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Capítulo 9

Author: Peixe Dourado
Marcos olhou para Sabrina com um claro tom de desdém no rosto:

— Não entendo o que ela está fazendo aqui, querendo aparecer na sua frente à força?

Afonso lançou um olhar frio e indiferente na direção de Sabrina, mas permaneceu em silêncio.

Comparada à Margarida, que estava no centro das atenções e cercada por elogios, Sabrina, apesar de sua beleza impressionante, parecia sem graça. Perto do brilho de Margarida, Sabrina parecia ainda mais apagada.

Marcos continuou, com uma expressão carregada de sarcasmo:

— Agora eu entendo por que você não gosta de voltar para casa. Se eu fosse você, também preferiria a Margarida. Ela tem um ótimo currículo, é competente, ambiciosa e cheia de qualidades. Ela é muito melhor que a Sabrina em tudo. Sua esposa só sabe gastar o seu dinheiro e não faz absolutamente nada.

Marcos, que fazia parte do mesmo círculo social de Afonso, nunca teve uma boa impressão de Sabrina. Desde o início do casamento, ele acreditava que Sabrina era apenas uma mulher interesseira que havia manipulado Afonso. Agora, vê-la ali, aparentemente sem noção, o fazia sentir ainda mais desprezo.

— Ela ainda está ali parada, assistindo à entrevista? Será que ela entende alguma coisa? Quem vê até pensa que ela vai entrar no setor aeroespacial.

Afonso lançou um olhar gelado para Marcos e disse apenas:

— Cala a boca.

Marcos se calou imediatamente, percebendo que havia passado dos limites.

Enquanto isso, Diego, vendo Margarida cercada por tantas pessoas e recebendo tanta atenção, sentiu-se orgulhoso, como se também estivesse compartilhando do brilho dela. Ele pensou que seria perfeito se Margarida fosse sua mãe de verdade.

Mas, no fundo, Diego achava que isso não fazia tanta diferença, contanto que Margarida continuasse gostando dele mais do que de qualquer outra pessoa.

Sabrina observou Margarida, que explicava com entusiasmo sobre a aeronave, cheia de energia e confiança. Não havia dúvida de que Margarida dominava o assunto, sua compreensão do setor era impressionante.

Sabrina respirou fundo e desviou o olhar.

Não é de se admirar que Afonso prefira Margarida. Entre uma dona de casa sem habilidades e uma mulher brilhante e competente, a escolha era óbvia.

Era uma verdade tão simples e clara, mas Sabrina, em sua vida passada, havia demorado para entender.

Cecília, por outro lado, não conseguia desviar os olhos de Margarida. Seus grandes olhos curiosos a observavam atentamente enquanto ouvia o que os jornalistas diziam.

Ela finalmente compreendeu que aquela aeronave havia sido projetada por Margarida, o que explicava por que Diego a idolatrava tanto.

...

Nesse momento, o celular de Sabrina tocou. Era Alexandre. Ele havia arranjado para elas um lugar privilegiado na arquibancada, com uma visão excelente para assistir ao show aéreo das aeronaves de combate.

Sabrina pegou Cecília pela mão e as duas seguiram na direção indicada.

Marcos, que observava de longe, interpretou o gesto de maneira distorcida. Para ele, Sabrina havia percebido que não podia competir com Margarida e, por isso, estava deixando o local de cabeça baixa, levando a filha consigo.

Quando a entrevista de Margarida terminou, Diego correu até ela, abraçando-a com entusiasmo.

— Tia Margarida, você é incrível! — Diego exclamou, com um sorriso radiante.

Margarida o abraçou e deu um beijo em sua bochecha:

— Obrigada, meu querido.

O rosto de Diego se iluminou ainda mais com o carinho recebido.

Margarida, ainda com Diego nos braços, olhou para Afonso com um sorriso provocador. Com um braço, segurava Diego; com o outro, abriu os braços na direção dele.

— Afonso, estou tão incrível hoje, não acha que mereço um abraço de comemoração?

Antes que Afonso pudesse responder, Marcos, com um sorriso cínico, aproximou-se:

— E eu? Não sou seu amigo? Não mereço um abraço também?

Sem esperar por uma resposta, Marcos passou o braço em volta de Afonso e o empurrou na direção de Margarida, forçando-os a se abraçarem.

Depois de soltá-los, Marcos olhou para Afonso e sugeriu:

— Vamos sair para comemorar depois?

Margarida, ainda segurando Diego, colocou a outra mão no ombro de Afonso e respondeu animada:

— Claro! Eu faço questão de pagar a conta!

De longe, os três pareciam uma família perfeita e harmoniosa.

Cecília, que ainda não havia se afastado completamente com Sabrina, olhou para trás e viu a cena. Ela mordeu o lábio inferior com força antes de virar o rosto novamente, decidida a não olhar mais.

"Se eu fosse tão boa quanto o Diego, será que o papai me aceitaria?"

Ela pensava consigo mesma, sentindo o coração apertar.

"O papai não gosta de mim. É por isso que ele também não gosta da mamãe."

Cecília baixou os olhos, como se tivesse tomado uma decisão importante. Ela não podia continuar sendo um peso para a mamãe.

Enquanto isso, Sabrina e Cecília chegaram à arquibancada que Alexandre havia reservado para elas. Era um lugar de destaque, com uma visão privilegiada de todo o evento. Sem dúvida, era o melhor lugar para assistir ao espetáculo.

— Vocês podem ficar aqui. Daqui a pouco o show vai começar. — Alexandre disse com um sorriso gentil. — É melhor não andarem por aí. Tem muita gente e é fácil as crianças se perderem ou serem empurradas.

— Obrigada. — Sabrina respondeu, olhando para ele. — Pode ir trabalhar, não precisa se preocupar com a gente.

— Se precisar de algo, me ligue.

Depois que Alexandre saiu, Sabrina sentou-se na arquibancada. A visão era espetacular, com uma ampla perspectiva de todo o evento. Enquanto Cecília explorava o ambiente com os olhos brilhantes de curiosidade, Sabrina fixou seu olhar em uma das aeronaves estacionadas à distância.

A Fênix-X7 era um modelo impressionante, destacando-se no evento e sendo mencionada repetidamente nos discursos e entrevistas.

A área central do evento começou a encher-se de pessoas influentes da indústria, todas conversando e trocando ideias.

De longe, Cecília avistou seu pai entrando com Diego nos braços e Margarida ao lado.

— O que você está fazendo aqui? — Diego perguntou, com a expressão carregada de desdém ao olhar para Cecília.

Ele parecia incrédulo que Cecília e Sabrina tivessem conseguido acesso àquele local tão exclusivo.

— Este lugar é só para pessoas importantes. Vocês entraram, mas logo vão ser expulsas.

— Diego, onde está a sua educação? — Afonso repreendeu com a voz calma, mas firme, enquanto franzia a testa.

Diego, apesar de ser muito mimado, tinha medo do pai. Ele fechou a boca imediatamente e lançou um olhar de súplica para Margarida.

Com um sorriso delicado, Margarida interveio:

— Afonso, ele ainda é uma criança. Não precisa assustá-lo assim. Ele só precisa de um pouco mais de orientação, e com o tempo ele vai aprender.

Sabrina lançou um olhar frio para eles, mas não fez nenhum comentário. Para ela, Afonso, Margarida e Diego não eram dignos de sua atenção naquele momento.

Marcos, de longe, observava a cena com um sorriso debochado. Ele revirou os olhos discretamente, pensando consigo mesmo que Sabrina só conseguira entrar ali com algum truque. Agora, ela ainda tinha a audácia de agir como se fosse superior, como se ninguém soubesse suas intenções.

Sabrina estava sentada na parte mais interna da arquibancada, enquanto Cecília permanecia na ponta. Afonso olhou para os assentos e, sem hesitar, sentou-se ao lado de Cecília.

Diego rapidamente se acomodou ao lado de Afonso e bateu na cadeira ao lado, chamando Margarida:

— Tia Margarida, senta aqui!

Margarida sorriu e sentou-se, completando o grupo.

Cecília, ao perceber que o pai estava sentado ao seu lado, ficou nervosa. Suas pequenas mãos seguraram com força a barra de sua roupa enquanto ela olhava para ele de soslaio, procurando algum indício de atenção.

Mas Afonso nunca olhou para ela. Todo o seu interesse estava voltado para Diego e Margarida. Cecília, que inicialmente se sentia animada, começou a sentir uma pontada de tristeza em seu pequeno coração.

O show aéreo começou logo em seguida. O espetáculo era grandioso, com aviões realizando manobras impressionantes no céu. O público ficou extasiado, aplaudindo e gritando de emoção.

As crianças estavam fascinadas.

— Tia Margarida, é isso que você vai projetar no futuro? Esses aviões incríveis? — Diego perguntou, com os olhos brilhando de admiração.

Margarida riu:

— Se você gosta tanto, posso fazer um modelo pequeno só para você.

— Sério? Que legal!

Cecília ouviu a conversa e sentiu uma pontada de inveja no coração. Ela também adorava aquelas aeronaves, mas não disse nada, guardando seus sentimentos para si mesma.

Quando o show terminou, um evento começou no palco à frente. Muitos adultos se levantaram para assistir, bloqueando a visão das crianças. Cecília tentou se levantar, mas mesmo assim não conseguia ver nada.

Afonso, sem hesitar, pegou Diego no colo para que ele pudesse assistir melhor. Diego, no entanto, olhou para Cecília e fez uma careta provocativa.

Cecília bufou, subiu no assento e disse:

— Só gente baixinha precisa ser carregada. Eu consigo ver daqui!

Diego riu e respondeu:

— E daí? Eu vou crescer. Mas você não tem pai!

As palavras de Diego foram como uma facada no coração de Cecília. Toda a animação dela desapareceu, e ela ficou cabisbaixa, tentando segurar as lágrimas.

Sabrina franziu as sobrancelhas e lançou um olhar gelado para Diego antes de dizer, com a voz carregada de sarcasmo:

— Pois saiba que você também não tem mãe.

Diego ficou paralisado, sem saber como reagir.

Margarida também ficou chocada. Ela nunca esperava que Sabrina fosse capaz de dizer algo tão direto.

Afonso, por sua vez, franziu a testa, claramente irritado:

— Sabrina, por que está discutindo com uma criança?

Sabrina soltou uma risada fria antes de rebater:

— E por que você está discutindo comigo?

Sem esperar por uma resposta, Sabrina virou-se para Cecília, ignorando Afonso completamente. Ela acariciou a cabeça da filha e disse com carinho:

— A mamãe está aqui. Não precisa se preocupar.

Cecília apertou os lábios, mas logo sorriu e assentiu.

Afonso permaneceu em silêncio, mas, por algum motivo, sentiu que a atitude de Sabrina havia mudado. A hostilidade dela para com ele parecia mais intensa ultimamente.

O evento continuou sem mais trocas entre os dois. Quando o show terminou, Afonso abaixou Diego de seus braços.

— Mamãe, quero ir ao banheiro. — Cecília disse, puxando levemente a mão de Sabrina.

— Claro, vamos.

Cecília desceu do assento, mas calculou mal a posição do pé e acabou torcendo o tornozelo, caindo para frente.

— Ah! — Ela gritou, fechando os olhos, esperando a dor de um impacto.

Mas o impacto nunca veio. Em vez disso, ela sentiu um par de braços fortes e firmes segurando-a.

Quando abriu os olhos, percebeu que estava nos braços de seu pai. O calor e a firmeza do abraço dele a fizeram sentir-se protegida.

Por um momento, ela ficou atordoada, e seus olhos começaram a arder com lágrimas. Talvez, no fundo, seu pai se importasse com ela.

Involuntariamente, ela murmurou:

— Obrigada, papai…

Afonso estreitou os olhos, sua expressão ficando ainda mais fria:

— O que você me chamou?
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