A Jóia Que Venceu O Azar

— É o filho de um comandante! Que oportunidade de ouro! Se não fosse a sua irmã ter levado comida para aquela família, você acha que teria essa chance de casamento?!

— E o que tem ser filho de um comandante? O Cláudio agora é só um soldado raso. Eu vou estudar muito, entrar na faculdade e conseguir e conseguir um bom emprego. Aí vou poder arranjar um homem muito melhor!

Meus pais tentavam argumentar, mas a Gabriela era irredutível.

Há alguns anos, quando Cláudio e sua mãe chegaram na nossa fazenda, eles estavam magros e maltratados, quase morrendo de fome.

Ninguém se atrevia a chegar perto deles, mas eu, no meio da noite, peguei escondida umas roupas e um pouco de comida de casa e levei para eles.

Por causa disso, assim que eles se mudaram para a cidade, a primeira coisa que fizeram foi propor casamento à minha família.

Na vida passada, a Gabriela roubou todo o crédito.

Como estava escuro, a mãe do Cláudio não viu meu rosto, só perguntou de que família eu era.

E meus pais afirmaram sem pensar duas vezes que tinha sido a Gabriela quem levou a comida e a roupa — a filha mais velha, a preferida deles.

Eu assisti com meus próprios olhos a Gabriela se tornar nora do comandante, aclamada por todos.

— A faculdade custa caro, a gente não tem dinheiro, como vamos pagar seus estudos?!

Meu pai, furioso, bateu o cachimbo de tabaco na mesa, que tremeu com o impacto.

— É só casar a Letícia com o Cláudio, a gente pede um dote maior e pronto, eu vou ter dinheiro para a faculdade.

A Gabriela sabia que, ao se casar com Cláudio, teria de acompanhá-lo à fronteira e jamais voltaria. Mesmo assim, empurrou-me para o abismo.

Ela se aproximou, arrancou o livro das minhas mãos, e as bordas das páginas ásperas roçaram dolorosamente na minha palma.

— Eu já falei com o professor, ele já retirou sua inscrição.

— Me dá seus livros e cadernos. Estudar não tem mais nada a ver com você.

Então, era um aviso.

Eu ergui o olhar e encarei a minha irmã. Sorri e disse: — Tudo bem.

Minha mãe, vendo que a Gabriela estava determinada, soltou um longo suspiro: — Essa menina nunca vai saber o que é bom para ela, e ainda vai se arrepender!

Então ela se virou para mim: — Que sorte a sua, sua garota morta de fome! Quando você estiver lá na casa do Cláudio, lembre-se de arranjar um marido para sua irmã. Um soldado raso como o Cláudio não serve. Quando ela entrar na faculdade, vai ter que se casar, no mínimo, com um general!

Meus pais sempre foram assim: qualquer coisa boa que acontecia, a primeira pessoa em que eles pensavam era na minha irmã.

Quando se tratava de mim, a palavra era: não merece.

Tudo porque a minha mãe sofreu por três dias para me dar à luz e quase morreu. Desde pequena, eles me chamavam de "maldição", de "azar".

Por isso, sempre que a Gabriela me maltratava, meus pais sentiam que ela estava se vingando por eles.

E agora, mandando essa "maldição" embora e ainda ganhando dinheiro para a faculdade da minha irmã.

Para meus pais, era um bom negócio. Então logo trataram de avisar a intermediária: o dote deveria ser dobrado, e o casamento estaria confirmado.

A intermediária concordou com um sorriso forçado, mas ao sair, murmurou entre dentes: — Um prato de comida virou dívida eterna... que gente pretensiosa!