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Capítulo 4

Auteur: Joana Oliveira
Luana ficou paralisada, encarando-o com um olhar incrédulo, como se não conseguisse acreditar no que acabara de ouvir.

— Impliquei com ela? — Ela perguntou, tentando confirmar se não estava entendendo errado.

Demorou apenas alguns segundos para perceber por que ele estava ali. Então era por causa da Vanessa?

— Ela é sua chefe. — Respondeu Ricardo, num tom firme e impessoal. — Independentemente de qualquer coisa, você não deveria ter criado uma situação constrangedora para ela diante de todos.

O modo como ele falava era totalmente profissional, sem o menor traço de intimidade que um marido deveria ter ao se dirigir à esposa.

Luana respirou fundo, como se quisesse sufocar a amargura que subia pela garganta, e forçou um sorriso que não chegava aos olhos.

— Imagino que você não tenha esquecido que eu era a cirurgiã responsável pelo caso. E como tal, tenho autoridade para intervir, não acha?

— E você, por acaso, esqueceu... — Retrucou Ricardo, com um sorriso carregado de ironia. — Que eu também tenho o direito de substituir a cirurgiã responsável se achar necessário?

Foi como se o coração de Luana tivesse levado um impacto seco e dolorido, um golpe silencioso que a fez estremecer por dentro.

Que pena! Ela já havia pedido transferência. Se ele trocasse ou não, já não faria diferença alguma.

— No futuro, não faça mais...

— Sr. Ricardo, se o senhor quer trocar, então troque. — Interrompeu ela, antes que ele terminasse a frase.

O sorriso dele se desfez imediatamente, cedendo lugar a uma expressão fria e carregada. Os olhos permaneceram fixos nela, como se tentassem decifrá-la.

Antes, ela só o tratava de "Sr. Ricardo" na presença de outras pessoas. Quando estavam sozinhos, jamais usava aquele distanciamento, e muito menos com tamanha frieza.

— Como é que você me chamou?

— Sr. Ricardo. — Repetiu Luana, com uma calma estranhamente controlada, antes de perguntar de volta, sem desviar o olhar. — Não é assim que o senhor prefere que eu o chame?

Ele franziu o cenho, prestes a dizer algo, quando uma enfermeira surgiu ofegante pelo corredor.

— Doutora Luana! — Exclamou, visivelmente aflita. — Não sei bem o que houve, mas a família de um paciente está discutindo com a Dra. Vanessa!

Luana mal teve tempo de reagir. Ricardo, que estava ao seu lado, saiu quase correndo, como se nem tivesse pensado, lhe deixando apenas a visão das costas dele se afastando.

Ver a pressa com que se lançou para ajudar Vanessa arrancou dela um sorriso amargo. Quando, em toda a história deles, ele havia se preocupado dessa forma com ela?

Próximo à porta do quarto, a família do paciente discutia acaloradamente com Vanessa.

Quando Luana se aproximou, ouviu a voz da mulher se elevando em tom de justificativa. Enfiou-se pelo meio das pessoas e viu Ricardo à frente de Vanessa, segurando com firmeza o braço do acompanhante que ameaçava agredi-la. Vanessa, encolhida contra o peito dele, exibia um rosto abatido, como se fosse vítima de uma grande injustiça.

A presença imponente de Ricardo foi suficiente para a família recuar um pouco.

— Você... quem é você? — Questionou o homem, num tom hesitante.

Ricardo deu um leve empurrão no braço dele.

— Que tipo de problema é esse que não pode ser resolvido conversando? É realmente necessário partir para a agressão?

— Pergunte a ela! — Retrucou o familiar, apontando indignado para Vanessa. — Meu filho mal saiu da cirurgia, escapou por pouco da morte, e ela, como médica, veio fazer a visita e não conseguiu esconder o nojo da ferida dele! Se não tem estômago para isso, por que escolheu essa profissão?

— Não foi isso... — Disse Vanessa, balançando a cabeça, enquanto os olhos marejavam. Olhou para Ricardo, como se buscasse apoio. — Ricardo, eu comi algo estragado pela manhã e passei mal. Só por isso me senti enjoada. Não foi por causa do paciente.

— Deixe comigo. — Ele assentiu, transmitindo confiança. Voltando-se para a família, disse com firmeza. — Ela estava indisposta, não foi intencional. Vamos fazer assim, eu mesmo cubro todas as despesas de internação do paciente.

Diante daquela proposta, a raiva dos familiares perdeu força, e o assunto praticamente morreu ali.

— Que azar... — Resmungou um deles, retornando ao quarto.

— Me desculpa, Ricardo. Acabei te causando problema. — Disse Vanessa com um olhar doce. — Não precisava ter se metido. E se você tivesse se machucado por minha causa?

— O importante é que você está bem. — Ele respondeu com um sorriso tranquilo.

— Senhora Vanessa, o senhor Ricardo é seu namorado, não é? — Perguntou alguém entre o grupo, com uma expressão marota.

Ela abaixou os olhos, sorrindo de forma tímida.

— Não é isso, não falem besteira.

— Ah, até parece! — Comentou outro. — Vocês dois combinam perfeitamente!

As vozes ao redor se juntaram em um coro de brincadeiras.

Ricardo, porém, deixou o olhar percorrer a aglomeração até encontrar os olhos de Luana.

No instante em que isso aconteceu, ela sentiu como se algo lhe apertasse o peito, sufocando todo o ar que restava. Dentro dela, uma amargura intensa se espalhava, mais densa a cada segundo.

O próprio marido era perfeito, mas ao lado de outra mulher.

E, ali, era como se Luana fosse apenas uma espectadora que não pertencia à cena.
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