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A Terceira Carta é Meu Adeus
A Terceira Carta é Meu Adeus
Author: Rolinho Primavera de Morango

Capítulo 1

Author: Rolinho Primavera de Morango
Anabela Souza chegou de um voo noturno exaustivo, encarando as roupas espalhadas pelo chão enquanto seu rosto revelava a palidez do cansaço extremo.

O cheiro acre que impregnava o ambiente fazia seu estômago revirar com náusea crescente.

Gustavo Costa estava recostado na cama sem camisa, abraçando uma mulher que vestia a camisola de seda de Anabela. Suas mãos grandes percorriam o corpo da amante enquanto ele soltava um sorriso cada vez mais provocativo, especialmente ao notar quem havia chegado para flagrá-lo.

Gustavo arqueou as sobrancelhas e dirigiu um sorriso malicioso para aquela que havia vindo mais uma vez surpreendê-lo em adultério.

— E aí, que tal? Ela fica muito melhor com essa peça do que você, Anabela. Se não me falha a memória, essa já é a nonagésima nona vez, não é? Mesmo assim, você continua se recusando a aceitar o divórcio?

Anabela massageou o estômago com movimentos mecânicos, como se a dor física pudesse aliviar o desconforto que sentia. Pela primeira vez, ela não reagiu com fúria às provocações dele.

— Vista suas roupas, temos que conversar. — Disse ela, dirigindo-se para fora do quarto.

Gustavo riu com desprezo.

— Conversar sobre o quê? Que assunto importante temos para discutir?

Anabela parou sem se virar, dizendo:

— O divórcio.

A boca de Gustavo se abriu em surpresa genuína.

— Perfeito! Finalmente você vai conseguir o que sempre quis, Sr. Gustavo!

Mal cinco minutos se passaram desde que Anabela se sentava no escritório, quando Gustavo já empurrava a porta, vestido e arrumado com pressa evidente. A ansiedade dele para finalizar o divórcio transparecia em cada gesto.

— Você não está brincando comigo, Anabela?

Ele não conseguia disfarçar o desprezo que brilhava nos olhos.

Em vez de responder, ela empurrou os papéis do acordo de divórcio na direção dele.

— Dê uma olhada. Se concordar com tudo, pode assinar.

Gustavo pegou o documento com desconfiança, examinando-o com atenção investigativa. Simplesmente não conseguia acreditar que Anabela realmente aceitaria se separar dele.

A família Souza havia perdido há muito o prestígio de outrora. Ele tinha certeza de que ela se agarraria desesperadamente a ele, sugando até a última gota do que restava de sua fortuna.

Após ler o acordo inteiro, Gustavo ficou completamente atônito.

Anabela não apenas renunciava a qualquer direito sobre seus bens como também abria mão da casa onde viviam como casal.

Ele franziu a testa, desconfiado, e perguntou:

— Está falando sério mesmo? Não vai me divorciar agora e depois aparecer na mansão antiga fazendo escândalo?

Anabela manteve a mesma serenidade de sempre e respondeu:

— Falo sério. Não vou incomodar ninguém, pode ficar tranquilo.

Gustavo não hesitou mais e assinou rapidamente seu nome no final do documento. Quando terminou a última letra, seus lábios se curvaram num sorriso enquanto sentia um peso enorme sendo retirado do peito.

— Já que assinamos, vamos logo ao cartório resolver os trâmites. Trinta dias de reflexão? Não quero desperdiçar nem um dia a mais com você!

— Agora mesmo? — Anabela indagou, franzindo a testa.

— Sabia! Você está pensando em voltar atrás, não está?

A dor no estômago de Anabela se intensificou, mas ao ver a expressão sarcástica dele, respondeu:

— Vamos.

Eles resolveram todos os procedimentos burocráticos sem demora.

O funcionário entregou um formulário explicando as condições:

— Se dentro de trinta dias houver arrependimento...

— Arrependimento? Como assim? — Interrompeu Gustavo, jogando a caneta sobre a mesa com um sorriso ainda mais amplo.

Anabela saiu depois dele, mas percebeu que o carro de Gustavo ainda estava na rua. Ele buzinou em sua direção.

Com a janela semicerrada, Gustavo tirou os óculos escuros e começou a provocá-la com ar relaxado e sarcástico:

— Anabela, como dizem por aí, marido e mulher que dormem na mesma cama, sempre têm suas lembranças. Não precisa ter medo de ficar sozinha, olha só este aqui.

Gustavo estendeu um cartão de visitas, claramente pretendendo humilhá-la em público. No entanto, ele jamais esperava que Anabela pegasse o cartão sem hesitar.

— Obrigada, vou pensar.

Com isso, ela se virou com calma e se afastou, deixando Gustavo parado e atordoado.

Gustavo não imaginava que aqueles trinta dias não marcavam apenas a contagem regressiva para o fim do casamento, mas também para a própria vida de Anabela.
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