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Capítulo 3

Author: Passenger
No meu coração, eu respondia em silêncio: "Casar com o Bernardo nunca me trouxe felicidade."

Antes de ser levada para a sala de cirurgia, vi Bernardo entrando com Melissa de mãos dadas.

— Como você tá? — Ele me olhou, com as sobrancelhas levemente franzidas. — Não consegue nem prestar atenção ao dirigir? Sorte que a Melissa não se machucou dessa vez.

Melissa, que estava ao lado, falou com um tom de falsa culpa:

— A culpa foi minha. Se eu não tivesse pedido pra Clara me levar, isso não teria acontecido.

Bernardo a puxou para mais perto, abraçando-a enquanto dizia com a voz suave:

— Não foi culpa sua. Você também se machucou, lembra? Fica tranquila. Eu te levo pra comer alguma coisa gostosa agora, tá bom?

Nesse momento, o médico chegou para avisar que a cirurgia já estava pronta para começar. Bernardo lançou um olhar breve de surpresa para mim, mas logo voltou sua atenção para Melissa, que continuava falando.

A cirurgia correu bem. Quando a enfermeira perguntou se eu tinha algum familiar para ser avisado, demorei alguns segundos antes de responder:

— Não precisa. Eu não tenho família.

Durante a internação, contratei uma cuidadora para me ajudar. Enquanto isso, Bernardo passava os dias viajando com Melissa.

Melissa fazia questão de me enviar fotos dos passeios. Eles foram para a praia, fizeram mergulho, assistiram ao brilho do céu submarino e registraram beijos apaixonados em vários lugares. Eu olhava para as fotos sem sentir absolutamente nada.

Nos últimos dias, estive ocupada ajudando uma amiga a abrir um laboratório de pesquisa em biotecnologia. Durante esses oito anos, sempre usei meu tempo livre para colaborar no desenvolvimento de produtos com ela. Minha amiga insistia para que eu abrisse o laboratório com ela, mas eu nunca aceitava.

Muitas pessoas me disseram que desperdicei oito anos da minha vida por causa de um acordo. Mas eu nunca me arrependi.

Naquele momento, salvar minha mãe era mais importante do que qualquer outra coisa. Agora que o acordo com Bernardo estava prestes a terminar, eu finalmente seria livre.

No dia da alta, Bernardo, pela primeira vez em muito tempo, me ligou.

— Quando você vai voltar? A casa tá uma bagunça. Você ainda não teve alta?

Eu ri, irônica, e perguntei:

— Por acaso os funcionários da casa não trabalham mais?

Bernardo respondeu com impaciência:

— Você sabe que eu não gosto que mexam nas minhas coisas. Além disso, tem documentos da empresa que só você sabe organizar.

Olhei para o relógio, pronta para dizer que não tinha tempo, mas fui interrompida pela enfermeira, que apareceu na porta para avisar que eu precisava pagar a conta do hospital antes de sair.

Bernardo ouviu e me apressou:

— Anda logo e volta pra casa.

Ignorei suas palavras, paguei as despesas e entrei no carro da minha amiga Letícia Vieira.

Letícia me olhou pelo retrovisor e perguntou:

— Enfim, tá livre?

Dei um sorriso discreto, sentindo alívio:

— Acabou. Agora só falta assinar os papéis do divórcio e ir embora.

Letícia ficou mais animada do que eu:

— Então vamos logo! Fechamos o contrato e depois comemoramos com um rodízio de comida boa!

Concordei com a cabeça.

Enquanto discutíamos os detalhes do contrato, recebi outra ligação de Bernardo. Olhei para a tela do celular, mas apenas fechei o aparelho e pedi que Letícia continuasse.

Ela estreitou os olhos, me encarando curiosa:

— É sério, você não sente mais nada por ele?

Letícia era a única pessoa que sabia que, em algum momento, eu tinha me apaixonado por Bernardo. Mas todos os sentimentos que eu tinha foram sendo destruídos pelas atitudes dele ao longo dos anos.

Fiquei olhando para o celular, perdida em pensamentos, antes de responder:

— Tem gente que simplesmente não pertence ao nosso mundo.

Letícia concordou com um aceno. Depois de assinarmos o contrato, fomos a um restaurante francês que costumávamos frequentar.

Quando coloquei a primeira garfada de escargot na boca, lágrimas começaram a se acumular nos meus olhos.

Letícia riu e perguntou:

— Tá tão gostoso que tá dando vontade de chorar?

Sorri e não respondi.

Desde que me casei com o Bernardo, nunca mais havia experimentado esse tipo de comida "estranha".
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