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Capítulo 3

Author: Joana Oliveira
Ricardo não parecia ter imaginado que ela pediria o divórcio, e a expressão dele logo se fechou, tornando-se ainda mais sombria.

— Eu não vou concordar com o divórcio.

Luana ficou completamente sem rumo por alguns segundos. A recusa dele significaria que ainda havia algo entre os dois? Ou...

Sem dar espaço para que ela falasse, Ricardo completou:

— A vovó também não vai concordar.

Logo depois, o som seco da porta se fechando ecoou pelo ambiente.

Ela permaneceu parada ali, sem saber por quanto tempo, sentindo o peito sufocado, como se um pano encharcado tivesse se alojado dentro, bloqueando toda a respiração.

Ao lembrar do que tinha acabado de pensar, achou quase ridículo. Ricardo não queria o divórcio por causa dela? Estava claro que não. Era apenas porque temia que Sofia se opusesse. O que ele não imaginava é que a própria Sofia já havia lhe dado permissão.

Aquela noite terminou em briga, e cada um dormiu em um quarto separado. Na manhã seguinte, quando a empregada chegou, Ricardo já tinha desaparecido.

Luana tomou o café sozinha, fingindo que nada havia acontecido. Pouco depois, a empregada saiu do quarto e perguntou com certa estranheza:

— Senhora, por que parece que as coisas da casa diminuíram tanto?

Luana congelou por um instante. Até a empregada havia notado que faltavam objetos, e ele, em momento algum, se preocupava em perguntar nada. Estava mais do que claro o quanto ele realmente se importava.

Forçando um sorriso, Luana respondeu:

— Eram coisas velhas, acabei jogando fora. Não era nada importante.

A empregada não insistiu.

No meio do dia, o telefone tocou. Do outro lado da linha, o diretor do hospital explicou que havia um caso gravíssimo. Um paciente em estado crítico precisava de cirurgia cerebral de urgência, mas o especialista da equipe estava viajando. Somente ela tinha as condições de realizar o procedimento.

Luana não hesitou. Correu para o hospital, trocou de roupa e entrou na sala de emergência, onde já estavam reunidos todos os principais médicos, inclusive Vanessa.

O ar estava saturado com o cheiro metálico e intenso de sangue. Enquanto os outros médicos se aproximavam para examinar os ferimentos, Vanessa se mantinha afastada, lutando para conter o enjoo e com ânsias de vômito visíveis.

— Dra. Luana, que bom que chegou. — Disse o anestesista, aproximando-se. — O paciente caiu de uma obra há pouco. Está em coma.

Ao observar a situação, Luana sentiu o peso do caso. Uma barra de ferro de vinte centímetros tinha atravessado o crânio pela região dos olhos. Apesar do estado crítico, ainda havia sinais vitais. Era um verdadeiro milagre.

Tentando controlar a náusea, Vanessa falou com hesitação:

— Dra. Luana, a senhora acha mesmo que consegue fazer essa cirurgia? Se algo der errado, ele pode não sobreviver.

Luana ergueu os olhos e, com frieza, devolveu:

— Se eu não conseguir, você consegue?

A resposta seca fez corar o rosto de Vanessa. Sem perder tempo, Luana calçou as luvas e orientou a equipe:

— Vamos começar com a abertura do crânio para descompressão e retirada dos coágulos.

O anestesista e os auxiliares se prepararam enquanto Vanessa mordia o lábio, sugerindo:

— Talvez eu possa ficar para ajudar?

— Quem não for necessário, saia da sala.

Pela reação anterior de Vanessa, Luana sabia que mantê-la ali só atrapalharia.

— Mas... — Vanessa ainda tentou argumentar.

— Dra. Vanessa, o paciente está em estado crítico. É melhor a senhora ir acalmar a família.

Nenhum outro cirurgião-chefe do Hospital São José ousaria tocar naquele caso, pois qualquer erro poderia destruir uma carreira inteira. Além disso, todos haviam visto o estado de Vanessa desde que havia entrado. Se não fosse pela proteção que ela tinha dentro do hospital, já teria sido repreendida.

Com as mãos trêmulas, Vanessa apenas se virou e deixou a sala.

...

Após confirmar que o tronco cerebral não havia sido atingido e que não existiam lesões evidentes nos principais vasos, Luana e a equipe trabalharam por mais de cinco horas para remover a barra de ferro e reconstruir a base do crânio.

Quando a cirurgia terminou, já no fim da tarde, e os sinais vitais do paciente se mantiveram estáveis, todos respiraram aliviados.

Os médicos saíram apressados para informar a família. Luana, por sua vez, foi até a sala do diretor.

— Luana, desta vez foi graças a você! — Miguel falou com genuína gratidão.

— Não foi só mérito meu. A equipe trabalhou muito bem, e o paciente teve sorte. A barra atravessou o cérebro sem atingir áreas vitais. Se tivesse atingido, nem Deus poderia salvar ele.

Miguel assentiu e tentou, mais uma vez, convencê-la a ficar:

— Sobre sua transferência... não quer reconsiderar?

Ele sabia do potencial dela. Ser a cirurgiã-chefe mais jovem do hospital, e ainda mulher, era raríssimo.

Riviera era uma cidade pequena e com infraestrutura limitada, e o hospital de lá não se comparava ao de Oeiras, nem em recursos, nem em salário. Para Miguel, era um desperdício vê-la abrir mão de uma posição tão boa.

Mas Luana apenas sorriu e respondeu:

— Já tomei minha decisão. Mas fique tranquilo, se precisar de mim, sempre que eu puder, voltarei para ajudar.

Entendendo que não a convenceria, Miguel não insistiu.

Ao sair, Luana viu Ricardo se aproximando a passos longos. Ela parou, prestes a falar algo, mas ele seguiu andando, apenas dizendo:

— Dra. Luana, preciso falar com você.

Foram para a varanda. Luana, recém-saída de uma cirurgia exaustiva, estava visivelmente cansada.

— Você queria falar sobre...? —Ela começou.

— Por que você implicou com a Vanessa na sala de cirurgia? — Ricardo perguntou, sem rodeios.
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