Capítulo 4

Naquele instante, senti meu coração se despedaçar de verdade. Olhei para ele uma última vez e, sinceramente, não restava nenhuma esperança. Fui largada no sótão, um lugar escuro onde tudo parecia estagnado.

Assim que escureceu, o silêncio só era quebrado pelo barulho de ratos. Um deles até apareceu bem na minha frente, ficou lá me encarando, como se estivesse me zoando. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, alguém abriu a porta do sótão de repente. O rato sumiu rapidinho, e aí entrou Isabela, com aquela cara cheia de ódio. Quando percebeu que estávamos só nós duas, nem fingiu mais e me deu um sorriso venenoso, daqueles de dar arrepio.

— Rafaela, olha só de onde você veio parar! Eu bem que te avisei que o Lucas sempre foi meu. Mas você foi cara de pau, quis bancar a espertinha e casar com ele... Só que, no fundo, cá entre nós, você sabia que para ele eu ia ser sempre prioridade. Você? No máximo, era passatempo, só para ele matar o tédio.

O deboche dela foi a gota da água. Num impulso, peguei uma coisa qualquer do chão e joguei nela com força. O grito que ela deu quase fez o teto inteiro tremer, e ela, assustada, despencou sentada. Só aí percebi que o que eu tinha jogado era justamente um rato.

Rapidinho ouvi passos subindo a escada. Lucas e Beatriz chegaram esbaforidos. Isabela foi para o chão, abraçando o ventre, começou a berrar de dor dizendo que estava sentindo muita dor na barriga.

— Lucas, minha barriga dói demais. Será que aconteceu alguma coisa com o nosso bebê? Eu só fui tentar ajudar, perguntar o que a Rafaela queria comer, e ela me jogou um rato! — Isabela falava alto, se fazendo de coitada, choramingando o tempo todo.

O pior é que, mesmo forçando tanto, todo mundo caía no showzinho dela.

Beatriz me lançou um olhar de desprezo e já vinha para cima de mim, mas Lucas a segurou. De cara fechada, mandou Beatriz descer com a Isabela, e só depois se virou para mim, com olhar gelado, só tinha decepção misturada com indiferença ali.

— Rafaela, você me decepcionou de verdade! Achei que ainda dava para você ficar aqui em casa, talvez até um ajudasse o outro, mas pela sua atitude está bem claro que você não tem nenhuma condição de conviver com a Isabela.

Só consegui fechar os olhos, sentindo o corpo completamente drenado, uma sensação de derrota que não cabia em mim.

— Conviver? Até as paredes desse lugar sabem que o filho da Isabela é seu, Lucas. E o meu todo mundo chama de bastardo! Se eu tivesse traído você de verdade, acha mesmo que eu ia ter moral para ficar aqui?

Vi que ele apertou o maxilar, segurando a irritação, mas ainda baixou o tom e tentou manter o controle:

— Isso é problema meu, depois eu resolvo. Por enquanto, só cuida da sua gravidez. Rafaela, para de arranjar confusão com a Isabela. Não era melhor você tentar ficar de boa?

Fiquei em silêncio, só deixei escapar uma risada fria, totalmente descrente. Lucas perdeu a paciência de vez, bateu a porta forte e sumiu.

— Fica de castigo nesse sótão para pensar no que fez! Vou mandar trazer sua comida todo dia, não te falta nada.

Aqueles dias passaram devagar, em clima de castigo. Isolada no escuro, só com ratos na volta, sem janela, com o silêncio me engolindo. Provavelmente depois do aviso do Lucas, Isabela quase não apareceu para fazer provocação.

Até que, um mês depois, vi ela cruzando o corredor. E aí, de propósito, gritei só para ela ouvir:

— Amanhã, vou ao pré-natal. Lucas vai comigo.

De noite, fiquei na minha, quieta. Quando Lucas levou a comida, aproveitei para falar do exame:

— Já passou um mês, nosso filho precisa fazer aquele novo exame de rotina.

Lucas ficou satisfeito, quase animado.

— Finalmente, Rafaela! Se você tivesse agido assim desde o início, nada disso tinha acontecido. Pode deixar, amanhã vou com você no médico.

Mas na manhã seguinte, Lucas não apareceu. Foi de novo acompanhar a Isabela no hospital, e eu fui para o exame só com a Beatriz, que nem tirou o olho do celular o caminho inteiro, nem soube o que se passava.

Na sala, respirei fundo e, seguindo o que a médica mandou, tomei o remédio para interromper a gravidez.

Só depois, quase terminando, Lucas apareceu atrasado.

— E a Rafaela? A Isabela já saiu faz tempo, por que ela ainda não voltou?

Quando ele entrou no quarto, se deparou comigo sangrando muito e o chão todo manchado. Ele paralisou na hora, ficou branco que nem papel, sem conseguir esconder o choque:

— Ra... Rafaela, o que foi que você fez...