Capítulo 6

Os olhos da mãe de Irineu brilharam de repente, como se uma grande tranquilidade tivesse lhe invadido.

— Ele é aquele perito genial, não é? Ótimo, se for ele a fazer a autópsia, fico sossegada.

— Finalmente vamos descobrir quem matou meu filho. Ai, meu pobre menino!

Na vida passada, eu também esperei cheia de esperança, para depois ser condenada à morte pelo laudo de Fagner.

Essa jogada eu já tinha visto antes, mas eu já não era mais a mesma.

Ao ver minha hesitação, Natália ironizou com a voz carregada de sarcasmo:

— Bianca, não me diga que você não quer a autópsia de novo? Do que você está com medo, afinal?

Olhei para a mensagem que já tinha deixado pronta no celular e apertei o botão de enviar.

Ergui o rosto e encarei os olhos de Fagner, olhos que um dia brilharam como estrelas e refletiram a minha imagem. Perguntei-lhe com toda a seriedade:

— Fagner, com a sua capacidade, você vai descobrir a verdade, vai provar minha inocência, não é?

Fagner ajeitou os óculos, e o olhar que me lançou era sincero, mas carregava certo desdém de quem ocupa o topo.

— Eu não vou condenar um inocente, nem deixar um culpado escapar.

Ótimo, esta era a última chance que eu lhe daria.

Se ele deixasse escapar de novo, seria a própria ruína.

— Tudo bem, eu concordo que Fagner faça a autópsia.

Enquanto aguardava o resultado, Pedro veio ao meu encontro.

Falou com sinceridade, dizendo pensar apenas no meu bem.

— Bianca, escuta o irmão aqui, antes que saia o resultado da autópsia, se entrega, confessa logo, vai ser melhor pra você. Se for considerado erro médico, no máximo dão três anos. E mesmo que você vá presa, eu consigo mexer os pauzinhos, cuido de você. Quando voltar, vai continuar sendo a princesinha da família.

Natália ao lado assentia sem parar, com uma expressão cheia de expectativa.

Na vida passada, diante do meu primeiro caso de morte, entrei em pânico. As palavras de Pedro me convenceram com facilidade.

Na época, ainda fui ingênua a ponto de me emocionar, achando que Pedro só queria o meu bem.

Mas nem cheguei a esperar pela sentença, fui espancada até a morte pela família da vítima na porta da delegacia.

Queriam mesmo era que eu assumisse a culpa no lugar de Natália, que ideia absurda!

Lancei um olhar enviesado a Natália e a chamei em voz alta:

— Natália, ouviu bem? Ainda dá tempo de você confessar.

Pedro levantou-se da cadeira num pulo.

— Que atitude é essa? Eu pedi pra você confessar, quando foi que mandei Natália assumir sua culpa?

Abri as mãos e encolhi os lábios.

— Quando sair o resultado da autópsia, tudo vai ficar claro.

O peito de Natália subia e descia de tanta raiva.

— Ótimo, o irmão ainda tenta te ajudar, e você nem agradece. Então aguarde as consequências.

Essas consequências, ainda vamos ver pra quem vão sobrar.

Dois dias depois, todos estavam reunidos novamente na delegacia.

Fagner abriu solenemente o laudo da autópsia e me apontou, sem hesitar, como responsável.

— O horário da morte foi entre as cinco e as seis horas. O motivo do óbito foi reação alérgica à penicilina, ou seja, Bianca administrou o medicamento errado, causando choque anafilático e levando à morte da vítima.