Capítulo 2

Bernardo soltou um riso debochado:

— Você, Clara? No máximo pode limpar os escritórios do Grupo Santos. Até a Melissa Moreira, que acabou de se formar, é muito melhor que você.

Quando eu estava prestes a responder, Melissa saiu do quarto:

— Ber, o que acha desse vestido? Tá bonito?

Ela estava usando uma das roupas que Bernardo comprava todos os anos para sua falecida primeira namorada. Eu me lembrei de uma vez em que, enquanto limpava, toquei acidentalmente em uma dessas peças e acabei levando um tapa de Bernardo. Mas, agora, ele olhou para Melissa com atenção, claramente satisfeito.

— Ficou ótimo. Pode usar qualquer roupa do guarda-roupa. — Disse ele.

Melissa, satisfeita, deu uma voltinha e, com um sorriso provocador, virou-se para mim:

— E aí, Clara? Ficou bom em mim?

Eu assenti com sinceridade e até a elogiei:

— Ficou lindo. Combina com você.

Minha resposta a deixou surpresa por alguns segundos. Antes que ela pudesse reagir, virei as costas e fui para o meu quarto. Em três dias eu estaria livre daquela casa. Já era hora de começar a arrumar minhas coisas.

Mal tinha me deitado quando o telefone tocou. Era Bernardo.

— A Melissa precisa voltar pra faculdade. Leva ela de carro.

Eu franzi o cenho e perguntei:

— Não tem motorista pra isso?

Depois de duas recusas, o tom de Bernardo começou a ficar mais agressivo, cheio de irritação:

— É tão difícil assim fazer uma coisa que eu peço?

Antes que ele explodisse de vez, cedi:

— Tá bom, eu levo.

Bernardo, satisfeito, respondeu com ironia:

— Se tivesse aceitado logo, não precisava disso tudo.

Troquei de roupa e saí do quarto. Bernardo estava no jardim com Melissa, esperando.

— Anda logo! Melissa tem prova. Não faz ela se atrasar. — Disse Bernardo, impaciente.

Melissa sorriu com ar de superioridade e disse:

— Obrigada, Clara.

Antes de entrar no carro, Melissa e Bernardo se despediram com um longo beijo no jardim.

Quando ela entrou no carro, me lançou um olhar provocador.

— Foi mal, Clara. O Ber é meio caloroso, né? Ele é assim com você também?

Ignorei o comentário, mas Melissa continuou, rindo:

— Um homem como ele nunca daria bola pra você. Uma mulher velha e sem graça como você não tem chance.

Eu permaneci em silêncio, e, talvez por não receber nenhuma resposta, Melissa logo perdeu o interesse e ficou quieta.

Quando estávamos chegando perto da faculdade, um carro desgovernado entrou na nossa pista. Virei o volante rapidamente para desviar, mas, mesmo assim, fomos atingidas. O impacto fez o carro parar, e senti uma dor aguda na perna.

Ao ouvir os gemidos de Melissa, me virei para olhar. Tudo que vi foi um pequeno arranhão no braço dela, mas pensei que talvez houvesse algo mais grave que eu não conseguisse enxergar.

Logo os paramédicos chegaram e nos retiraram do carro. Meu diagnóstico foi fratura na perna esquerda, enquanto Melissa tinha apenas um arranhão no braço.

Depois que os médicos terminaram de fazer um curativo em Melissa, Bernardo chegou ao local. Ele correu até ela, visivelmente preocupado, e perguntou:

— Tá tudo bem? Você tá machucada?

Melissa fez um drama, dizendo que sua mão doía, e Bernardo imediatamente ordenou que o motorista a levasse ao hospital para fazer exames mais detalhados.

Ele passou por mim duas vezes sem sequer olhar na minha direção.

Sorri para mim mesma, sem dizer nada. A dor na minha perna parecia menor do que o desconforto que eu sentia em outro lugar mais profundo.

Fui levada ao hospital, onde ouvi algumas enfermeiras conversando:

— Bernardo é realmente incrível com a namorada dele. Só por causa de um arranhão, ele já quer chamar os melhores especialistas do hospital.

— Um homem assim, carinhoso e rico, é difícil de encontrar. Deve ser muito bom ser casada com ele.