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Capítulo 2

Author: Surpresa da Primavera
Pablo e Caio organizaram um aniversário simples, mas acolhedor, para Mônica.

Inicialmente, Caio queria fazer uma grande celebração, mas considerando que a saúde de Mônica ainda estava frágil após o tratamento médico no exterior, ele acabou cedendo.

Eles prometeram que no próximo ano preparariam uma grande surpresa para Mônica.

Já era noite, quase na hora de dormir, quando Pablo e Caio perceberam que Sandra não tinha dado notícias o dia inteiro.

Todas as noites, Sandra fazia questão de preparar pessoalmente uma xícara de chá calmante para o marido, deixava a água do banho exatamente a 40°C e acendia o incenso árabe que ele mais gostava.

Sandra também ajudava Caio a escovar os dentes, dava leite quente para ele antes de dormir e massageava suas pernas para estimular o crescimento.

Mas naquela noite, Sandra "faltou ao trabalho".

Edgar, o mordomo, teve que assumir suas tarefas e estava tão ocupado que parecia um pião sendo girado de um lado para o outro.

— Edgar, é isso que você chama de água de banho? Tem certeza de que isso não é água fervente? — Perguntou Pablo, parado na porta do banheiro, vestindo um roupão enquanto franzia a testa.

Edgar ficou visivelmente nervoso:

— Perdão, Mestre. Eu já vou trocar!

— Edgar! Este leite está gelado! É horrível de beber! — Caio reclamou, cruzando os braços ao lado do pai. Vestindo seu pijama, ele parecia uma cópia em miniatura de Pablo, com a mesma expressão de descontentamento. — Minha mãe sempre aquece o leite na temperatura certa!

Edgar começou a suar:

— Eu... Eu já vou aquecer o leite para o senhor agora mesmo!

Sempre que Sandra aquecia o leite para Caio, ela usava um termômetro para medir a temperatura com precisão, garantindo que fosse servido exatamente como ele gostava. Edgar, atolado de tarefas, simplesmente não tinha essa paciência.

Pablo balançou a cabeça, voltou para a sala e se sentou no sofá. Ele pegou a xícara de chá calmante que Edgar havia preparado e tomou um gole.

No momento seguinte, ele franziu a testa e colocou a xícara de volta na mesa com força:

— Edgar, o que aconteceu com este chá? Está fraco demais.

Edgar parecia prestes a explodir de nervosismo:

— Mestre, o chá calmante que o senhor bebe todos os dias é preparado pela Sra. Sandra logo cedo. Ela usa mais de vinte ingredientes diferentes, e o processo é bem específico. Só ela conhece a receita.

Ele tentou se explicar, visivelmente desconcertado:

— Eu tentei ligar para ela, mas ela não atendeu. Sem opção, peguei o que sobrou do chá de ontem, adicionei um pouco de água e fervi de novo...

— Sandra não atendeu a chamada? — O rosto de Pablo escureceu imediatamente. Sua expressão tornou-se rígida, e seus olhos ficaram sombrios com irritação.

— Papai, por que a mamãe não está em casa hoje? — Resmungou Caio, com um bico nos lábios. — Sem ela, ninguém faz nada direito!

Pablo pegou seu celular com uma mão firme, prestes a ligar para Sandra, mas foi interrompido por uma ligação de seu secretário, Hugo.

— Sr. Pablo, o laboratório de pesquisa de energia renovável pegou fogo. A estimativa inicial de danos é de cerca de cinco milhões de reais. — Relatou Hugo.

O rosto de Pablo endureceu ainda mais, mas ele manteve o tom frio ao perguntar:

— O chip recém-desenvolvido foi danificado?

— Pode ficar tranquilo, senhor. O chip foi salvo. Ouvi dizer que um funcionário conseguiu resgatá-lo a tempo, mas ele acabou se machucando e foi levado ao hospital. Felizmente, ele já teve alta e está bem.

— Certo. — Disse Pablo, ajeitando o paletó com calma. — Se o chip está seguro, isso é o que importa.

— Deseja que eu descubra quem foi o funcionário?

— Não, não precisa. O importante é que o chip está intacto.

Pablo ficou em silêncio por um momento antes de falar novamente:

— Hugo.

— Sim, senhor?

Pablo pensou em pedir para Hugo descobrir onde Sandra estava, mas hesitou ao se lembrar da discussão que tiveram três dias antes.

Pablo não gostava de companheiras ciumentas ou desconfiadas. Para Pablo, Sandra deveria ser mais racional, menos emocional.

Pablo acreditava ser um homem íntegro, mas parecia que Sandra, nesses cinco anos de casamento, nunca conseguiu superar o incômodo com sua relação com Mônica.

Mesmo depois de Pablo dizer inúmeras vezes que entre ele e Mônica não havia absolutamente nada de errado, Sandra insistia em desconfiar. Se houvesse algo, ele já teria feito antes, e Sandra jamais teria se tornado a Sra. Barros.

Mas, ainda assim, Sandra desconfiava dele e não aceitava Mônica.

Pablo estreitou os olhos, e sua expressão se tornou sombria. Sua voz saiu fria e impessoal:

— Os problemas causados pelo incêndio precisam ser resolvidos de forma adequada. Não quero que o Grupo Barros tenha complicações.

Quanto a Sandra, ele não tinha energia para se preocupar com ela naquela noite. Pablo estava exausto. De qualquer forma, ela não tinha outro lugar para ir além da casa da família dela. Ele sabia que Sandra se importava demais com ele e era completamente devotada ao filho.

Pablo estava certo de que, na manhã seguinte, sua esposa, sempre submissa, voltaria para casa como de costume.

Enquanto isso, Caio protestava em voz alta:

— Papai, quando a mamãe vai voltar? Ela não pode sair assim! Você devia dar uma bronca nela!

Pablo lançou um olhar severo ao menino, sua postura rígida deixando claro quem era o chefe da casa:

— Caio, onde está a educação de um verdadeiro herdeiro da família Barros? Não seja grosseiro assim ao falar.

Caio ficou imediatamente quieto, fechando a boca com medo. Na frente da mãe, ele era um pequeno tirano que fazia o que queria. Mas diante do pai, ele se comportava como um pintinho assustado, obediente e submisso.

Nesse momento, o relógio de pulso de Caio tocou, e o nome [Minha favorita tia Mônica] apareceu na tela.

— Papai, vou para o meu quarto! A tia Mônica está me ligando! Ela tem contado histórias para eu dormir todas as noites! — Disse Caio, sacudindo as pequenas mãos com entusiasmo.

Pablo fez um gesto de aprovação com a cabeça:

— Vá. Mas não fique acordado até tarde.

Caio saiu da sala, pulando de alegria.

...

Do outro lado da cidade, no Condomínio Diamante.

Era uma casa que Sandra comprara três anos atrás, sem que a família Barros soubesse. O lugar era tranquilo, perfeito para ela se concentrar em criar designs e desenvolver seus projetos.

Sandra estava no banheiro, limpando as marcas de sangue em seu corpo. Depois, ela voltou para o quarto e sentou-se devagar na cama.

Apesar de ter apenas vinte e seis anos, ela havia acabado de passar por um aborto. O parto de Caio, cinco anos atrás, já havia debilitado seu corpo, e até hoje ela não havia conseguido recuperar completamente sua saúde.

Sandra pegou o celular, mas a tela permanecia silenciosa.

Era tarde da noite, e nem seu marido nem seu filho haviam ligado ou mandado uma mensagem para perguntar por que ela não voltara para casa ou se estava bem.

Eles não se preocupavam com ela, nem com o que poderia ter acontecido.

Sandra abriu um sorriso amargo, seus lábios pálidos tremendo levemente:

— Não importa mais.

Quando Sandra e Pablo se casaram, o pai dele estava hospitalizado com problemas graves de saúde, e a família Barros não teve tempo ou energia para organizar uma cerimônia de casamento. Sandra, sempre compreensiva, concordou com um evento simples: um simples almoço entre as duas famílias. Tiraram fotos de casamento simples, e tudo foi feito de maneira apressada e desleixada.

Agora, Sandra só queria terminar esse casamento vazio, frio como um túmulo. Ela desejava um encerramento pacífico.

De repente, o celular de Sandra vibrou. Uma mensagem do WhatsApp apareceu na tela.

Ela tocou na notificação com os dedos trêmulos e viu que era a minuta de um acordo de divórcio.

A mensagem acompanhava o documento:

[Já é meia-noite. Parabéns pelo seu aniversário, Senhorita!]

Os olhos amendoados de Sandra ficaram vermelhos, e ela sentiu um nó apertar em sua garganta. Um sorriso emocionado apareceu em seus lábios.

[Obrigada.]

[Casar-se não garante felicidade, e o divórcio não é o fim de tudo. Pablo não te merece. Saia desse casamento, e o mundo será seu.]

Sandra ficou paralisada, encarando a tela com lágrimas nos olhos. As palavras começaram a se misturar enquanto a visão dela se tornava turva.

...

Na manhã seguinte.

Sem Sandra para organizá-los, Pablo e Caio transformaram a rotina matinal em um caos. Pablo reclamou do gosto do café, enquanto Caio fazia birra porque o formato do ovo frito não estava como ele queria.

— Papai, quando a mamãe vai voltar para casa? Ela é tão estranha! — Caio reclamou, com a boca emburrada, enquanto a empregada ajudava o menino a calçar os sapatos. Ele, inquieto, não parava de fazer a mesma pergunta a Pablo.

Pablo franziu a testa, sua paciência já se esgotando:

— Rápido, ou você vai se atrasar para a escola.

Caio murmurou baixinho:

— A mamãe sempre me levava para a escola. Hoje ela não vai? Será que está com preguiça?

Pablo moveu os lábios, como se quisesse responder, mas parou. Uma sensação estranha o atingiu. Ele sentia que estava esquecendo algo importante. Será que era algum aniversário ou data especial?

— Pablo! — Uma voz feminina, doce e suave, interrompeu seus pensamentos.
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