir, Sabrina se levantou para ir ao banheiro. Antes que pudesse chegar, o som do celular cortou o silêncio do quarto.

Era uma ligação de Tábata.

— Sra. Barreto, qual é a proporção certa do banho de leite que a senhora usa para o Diego? E qual é a temperatura da água? Ele continua dizendo que não está confortável.

— Ligue para a Margarida fazer isso. Com ela, ele vai achar confortável.

Antes que Tábata pudesse responder, Sabrina desligou a chamada.

Tábata, perplexa, respirou fundo e tentou novamente.

— Senhora…

— Eu e o Afonso vamos nos divorciar. Diego é filho dele, não tem mais nada a ver comigo. Não me ligue mais.

Sabrina falou com frieza e encerrou a ligação sem esperar uma resposta.

Tábata permaneceu em silêncio, segurando o celular, claramente desconfortável.

Afonso, que estava por perto, percebeu sua hesitação e perguntou:

— O que ela disse? Quando ela vai voltar?

Tábata engoliu em seco antes de responder:

— A Sra. Barreto disse…

Ela hesitou, mas continuou.

— Disse que quer se divorciar e que o senhor deveria chamar a Margarida para dar o banho no Diego.
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