Share

Amada na Mentira, Afogada na Verdade
Amada na Mentira, Afogada na Verdade
Author: Isabel Cardoso

Capítulo 0001

Author: Isabel Cardoso
O impacto brutal contra as águas infinitas do oceano me deixou atordoada.

Do convés do cruzeiro explodiram gritos de alegria enquanto todos batiam palmas e comemoravam com entusiasmo, completamente indiferentes ao fato de que alguém estava se afogando ali embaixo.

Me debati desesperadamente na água, tentando me manter à tona enquanto gritava por socorro, mas apenas consegui engolir goles amargos de água salgada.

— Socorro! Me salvem!

Meus pedidos de ajuda soavam como música aos ouvidos daquelas pessoas, que se divertiam jogando pão e vinho tinto no mar ao meu redor. Riam às gargalhadas, me tratando como se eu fosse um animal de circo executando truques para seu entretenimento, não uma pessoa lutando pela vida.

Quando minhas forças começaram a me abandonar e cãibras tomaram conta de minhas pernas, meu corpo começou a afundar lentamente.

Foi então que consegui avistar as duas figuras no convés acima de mim.

Luiz Teixeira, meu salvador de anos atrás, o homem que me deu uma segunda chance na vida, agora me observava com uma expressão completamente vazia enquanto eu me debatia na água.

Ao seu lado estava Fernando Valente, que jurou me amar para sempre, mas agora abraçava ternamente outra mulher. Seu rosto exibia a mesma expressão de diversão cruel que via em todos os outros rostos zombaria, escárnio e pura diversão sádica.

Aos olhos dele, eu havia me tornado nada mais que um brinquedo descartável.

A exaustão tomou conta de mim, tanto física quanto emocional.

Tudo o que eu queria era relaxar, deixar a corrente me levar. As ondas me embalavam, e aquilo me lembrava, ainda que vagamente, o calor do abraço da minha mãe me ninando quando eu era pequena.

Fechei os olhos devagar, permitindo que um sorriso melancólico se formasse em meus lábios enquanto me entregava ao abraço reconfortante do oceano.

Mas aquele refúgio pacífico durou pouco.

Vozes sussurradas me trouxeram de volta à consciência. Minhas pálpebras tremeram quando abri devagar os olhos para encontrar um ambiente completamente branco. Minha mente estava em branco também, desprovida de qualquer memória, até mesmo de quem eu era.

As vozes ao meu redor mudaram de tom assim que perceberam que eu havia acordado.

— A paciente acordou. — Disse uma voz feminina apressada. — Chamem rapidamente o Sr. Luiz e o Sr. Fernando.

— Precisamos fazer novos exames e continuar o tratamento. — Respondeu uma voz masculina com autoridade médica.

Permaneci imóvel na cama hospitalar enquanto os profissionais se movimentavam ao meu redor. Quando alguém ofereceu água aos meus lábios ressecados, senti um alívio instantâneo em minha garganta, e minha mente começou a recuperar a clareza perdida.

As memórias voltaram aos poucos. Eu havia acompanhado Luiz como sua parceira à festa de aniversário de Milena no cruzeiro.

Milena Santos adorava buscar emoções extremas e tinha uma personalidade notoriamente caprichosa. No auge da celebração, ela propôs que Luiz e Fernando fizessem uma aposta usando nossas vidas como prêmio.

A regra era simples e terrível. Quem perdesse teria sua acompanhante jogada no mar por cinco minutos, sem qualquer equipamento de proteção ou corda de segurança. Sobreviver dependeria inteiramente da sorte e da capacidade de nadar.

Eu implorei para que parassem com aquela loucura, mas Luiz e Fernando estavam determinados a satisfazer os desejos perversos de Milena. Eles me seguraram com firmeza enquanto começavam sua aposta insana, ignorando completamente meus protestos.

O jogo consistia em comparar cartas, melhor de três rodadas.

Enquanto eles jogavam, implorei com os olhos para que Luiz fosse racional, mas ele mantinha o olhar fixo nas cartas, como se eu nem existisse.

Tentei apelar para Fernando, mas seus olhos estavam focados em Milena, que assistia a tudo com um sorriso cruel.

— Ana, não se preocupe. — Disse Fernando, com um sorriso zombeteiro. — Quem sabe Luiz não ganha esta última rodada?

Depois de duas rodadas empatadas, coloquei toda minha esperança na terceira e decisiva. Estava disposta a sacrificar toda a sorte de minha vida naquele momento, se isso significasse que eu poderia sair dali viva.

Mas o resultado foi devastador. Luiz baixou suas cartas e, pela primeira vez na vida, pronunciou as palavras que nunca pensei que ouviria dele.

— Me rendo. — Disse ele simplesmente, como se minha vida não valesse nada.

O convés explodiu em exclamações de incredulidade. Meus olhos se arregalaram em choque.

Luiz, conhecido por seu desejo obsessivo de vencer em tudo, havia deliberadamente perdido uma aposta que custaria minha vida.

Fernando riu com satisfação cruel.

— Sinto muito, Ana, mas parece que esta rodada é minha. — Declarou ele, seu tom casual contrastando com a gravidade da situação.

Senti o sangue drenar de meu rosto enquanto meu mundo desabava. Milena bateu palmas com alegria, seus olhos brilhando com excitação sádica.

— Que pena, Ana. — Disse ela, com falsa compaixão. — Parece que você será nossa estrela desta noite.

Os seguranças me arrastaram em direção à borda do convés enquanto Milena instruía os outros convidados a se posicionarem para ter a melhor vista do espetáculo.

Quando passamos por Luiz, agarrei a barra de sua camisa, permitindo que a última fagulha de esperança brilhasse em meus olhos.

— Luiz, por favor. — Sussurrei, minha voz quebrada pela emoção. — Você sabe que eu não sei nadar. Me salve, por favor.

Ele olhou para mim com uma expressão fria e indiferente antes de remover minha mão de sua roupa.

— Ana, eu perdi a aposta. — Disse ele, com uma calma que me gelou até os ossos. — Quando se joga, deve-se aceitar as consequências.

Apesar do calor do verão, meu corpo inteiro tremeu de frio. Eu me senti rígida como madeira morta quando os seguranças me carregaram até a borda e me jogaram no oceano sem cerimônia.

O impacto da água fez minha cabeça girar violentamente, e uma dor lancinante atravessou minhas têmporas.

Enquanto lutava para não afundar, olhei para cima e vi os dois homens que prometeram ser meu refúgio para toda a vida, me observando com frieza, alguns até mesmo com interesse mórbido.

Naquele momento de absoluto abandono, experimentei um tipo de desespero que jamais havia sentido antes, uma dor que transcendia o físico e atingia as profundezas de minha alma.
Patuloy na basahin ang aklat na ito nang libre
I-scan ang code upang i-download ang App

Pinakabagong kabanata

  • Amada na Mentira, Afogada na Verdade   Capítulo 0009

    Eu nunca consegui esquecer o olhar dele no momento em que caiu do penhasco. Havia sofrimento estampado nos traços, mas, ainda assim, ele insistiu em me dirigir um sorriso torto, quase desafiador.Ele chegou a mover os lábios, mas eu jamais soube o que tentou me dizer naquela fração de segundo.Depois que saí da delegacia, acompanhei Enrico até o carro.Pouco antes de partir, Luiz lançou um olhar na minha direção. O semblante dele, tão abatido, denunciava o peso da perda de Fernando e Milena, que o haviam atingido de uma forma irreparável.Achei que talvez ele fosse me dizer algo, mas só desviou os olhos, frio, antes de sumir pela porta.Continuei morando em Santa Maria, trabalhando na pousada como de costume, enquanto Luiz desapareceu da minha rotina e nunca mais foi visto na cidade.Até que, certo dia, uma multidão chegou de repente em Santa Maria, e meu primeiro impulso foi achar que estavam ali para arranjar confusão.Pensei em ligar para a polícia, mas Enrico segurou minha mão, sor

  • Amada na Mentira, Afogada na Verdade   Capítulo 0008

    Luiz e Fernando haviam se mudado para a casa ao lado, e eu vivia cruzando com eles pelos arredores da pousada.Naquele dia, saí para comprar algumas coisas, mas logo senti que alguém me seguia. Apertei o passo, tentando despistar, acreditando que, talvez, fosse apenas Luiz ou Fernando de novo.Só que, de repente, tudo ficou preto e apaguei.Quando recobrei a consciência, estava à beira de um penhasco, Milena do meu lado. Ela parecia exausta, nada lembrava a mulher orgulhosa de antes.Segurando uma faca contra meu pescoço, ela falava com uma raiva contida:— Ana, você nunca se compara a mim. Por que eles escolheriam você? Olha só, até agora parece que nada te abala! Quero ver se mantém essa coragem quando eles chegarem, não me venha implorar, hein.Eu tentei falar, mas havia um pano enfiado na minha boca, impossibilitando qualquer palavra.Pouco depois, vi Luiz e Fernando correndo ao longe.O olhar deles era inquieto, mas ambos hesitavam em se aproximar.Milena soltou uma risada, desliz

  • Amada na Mentira, Afogada na Verdade   Capítulo 0007

    Então Enrico ainda se lembrava daquele vídeo.Luiz e Fernando chegaram com todo o grupo deles e se hospedaram na pousada, o que me surpreendeu bastante considerando que Santa Maria fica a quilômetros de distância de Oeiras. Era verdade que a cidade tinha apostado pesado no turismo nos últimos dois anos, conseguindo atrair muitas empresas, mas mesmo assim não esperava que eles viessem pessoalmente até ali.Eu estava entediada atrás do balcão, folheando algumas ilustrações sem prestar muita atenção, quando escutei uma voz familiar me chamando.— Ana, precisamos conversar. — Disse Milena, se aproximando com aquela pose superior de sempre, embora dessa vez eu pudesse notar que seus ombros não estavam tão rígidos quanto antes, como se ela estivesse lutando para manter a compostura.Quando chegamos ao jardim, ela enfiou a mão na bolsa e puxou um cartão de crédito.— Tem cinco milhões aqui dentro. — Ela anunciou, estendendo o cartão na minha direção. — Sai do país, Ana.A surpresa me deixou

  • Amada na Mentira, Afogada na Verdade   Capítulo 0006

    Percebi o rancor por trás das palavras dele, mas não liguei e subi as escadas. O olhar sombrio de Fernando fez meu coração, que havia se acalmado momentos antes, acelerar novamente numa inquietação que eu conhecia bem demais.Ele era um louco mesmo.Talvez Luiz já tivesse superado o passado, mas Fernando claramente ainda carregava aquele rancor todo.Fiquei sentada na cama pensando nisso quando de repente alguém bateu na porta. Mal abri e uma pessoa se espremeu para dentro sem cerimônia.Era Fernando, que agarrou meu pulso antes mesmo que eu pudesse reagir, e logo em seguida entrou mais alguém. Luiz mantinha aquela expressão indiferente de sempre enquanto caminhava com passos calmos e calculados para dentro do meu quarto. A porta se fechou com um baque surdo que soou como uma sentença.Fernando segurou meu queixo com força desnecessária, seus olhos pareciam arder em chamas contidas.— Ana, ainda tem coragem de fingir que não me conhece? — Disse ele, com a voz carregada de algo perigos

  • Amada na Mentira, Afogada na Verdade   Capítulo 0005

    A pousada recebia apenas um ou dois hóspedes ocasionalmente, o que me deixava bastante ociosa na maior parte do tempo, mas mesmo assim o patrão era generoso com o salário. Descontando o aluguel, eu ficava com quatro mil reais líquidos.No primeiro mês comprei um celular novo e fiz uma linha telefônica usando os documentos do patrão.— Você não tem medo de que eu seja uma pessoa perigosa? — Perguntei certa vez. — Tipo uma assassina fugindo da polícia?O patrão olhou para mim demoradamente, e em seus olhos pude ver um desprezo que não chegava a ser zombaria.— Com esses seus braços e pernas de palito, assassina? — Ele riu. — Se for para falar a verdade, eu tenho muito mais cara de assassino que você.Sua expressão ficou sombria por um instante, mas eu não senti medo algum. Meu patrão, Enrico Ramos, era daqueles homens durões por fora, mas com coração de manteiga.Os dias se arrastavam monótonos e tranquilos.Naquele dia eu varria o chão quando Enrico aumentou o volume do vídeo que assis

  • Amada na Mentira, Afogada na Verdade   Capítulo 0004

    O choque me atingiu como um soco no estômago. Minhas pupilas se contraíram num instante enquanto encarava Milena, que arqueou as sobrancelhas com uma expressão de quem havia acabado de desvendar um grande mistério.— Você realmente não sabia disso? Ai, meu Deus, Ana, você é mesmo muito ingênua! Nunca perguntou para o Luiz por que ele te levou para casa? Como consegue ficar tão de boa assim, sem curiosidade nenhuma? — Ela riu com maldade pura.Como não teria perguntado? Na festa de aniversário do Luiz, depois de alguns drinks, criei coragem e fiz aquela pergunta diretamente para ele.Lembrei que ele ficou meio sem jeito por uns segundos antes de passar a mão suavemente no canto do meu olho.— Quando te vi pela primeira vez, aquela tristeza profunda no seu olhar me chamou atenção. — Ele havia murmurado. — Naquele momento só queria te salvar, você parecia uma flor murcha, e eu queria ver como seria quando florescesse de novo. Agora você voltou à vida e está igual àquela rosa que segurava,

Higit pang Kabanata
Galugarin at basahin ang magagandang nobela
Libreng basahin ang magagandang nobela sa GoodNovel app. I-download ang mga librong gusto mo at basahin kahit saan at anumang oras.
Libreng basahin ang mga aklat sa app
I-scan ang code para mabasa sa App
DMCA.com Protection Status