Antes mesmo de Margarida engravidar, Vicente já sonhava em ter uma filha com ela, de preferência parecida com a própria Margarida. Assim, ele poderia compensar o arrependimento de não ter estado ao lado dela desde a infância, tratando a menina como uma pequena Margarida, protegendo-a e cuidando dela com todo o carinho que sempre quis oferecer.Ao ouvir isso, Margarida parou por um instante. No fundo, também esperava que o bebê fosse uma menina, mas desejava que se parecesse mais com Vicente. Assim, talvez pudesse apagar um pouco da lembrança da infância difícil e solitária que ele suportou, criando a criança como se fosse um pequeno Sr. Vicente, guardando-a com o mesmo esforço e ternura que ele merecia ter recebido.Naquele instante, o ar se encheu de uma calma quente e silenciosa. Margarida deixou de lado, por um momento, os segredos que ainda escondia dele, e seus lábios se curvaram num sorriso sereno enquanto o fitava.— Não importa se o bebê for menino ou menina. O que eu mais quer
— Sr. Vicente, o que aconteceu com você? — Perguntou Margarida, que inicialmente levava a mão ao baixo-ventre dolorido, mas interrompeu o movimento ao notar a expressão estranha dele. Tocou seu rosto com cuidado, como se buscasse uma resposta nas feições daquele homem sempre tão seguro. — Será que dormi por muito tempo? Aconteceu alguma coisa grave comigo?Antes disso, ela havia inalado drogas sedativas, depois lutado contra aquele bandido enquanto estava amarrada com cipós, e, para piorar, ficou pendurada à beira de um penhasco por quase seis minutos. Sua mente ainda estava enevoada, confusa, incapaz de identificar com clareza onde e como estava ferida.Agora, vendo-se no hospital e percebendo o olhar inquieto de Vicente, temia que algo sério tivesse ocorrido, algo que justificava aquela perturbação incomum nele.Vicente balançou a cabeça, mas, quando começou a falar, os olhos se avermelharam.— Marga, você ficou desacordada um dia inteiro e mais uma noite. O médico disse que ainda há
Não houve escapatória. Dessa vez, Margarida não conseguiu se conter. A visão ficou turva de lágrimas, e a sensação era como se estivesse cara a cara com o próprio fim. Não restava mais nenhum fio de esperança, apenas um peso sufocante, que invadia tudo ao redor como uma enchente silenciosa e implacável.Ainda assim, ela não se rendeu. Mesmo quando a escuridão se fechou sobre si, a chama rebelde e a teimosia que corriam em suas veias a fizeram resistir, tentando lutar contra o abismo que a chamava. Mas o fim chegou rápido, rápido demais.Com um estalo seco, as raízes da trepadeira finalmente se romperam. Num único segundo, o medo travou todos os músculos de Margarida, e então seu corpo despencou no vazio, completamente fora de controle.— Vicente!O grito escapou antes que ela pudesse pensar, carregado de desespero. E, no fio tênue entre o nada e a morte, havia apenas um nome, o dele, gravado no fundo de sua mente.Então, quando tudo deveria se perder, algo aconteceu. Na fração de segu
— Você realmente está pedindo para morrer, não é?A provocação carregada de deboche de Margarida atingiu exatamente o alvo que ela queria, e o olhar do homem das sombras se incendiou de raiva, como se uma chama tivesse sido acesa de repente em seu interior.Afinal, qual caçador poderoso suportaria ser afrontado desse jeito por alguém que, em teoria, já deveria estar indefeso, à beira da morte e sem a menor chance de reação? E, para piorar, aquela suposta presa ainda demonstrava resistência, mantendo-se de pé mesmo com o corpo enfraquecido e sangrando, encarando-o com uma ousadia que beirava a loucura.Sem hesitar, ele atirou uma garrafa quebrada no chão e um saco rasgado que segurava, e avançou com a clara intenção de agarrar Margarida à força e lançá-la dali mesmo do penhasco, sem qualquer piedade. Mas ela estava preparada. Um instante antes de ele encostar, Margarida apertou com mais firmeza o cipó ensanguentado enrolado em sua mão e, no momento exato em que o inimigo acreditava ter
Naquele lugar ermo e sufocante, o coração de Margarida batia descompassado, cada pulsar carregado de ansiedade e tensão.Será que Vicente conseguiria encontrá-la a tempo? Ou será que suas forças resistiriam até ele chegar?Ela não tinha respostas. Apenas, quase sem perceber, continuava a se arrastar em direção a um canto mais encoberto. As mãos, feridas e sangrando de tanto rastejar, latejavam a cada movimento, mas parar não era uma opção. O tempo estava contra ela.Não havia percorrido muito quando, de repente, um rugido carregado de fúria ecoou logo atrás.— Onde ela está?! Margarida, sua miserável! Como teve coragem de fugir?A voz, áspera e enlouquecida de ódio, ressoou pelo local, seguida pelo som apressado e inquieto de passos que revistavam cada ponto ao redor.Um arrepio gelado percorreu a espinha de Margarida. No impulso de tentar se mover mais rápido, acabou batendo a cintura com força contra uma pedra. A dor foi tão intensa que, por um momento, quase perdeu a capacidade de s
O homem segurava o celular com um sorriso sombrio, falando baixo, mas com firmeza, para a pessoa que estava do outro lado da linha.Os olhos de Margarida estremeceram; as pupilas se dilataram enquanto o pensamento, ainda imerso numa névoa pesada, parecia o de um motor antigo que custava a pegar. Mesmo assim, no meio daquelas palavras carregadas de veneno, ela conseguiu captar informações importantes.Primeiro, o jeito dele falar não lembrava em nada um criminoso de ocasião. A voz era precisa, controlada, sem hesitação ou nervosismo. Dava para sentir que ele era treinado, talvez um profissional acostumado a esse tipo de serviço.Segundo, ele não parecia ter intenção de agir de imediato contra ela. Antes de qualquer decisão, fez questão de ligar para pedir autorização ao chefe. Isso só podia significar que quem estava na outra ponta da ligação conhecia Margarida. Talvez até fosse alguém próximo.O terceiro ponto, porém, foi o mais perturbador. A pessoa do telefone demonstrava uma estranh