Capítulo 2

Quando meu nome foi mencionado, o sorriso no rosto de Jackson se enrijeceu. A expressão dele ficou gelada.

— Não deixem isso chegar até a Quinn.

Os amigos dele não se importaram nem um pouco. Apenas caíram na gargalhada, ainda mais alto.

Bonnie entrou na conversa, falando em voz alta:

— Não se preocupe, papai. A mamãe não vai descobrir. Ela é surda, lembra?

As risadas ecoaram pela sala reservada, enquanto eu permanecia parada do lado de fora da porta, imóvel. Só quando um garçom atrás de mim tocou meu ombro com delicadeza é que voltei a mim.

— Com licença, a senhora precisa de ajuda?

Imediatamente, o silêncio tomou conta da sala. Todos se viraram para me olhar, enquanto o rosto de Jackson se enchia de pânico. Ele soltou às pressas o braço da cintura de Cassidy, desviando o olhar para todos os lados, menos para mim.

Começou a gesticular freneticamente, perguntando por que eu tinha voltado e insistindo que Cassidy era apenas uma ex-júnior da universidade dele.

O que ele não percebeu foi que o batom dela estava todo borrado nos lábios dele. Até a mão dela continuava firmemente agarrada à sua cintura. O jeito como ela me olhava transbordava deboche e vitória.

Mesmo já decidida a ir embora, ver aquela cena ainda assim me deixou sem ar. Forcei um sorriso e disse:

— Só vim deixar suas chaves. Divirtam-se.

Coloquei as chaves sobre a mesa e não olhei para trás. Ignorando as vozes atrás de mim, saí andando.

Na rua, fui engolida pelo fluxo de carros e pelas luzes piscando ao longo da via. Tudo o que senti foi um vazio gelado. Eu não conseguia enxergar para onde estava indo, nem ouvir nada.

Minha mente voltou a cinco anos atrás, quando fizemos aquela viagem ao Deserto de Obi. Jackson e eu nos perdemos e acabamos vagando por um dia e uma noite inteiros. Havia um silêncio absoluto ao redor, nada além da sensação da mão dele segurando a minha.

Naquela época, ele havia gesticulado dizendo que, se morrêssemos juntos, pelo menos seria um fim digno para o nosso amor. Ele sempre disse que o amor dele por mim seria inabalável até a morte, mas eu suponho que nosso relacionamento tivesse chegado ao fim da linha.

Quando cheguei em casa, meu corpo inteiro parecia uma gelatina. Desabei na cama, encarando o teto sem expressão.

A primeira vez que conheci Jackson foi numa feira de empregos.

No instante em que o vi, me apaixonei perdidamente.

Desde então, todos sabiam que eu o estava cortejando. Antes de mim, ele havia rejeitado todas as mulheres que se declararam para ele. Até que eu apareci.

Arrumei mil maneiras de vê-lo todos os dias, conversava com ele, o chamava para comer fora e o persegui incansavelmente por três anos. Mesmo sendo rejeitada repetidas vezes, meus sentimentos nunca vacilaram.

Numa noite, um funcionário recém-demitido ficou bêbado e começou a causar confusão, bloqueando Jackson na entrada da empresa. Todos correram, mas eu me joguei na frente dele.

Nós dois fomos espancados até desmaiar, cobertos de sangue, antes que o encrenqueiro finalmente fosse embora. Aquele incidente me deixou com deficiência auditiva, mas também despertou, por fim, os sentimentos dele por mim.

Jackson segurou meu corpo ensanguentado, com a voz tremendo de medo.

— Vamos nos casar, Quinn.

Depois que ficamos juntos, meu amor nunca diminuiu e o dele só se fortalecia.

Quando Bonnie nasceu, ela sempre me tratou como "a mamãe surda". Jackson passou incontáveis noites em claro ensinando língua de sinais a ela para que eu pudesse me comunicar melhor com nossa filha…

O som da fechadura da porta me arrancou das lembranças. Virei de lado, fingindo estar dormindo. Não demorou muito até eu sentir um movimento atrás de mim.

Então, as mãos dele começaram a percorrer meu corpo. Sua respiração quente roçou meu pescoço. Era assim que ele demonstrava desejo.