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Capítulo 2

Penulis: Na Medida Certa
Ah... Peixe.

Pra mim, esse prato sempre foi um pesadelo.

Lembro que era o aniversário de quarenta anos da minha mãe.

Eu, com doze anos na época, aprendi escondida a fazer essa receita, só pra surpreender ela.

Quase cortei a mão, me queimei com óleo quente... mas, no fim, consegui preparar o prato com muito esforço.

Quando levei pra mesa, Yasmin sorriu e disse que adorava. Minha mãe, porém, nem sequer encostou nos talheres. Simplesmente empurrou todo o prato na direção da Yasmin.

Até hoje não esqueço o olhar vitorioso dela, me encarando como se tivesse acabado de ganhar algum prêmio.

Ela devorou o peixe inteiro na minha frente... e acabou se engasgando com uma espinha.

Meus pais entraram em pânico e a levaram correndo pro hospital.

No colo da mamãe, ela fez cara de coitadinha:

— Mamãe... não foi culpa da irmã... a Yasmim só tava comendo demais...

Por essa frase, levei um tapa tão forte que minha cara ficou ardendo por dias.

Minha mãe me chamou de cruel. Disse que eu era má... que preparei o prato de propósito pra machucar a Yasmin.

Desde então, sempre que Yasmin pedia peixe, meus pais mandavam alguém me vigiar, pra garantir que eu tirasse cada micro espinha do peixe.

Tirar espinha... um trabalho chato, demorado, cansativo.

Só pra ouvir, no máximo, um “tá bom”.

Foram mais de cem vezes nesses anos todos.

E sabe de uma coisa?

Hoje... eu acho que eu nunca deveria ter me dado a esse trabalho.

— Manda a empregada fazer. Eu não vou. — Respondi, firme.

Virei pra sair, mas Yasmin segurou meu braço, com aquele olhar todo cheio de falsa tristeza:

— Mana... você ainda tá brava comigo? Me desculpa, tá? Eu juro que não contei pro papai e pra mamãe sobre... sobre você gastar dinheiro à toa... não foi por mal.

Se meus pais já estavam irritados antes, agora ficaram furiosos.

Meu pai nem pensou duas vezes. Levantou a mão e me deu um tapa tão forte que me jogou no chão.

— E você ainda tem coragem de ficar brava com a Yasmin! — Rugiu ele.

— Já se esqueceu que, se você não tivesse gastado o dinheiro dela, ela não teria passado fome nem ficado com problema no estômago até hoje?

Minha mãe me olhava cheia de decepção. Mesmo assim, talvez lembrando que eu sou filha biológica, veio me ajudar a levantar.

— Júlia, dessa vez você fingiu ter sofrido um acidente só pra arrancar dinheiro da gente. A Yasmin já escondeu muita coisa por você. — Disse, suspirando.

— A gente só te fez assinar as dívidas pro seu próprio bem. Você precisa aprender a não ser tão esbanjadora!

Meu rosto ardia de dor, mas nada... absolutamente nada doía mais do que meu coração naquele momento.

Empurrei a mão dela e, olhando nos olhos deles, falei, palavra por palavra:

— Eu não menti. Eu sofri, sim, um acidente de carro.

Minha mãe franziu a testa, me olhando como se eu fosse um caso perdido.

— Júlia, até quando você vai continuar com essa farsa? O Dr. Vagner, do hospital particular, já disse pra mim e pro seu pai. Não tem nenhum registro de atendimento seu lá!

Yasmin, claro, não perdeu tempo e já veio jogar mais lenha na fogueira:

— Irmã... mesmo que você esteja sem dinheiro, não pode mentir desse jeito pros nossos pais, né?

— Se quiser, eu te empresto minha mesada... Afinal, somos irmãs, né?

Minha mãe suspirou, fez um carinho na cabeça dela e disse com aquele tom meloso que eu conheço bem:

— Ah, Yasmin... se a Júlia fosse metade do que você é... que alívio seria pra gente.

— Mas, olha... não se rebaixe por causa de gente assim, tá?

— Ela precisa mesmo é sofrer um pouco, pra aprender.

Eu ri.

De pé, no meio da sala, olhei praquela cena de “amor de mãe e filha” e ri tanto que quase caí no chão.

— Júlia... você ficou louca? — Meu pai perguntou, colocando-se na frente da Yasmin, junto com minha mãe, como se eu fosse fazer algum ataque violento.

Parei de rir e, com um olhar completamente frio, tirei do bolso meu laudo da cirurgia. Joguei no chão, bem na frente deles.

— Eu não tenho dinheiro pra hospital particular. É óbvio que vocês não encontraram meu prontuário, né?

Eles ficaram imóveis por alguns segundos. Depois, meu pai se abaixou, pegou o laudo e olhou. Sua expressão imediatamente mudou.

— Júlia... sua perna... — Disse minha mãe, dando um passo na minha direção, com uma cara que, por um segundo, quase pareceu preocupada.

Mas Yasmin foi mais rápida. Interrompeu imediatamente:

— Mana... então é verdade? Você... você sofreu mesmo um acidente?

— Ai, meu Deus... você tá bem? Foi tudo culpa minha... se não fosse pela minha festa do aniversário, papai e mamãe teriam ficado com você...

— Você deve estar com muita dor, né?

Enquanto dizia tudo isso com uma carinha de anjo, as unhas dela se cravavam no meu braço, como se quisesse arrancar pedaço da minha pele.

Ah, eu já sabia exatamente onde ela queria chegar.

E, sinceramente... não ia mais ficar aqui, nesse circo, fazendo papel de palhaça pra essa família.

Soltei meu braço. Yasmin, como boa atriz, imediatamente se jogou pra trás, caindo no chão com um suspiro fraco.

Aqueles pais que, segundos atrás, até pareciam ter se sentido um pouquinho culpados... na mesma hora mudaram de cara.

— Júlia! Como você tem coragem de descontar sua raiva na sua irmã?!

— Só foi um acidente de carro! E olha pra você... tá inteira, não tá?

— Anda! Pede desculpa pra Yasmin, agora!
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