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Capítulo 8

Author: Peixe Dourado
Margarida ainda estava tentando entender o que havia acabado de acontecer quando Sabrina, sem dar chance para respostas, virou-se e entrou no elevador, desaparecendo de vista.

Ela ficou parada por um momento, depois se virou para Afonso e perguntou, com um sorriso que misturava provocação e curiosidade:

— Afonso, sua esposa é tão explosiva assim mesmo? Você consegue lidar com ela? Não é à toa que o Diego tem medo dela. Ela parecia um pouco irritada... Não vai atrás dela para acalmá-la?

Afonso desviou o olhar com indiferença e respondeu, em tom tranquilo:

— Ela vai se acalmar sozinha.

Margarida arqueou levemente as sobrancelhas e deu um sorriso discreto:

— Você realmente não tem medo de que ela vá embora.

Mais tarde, naquela noite

Quando Afonso voltou para casa, o ambiente estava completamente escuro. Nenhuma luz estava acesa, e o silêncio preenchia cada canto do grande espaço vazio.

Diego não estava em casa, e Tábata, a empregada, provavelmente havia aproveitado a folga para dormir cedo.

Ele acendeu as luzes, mas o brilho artificial apenas realçava o quão vazio e frio o lugar parecia.

Afonso subiu as escadas até o quarto principal. Como esperado, o cômodo também estava vazio.

Ele raramente voltava para casa, e parecia não se importar se Sabrina estava ou não ali. Sem pensar muito, ele foi direto para o banheiro para se lavar.

Ao passar pela penteadeira de Sabrina, ele sequer lançou um olhar para ela.

Se ele tivesse olhado, teria notado um documento repousando ali, sozinho sobre a mesa.

No fim de semana.

A exposição de tecnologia aeroespacial e de defesa estava lotada. O evento havia atraído uma multidão, e até mesmo aqueles que não conseguiram ingressos se aglomeravam do lado de fora para ver o que estava acontecendo.

Jornalistas corriam de um lado para o outro com câmeras e microfones, buscando captar os melhores momentos para suas reportagens.

Sabrina chegou cedo, acompanhada de Cecília. As duas estavam à espera de Alexandre na entrada do evento.

Cecília, quieta e curiosa, olhava ao redor com os olhos brilhando de excitação. As paredes estavam cobertas de pôsteres de aviões e descrições de tecnologias avançadas. Era um mundo completamente novo para ela.

Normalmente, Sabrina nunca levava Cecília para esses lugares. Até mesmo passeios em parques de diversão eram raros.

Notando o olhar encantado da filha, Sabrina se abaixou e apertou de leve as bochechas de Cecília:

— Cecília, você gosta desse tipo de lugar? Se achar chato, posso pedir à sua avó para vir te buscar e te levar para a casa dela.

— Eu gosto, gosto muito! — Cecília respondeu com a voz doce e animada. — Mamãe, você nunca me levou para esses lugares antes.

As palavras inocentes da filha atingiram Sabrina como uma faca no coração.

Na vida passada, Sabrina estava sempre ocupada sendo assistente de Afonso, cuidando da família Barreto e tentando educar Diego. Ela realmente havia negligenciado os momentos importantes da infância de Cecília.

Enquanto Afonso levava Diego para passear de vez em quando, Cecília ficava em casa, sozinha, brincando com os brinquedos rejeitados pelo irmão e esperando, inutilmente, que o pai e o irmão voltassem para casa.

Afonso nunca comprava presentes para Cecília. Ele sempre trazia algo para Diego, mas nunca para ela. E mesmo quando Sabrina tentava compensar, Cecília dizia que não gostava de brinquedos.

Agora, Sabrina percebia que não existia criança que genuinamente não gostasse de brinquedos. Cecília apenas dizia isso porque sabia que nunca receberia algo igual ao irmão.

— Me desculpe, querida. — Sabrina disse, sua voz carregada de culpa. — De agora em diante, não vou perder nenhum momento importante da sua vida.

Antes que Cecília pudesse responder, uma voz familiar soou atrás delas:

— Cecília, o que vocês estão fazendo na entrada?

Diego apareceu, vestindo um pequeno terno preto, com uma expressão de orgulho no rosto.

— Você também quer ver os aviões de verdade? — Ele perguntou, com um tom arrogante. — Com a posição da sua mãe, é impossível ela conseguir te levar para dentro. Se quiser entrar, pode me pedir. Depois, peça para sua mãe voltar para casa e lavar nossas roupas e preparar nosso jantar. Talvez eu peça ao papai e à tia Margarida para deixarem vocês entrarem.

Cecília inflou as bochechas, irritada:

— Não precisa! Mamãe vai me levar para dentro! Mamãe não é sua empregada!

Diego revirou os olhos, claramente não acreditando. Para ele, Sabrina era boa apenas em tarefas domésticas e não tinha capacidade de lidar com algo tão sofisticado quanto aquele evento.

Pouco atrás de Diego, Afonso e Margarida caminhavam juntos. Os dois usavam roupas em tons de bege, o que dava a impressão de que estavam usando trajes combinando, quase como um casal.

Sabrina se lembrou de como, no passado, queria usar roupas combinadas com Afonso. Ela, cheia de esperança e amor juvenil, havia comprado peças para os dois. Mas ele nunca usou nem sequer olhou para elas.

Margarida, ao notar Sabrina e Cecília, aproximou-se com um sorriso amigável, embora claramente provocador:

— Sabrina, você e Cecília também vieram? Por que não nos avisaram? Poderíamos ter vindo todos juntos no mesmo carro, não acha?

Afonso deu alguns passos para o lado, atendendo a uma ligação no celular. Ele sequer olhou para Sabrina.

Enquanto isso, Cecília olhava para o pai com expectativa, seus olhos brilhando com esperança.

Sabrina percebeu o olhar da filha e sentiu o coração se apertar.

Margarida continuou, aparentemente ignorando o desconforto de Sabrina:

— Eu e Afonso somos amigos de infância, crescemos juntos. Não precisa ter tanta cerimônia conosco, sabe?

Sabrina percebeu a intenção por trás das palavras: Margarida estava claramente marcando território, deixando claro que se considerava a verdadeira Sra. Barreto.

Na vida passada, Sabrina foi cega. Não havia percebido o quanto Margarida estava sempre à espreita, esperando a oportunidade perfeita para tomar seu lugar.

Agora, ela não era mais a mesma.

Sabrina curvou os lábios em um sorriso frio, recusando sem rodeios:

— Não precisa se incomodar.

— Tem certeza? — Margarida arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa. — Eu e Afonso somos tão próximos... Não precisa ser tão formal.

Afonso terminou a ligação e voltou, ignorando completamente Sabrina. Ele olhou diretamente para Margarida e disse de forma casual:

— Vamos, vamos entrar.

Claramente, ele não tinha a menor intenção de levar Sabrina e Cecília para dentro.

Margarida, com seu sorriso característico, lançou um olhar para Sabrina antes de dizer:

— Então nós vamos indo, Sabrina. Se você realmente não conseguir entrar, é só me ligar que eu venho te buscar.

Sabrina observou os três se afastarem juntos, como uma família perfeita. Seus lábios se curvaram em um sorriso frio e irônico.

Nesta vida, quero ver até onde eles conseguem ir com essa "felicidade".

— Desculpe por ter demorado. Tive um pequeno imprevisto no instituto. — A voz de Alexandre soou atrás dela, enquanto ele se aproximava com passos rápidos.

Sabrina virou-se para ele, sorrindo:

— Não tem problema.

Alexandre abaixou os olhos para Cecília e abriu um sorriso caloroso antes de estender um pacote:

— Isso aqui é para você. Comprei alguns lanches e um brinquedo. Espero que goste.

Os olhos de Cecília brilharam imediatamente de alegria.

— Muito obrigada, tio! — Ela disse, com a voz doce e animada.

Era a primeira vez que Cecília recebia um presente.

Alexandre segurava um passe especial de acesso para o evento. Ele os acompanhou até a entrada reservada para a equipe interna e os conduziu para dentro.

O dia estava ensolarado, e a luz intensa fazia Sabrina apertar os olhos. Sem hesitar, ela colocou seus óculos escuros.

Enquanto caminhavam pelo espaço, Alexandre comentou:

— Essa exposição de tecnologia acontece a cada três anos e sempre tem uma grande escala. Você sabe como é. Eu provavelmente estarei ocupado daqui a pouco, mas vocês podem explorar o lugar à vontade. Ao meio-dia, podemos almoçar com o professor Felipe. O que acha?

Sabrina assentiu:

— Claro. Pode ir tranquilo.

O ambiente estava fervendo de energia. Por onde passavam, havia multidões de pessoas. Cecília não conseguia desviar os olhos das atrações tecnológicas ao seu redor.

— Mamãe, olha só aquele avião! Que incrível! — Cecília disse, puxando a mão de Sabrina. — Você pode tirar uma foto minha com ele?

Sabrina sorriu, pegou o celular e respondeu:

— Claro! Vai lá, fique um pouco mais para frente.

Cecília estava prestes a se posicionar quando, de repente, uma multidão se aproximou rapidamente, empurrando Sabrina e Cecília para o lado.

Sabrina franziu as sobrancelhas e segurou Cecília com firmeza para evitar que a menina caísse.

No meio da confusão, uma voz ecoou na multidão:

— Margarida, soubemos que você pretende continuar seus estudos aqui no país. O Afonso mencionou que você está se preparando para trabalhar no INEA. Pode compartilhar sua visão sobre esse setor?

Um grupo de jornalistas cercava Margarida, que estava no centro das atenções. Câmeras e microfones apontavam para ela, enquanto outras pessoas registravam tudo com celulares e cadernos.

Margarida, radiante, sorria como se estivesse em um tapete vermelho.

— Deixe-me apresentar a vocês esta aeronave aqui atrás. Quando o projeto começou, eu estava diretamente envolvida no design inicial. No entanto, precisei deixar o grupo para estudar no exterior. Agora, ver essa aeronave concluída e funcional me dá uma enorme satisfação. Isso prova que nosso país sempre teve e sempre terá talentos incríveis.

Enquanto ela falava, Sabrina, que estava afastada, observava a cena com indiferença.

Não muito longe dali, um dos amigos de Afonso apontou na direção de Sabrina e perguntou, com um tom de deboche:

— Aquela não é sua esposa? O que ela está fazendo aqui? Ela não passa o dia todo cozinhando e limpando a casa? Como é que ela entenderia algo desse nível?
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