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A 300ª Dívida que Escrevi

A 300ª Dívida que Escrevi

By:  Na Medida CertaCompleted
Language: Portuguese
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Dos dez aos dezoito anos, meus pais me obrigaram a escrever duzentas e noventa e nove dívidas. Cada centavo que eu pedia a eles era considerado um empréstimo — algo que eu teria que pagar quando me tornasse adulta. Até que sofri um acidente de carro... Na hora de pagar a cirurgia, ainda me faltavam três mil no cartão. Sem saída, fui implorar ajuda aos meus pais. Mas eles apenas sorriram friamente: — Júlia Monforte, você já tem dezoito anos. Não temos mais obrigação nenhuma com você. Escreva uma nova dívida! Com lágrimas nos olhos, escrevi minha tricentésima dívida. Após a cirurgia, abri o Instagram e me deparei com uma publicação da minha irmã adotiva. Na foto, ela estava em um cruzeiro internacional, celebrando seu aniversário de dezoito anos como uma princesa, cercada de gente a bajulando. O presente dos meus pais para ela? Um apartamento de alto padrão no centro de São Paulo... e a chave de um Maserati. Até meu amigo de infância... olhava para ela com olhos cheios de amor. Ela agradecia: "Obrigada às pessoas que eu mais amo, por me darem o melhor que eu poderia ter." E eu, segurando aquela dívida toda amassada nas mãos, simplesmente sorri. Depois que eu quitar essa dívida... uma coisa é certa — não preciso mais de uma família assim.

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Chapter 1

Capítulo 1

Quando voltei do hospital, não havia ninguém em casa. Até a faxineira estava de folga.

A mansão inteira estava apagada, silenciosa e escura. Meus próprios passos ecoavam pelos corredores vazios.

Era uma cena que eu já esperava, mas, mesmo assim, não consegui evitar aquele aperto no peito — tristeza e uma ponta de mágoa.

Afinal, não era a primeira vez que eu era completamente esquecida.

Respirei fundo, me apoiei no corrimão e subi as escadas.

Minha perna, recém-operada, ainda estava fraca. Foi me segurando que consegui, aos poucos, chegar até o quarto que me pertencia.

Era, na verdade, o quartinho mais apertado e escuro da mansão — um depósito improvisado.

Minhas coisas eram tão poucas...

Uma cama, uma mesa de madeira velha, e só.

Abri a gaveta da mesa. Lá dentro, estava tudo cheio — abarrotado de dívidas que assinei pra minha própria família ao longo dos anos.

Uma, duas... somando essa última que eu segurava, eram exatamente trezentas.

O valor de cada uma variava entre dezenas e algumas centenas, incluindo mensalidades, materiais e despesas básicas de vida.

No total, somava menos de cinquenta mil.

Puxei um sorriso, mas tudo que consegui foi amargura.

Cinquenta mil...

Uma única joia simples da Yasmin Monforte custava bem mais do que isso.

Não é de se admirar que meus pais sempre me chamassem de mesquinha, dizendo que só a Yasmin tinha a elegância de uma verdadeira filha da Família Monforte.

E sim... eu me sentia inferior.

Organizei as dívidas, uma por uma, dobrei bem dobradas e guardei no bolso da camisa.

Quando me preparava pra descer, ouvi vozes vindo da sala.

— Papai, tô com vontade de comer peixe que a mana faz. Fala com ela pra mim?

— Sua irmã não é boazinha como você. Tá com a cabeça cheia de besteiras... Nem apareceu no seu baile de debutante. Deus sabe onde ela tá metida. Mas, quando ela voltar, papai manda ela fazer o peixe pra você.

Soltei uma risada fria. Que piada...

Eu tinha avisado que sofri um acidente, mas meus pais simplesmente não acreditaram.

Na cabeça deles, eu só estava aprontando, fugindo pra não ir no baile da Yasmin.

Eles sequer se lembravam... de que meu aniversário é no mesmo dia que o dela.

A cerimônia de maioridade dela também deveria ser a minha.

A porta se abriu. Assim que me viram parada na escada, o clima alegre da família evaporou na hora.

Eu era como uma intrusa — alguém que apareceu sem ser convidada, atrapalhando a harmonia da casa.

O rosto dos meus pais se fechou imediatamente, bem diferente dos sorrisos que eles davam pra Yasmin.

— Nem pra acender uma luz quando chega! — Reclamou minha mãe, irritada. — Sinceramente... não sei no que você pensa o dia inteiro!

Meu pai, por sua vez, falou como se estivesse dando ordem pra uma empregada:

— Não ouviu sua irmã? Ela quer comer peixe. Tá esperando o quê? Vai lá fazer logo pra ela!
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