Capítulo 3

Oliver de repente pareceu voltar a si. Ele se lembrou daquele ano em que alguém havia se declarado para mim.

Em pânico, ele tinha ficado bêbado, roubado a pulseira da família no meio da noite e ido até minha casa. Ele chorou e implorou de joelhos para que eu usasse a joia de família.

Agora, ele puxou a gravata, soltou um longo suspiro e forçou um sorriso.

— Eu exagerei. Eu… não retiro coisas que já dei. Você pode ficar com ela.

— Está tudo bem. Vou devolver. Vou buscá-la em casa agora mesmo. — Eu disse de maneira calma.

— Serei rápida. Não vai demorar.

Antes que alguém pudesse reagir, peguei minha bolsa e saí.

...

Quando voltei com a pulseira e estava prestes a bater na porta, uma explosão de risadas alegres me pegou de surpresa.

— Bem-vin—

Oliver congelou no instante em que me viu.

— Por que é você?

Claramente, ele não esperava que eu voltasse, muito menos que realmente devolvesse a pulseira a ele.

Quando eu a estendi para ele, descrença brilhou em seu rosto. Ele finalmente a pegou, inclinou-se perto e sussurrou:

— Geraldine, já que sempre nos demos tão bem, me faça um favor e não cause nenhum problema hoje. A Abigail é uma moça sensível. Não diga nada que possa deixá-la chateada.

Eu nem me dei ao trabalho de responder. Então, Abigail era uma moça, e eu não?

Olhei para o homem que eu havia amado por toda a minha juventude, e a frieza no meu peito quase me engoliu inteira.

Dez minutos depois, Abigail chegou à casa dos Holland com a casamenteira.

Os mais velhos logo entraram numa conversa fácil, surpreendentemente harmoniosa. Era exatamente por isso que meus pais tinham concordado em vir. Em meio à conversa educada, eles apresentaram de forma sutil as finanças e planos da família Holland à casamenteira.

Enquanto isso, Oliver se sentou ao lado de Abigail. Ele prestava atenção a cada movimento dela. Estava quase aos 30, mas parecia um adolescente nervoso em seu primeiro encontro.

Eu não tinha nada para fazer ali, então comecei a procurar uma maneira discreta de sair.

Mas então Abigail se virou para mim com um sorriso suave e disse:

— Então você é a Geraldine. Ouvi muito sobre você. Você era a beleza do departamento de artes, não era?

Pegando-me desprevenida, balancei as mãos rapidamente.

— Ah, isso não é verdade. As pessoas só brincavam na época da faculdade.

Achei que o assunto acabaria ali, mas ela não largou. Continuou:

— Ah, qual é. Eu me lembro da apresentação de dança que você fez no baile da escola. No dia seguinte, havia pilhas de flores embaixo do seu dormitório!

Antes que eu pudesse responder, ela puxou o braço do Oliver de forma brincalhona e perguntou:

— Vocês dois cresceram juntos, não foi? Sempre achei que vocês acabariam juntos. Todo mundo achava.

Todos os olhares se voltaram para mim.

Apesar do tom gentil, havia uma ponta afiada sob suas palavras que fez minha pele arrepiar.

— Ela? — Oliver riu levemente, passando uma fatia de maçã para Abigail.

— Aos seus olhos, ela pode ser uma dama, talvez até uma deusa. Mas para mim? Ela é como um homem. É minha melhor amiga.

Ele riu como se lembrasse de algo engraçado.

— Você devia ter visto ela quando criança. Toda vez que chorava, era ranho e lágrimas por toda parte. Se eu não limpasse o rosto dela, aquilo ia direto para a boca.

— E quando tinha 15 anos, ela desmaiou na aula de educação física e começou a falar bobagens. Até balançou os braços como uma lunática—

— Eu preciso ir. — Eu disse bruscamente, cortando-o antes que eu explodisse.

Virei-me para os mais velhos, forçando um sorriso frágil.

— Por favor, aproveitem a noite.

Abigail lançou um olhar constrangido para Oliver e perguntou suavemente:

— Eu disse algo errado? Espero não tê-la deixado chateada.

Oliver me lançou um olhar furioso, como se eu fosse a culpada por arruinar o clima.

Antes que ele pudesse falar, eu disse friamente:

— Tenho um encontro com meu namorado esta noite. Não quero me atrasar.