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Capítulo 3

Author: Felipe A.T
Não demorou muito e a porta do banheiro se abriu. Ricardo saiu enxugando o cabelo e, ao ver Laura ainda sentada na sala, achou estranho e se preparou para ir até ela.

Ao notar a aproximação, Laura evitou seu olhar, levantou-se antes dele e voltou para o quarto. Mas, assim que se deitou na cama, um braço forte e vigoroso envolveu sua cintura, e o peito largo e firme de Ricardo encostou-se em suas costas. Ele a abraçou e murmurou suavemente:

– Está cansada do trabalho? Notei que você não pareceu muito feliz hoje.

– Sim, um pouco.

Laura respondeu de forma evasiva, tentando tirar a mão do abraço dele, mas Ricardo a segurou ainda com mais força. Os lábios dele roçaram propositalmente o ouvido de Laura:

– Não se preocupe, eu vou te deixar feliz.

Assim que terminou de falar, a mão de Ricardo começou a passear pelo corpo dela. O corpo de Laura ficou tenso por um instante, os cílios tremeram levemente, e um traço de autodeboche passou por seus olhos. Ela realmente queria perguntar como ele conseguia trocar olhares com outra mulher e, ainda assim, agir tão naturalmente íntimo com ela.

Mas, no fim, ela não perguntou, pois o celular de Ricardo tocou. O toque era diferente do habitual, como se fosse uma notificação especial, por isso ele parou imediatamente o que estava fazendo, levantou-se para olhar a mensagem e, em pouco tempo, pegou a roupa e voltou ao banheiro.

Lembrando da coletiva de imprensa daquela noite, as mãos de Laura, entrelaçadas, tremeram levemente. Ela se inclinou um pouco e pegou o celular, que ainda tocava, digitou a senha e o desbloqueou com naturalidade.

O contato do remetente no celular de Ricardo era um coração rosa, sem nome, mas ela adivinhou imediatamente que era Vanessa.

[Ricardo! Eu adorei o vestido, obrigada por ainda lembrar do meu gosto depois de tantos anos.]

[Já cheguei em casa, volte dirigindo devagar, tá bom?]

Vendo o tom íntimo das mensagens, Laura rolou a tela para cima. Eram registros das nove horas da noite.

Logo em seguida, vieram as mensagens de alguns minutos atrás.

[Ricardo, estou com um pouco de dor de barriga, estou sozinha em casa, não sei o que fazer.]

[Espere um pouco, estou indo agora.]

Ricardo respondeu imediatamente.

Os cílios de Laura tremeram novamente, ela mordeu os lábios, colocou o celular de volta no lugar com delicadeza, sentindo a cabeça confusa e cheia de pensamentos.

Logo Ricardo saiu do banheiro já pronto, e enquanto vestia o casaco para sair, Laura segurou sua mão:

– Está tão tarde, para onde você vai?

Ricardo parou por um instante, pensou por um segundo nas palavras, voltou-se e depositou um beijo na testa de Laura, explicando com doçura:

– Surgiu um assunto urgente na empresa, preciso resolver agora. Vá dormir, não precisa me esperar.

Dito isso, saiu sem olhar para trás, mas Laura não conseguiu mais dormir.

Às duas da manhã, mais de uma hora depois que Ricardo saíra de casa, Laura não resistiu e ligou para ele.

Mas quem atendeu foi Vanessa:

– Ricardo saiu para comprar remédio, se quiser, pode falar que eu passo o recado para ele.

A voz dela era doce, quase manhosa, mas soou como um espinho cravado no coração de Laura.

No final da ligação, ouvi a voz grave de Ricardo:

– Querida...

Quase por instinto, Laura desligou o telefone. Em um instante, ela se acalmou de novo. Talvez por já ter se magoado tantas vezes, não sentia mais a dor dilacerante de antes.

Mas ainda sentia um aperto no peito, triste por ter sido enganada por tanto tempo, por ter desperdiçado sua juventude e seus sentimentos.

Laura foi acordada pelo alarme do celular e percebeu que o travesseiro estava encharcado de lágrimas.

Ricardo só voltou na noite seguinte. Quando chegou, Laura estava jantando. Ao ouvir o barulho da chave na porta, ela teve o reflexo de se levantar para recebê-lo, mas logo se controlou e desistiu da ideia.

Antes, quando ele chegava do trabalho, Laura sempre corria para lhe dar um abraço. Mas agora, não via mais motivo para isso.

Ricardo percebeu que ela nem levantou os olhos e ficou surpreso:

– Por que não me esperou para jantar juntos?

Laura pousou os hashis, ergueu o olhar para ele. Ele já havia trocado de terno, camisa e gravata, e o cheiro que vinha dele era limpo e refrescante.

Laura fingiu naturalidade ao se levantar para pegar talheres para ele, dizendo calmamente:

– Achei que, com tanto trabalho na empresa, você não voltaria.

Seu tom não tinha mágoa, como se apenas relatasse um fato trivial.

Mas a frieza, em contraste com o entusiasmo de antes, fez a testa de Ricardo se contrair.

Ele se apressou, levantando a sacola nas mãos, abraçou-a e pediu desculpas com voz carinhosa:

– Desculpe, muitos problemas na empresa, foi errado não voltar para casa, não fique brava, ok? Hoje fui inspecionar uma loja e escolhi um presente para você, vê se gosta.

Ricardo abaixou-se para abrir o embrulho. A gola da camisa branca estava um pouco aberta, o primeiro botão desabotoado, e abaixo dela, a pele marcada por beijos e arranhões, o que feriu profundamente os olhos de Laura.

Logo ele tirou da sacola uma pulseira com vários pingentes de coração, mas não sabia que Laura nunca usava pulseira e não gostava de corações.

Também não percebeu o olhar apagado de Laura quando ela viu o presente.

Sem esperar resposta, Ricardo pegou a mão dela e colocou a pulseira, segurando-a firme, sem soltar, mesmo quando Laura tentou recuar. Ele apertou ainda mais e sorriu:

– Laura, com a pulseira, agora você está presa a mim, nunca vai me deixar.

Nunca vai me deixar?

Laura pensou: "Ricardo, foi você quem soltou minha mão. Você já me perdeu faz tempo."

O amor que queimou tão intensamente em seu coração durante esses anos, como uma chama, a feriu profundamente.

Agora, ela havia entendido. Decidiu apagar essa chama com as próprias mãos e arrancar Ricardo do fundo de seu coração.
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