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Capítulo 3

Author: Moky
O antigo pátio de Mariana se chamava Lar das Ameixeiras. No pátio estavam plantadas diversas ameixeiras, que, desde o início do inverno, floresciam em abundância e só murchavam na entrada da primavera.

Essas flores haviam sido trazidas de várias regiões do reino de Pallacera por ordem pessoal do Marquês Lovante, apenas porque a pequena Mariana disse certa vez que, em toda a vida, o que mais amava eram as ameixeiras. Todos os anos, a Casa do Marquês Lovante gastava mais de cem taéis de prata só para o cultivo dessas flores.

Mas, no ano em que Amanda retornou, bastou ela comentar que "as flores do pátio da irmã são muito bonitas" para que o Lar das Ameixeiras passasse a ser dela.

Naquele tempo, Mariana se sentiu cheia de ódio, mas agora, ao recordar, já não tinha grandes emoções. Amanda era a verdadeira filha da família Lovante, tanto as coisas quanto as pessoas da casa, naturalmente, pertenciam a ela. Mariana, afinal, não passava de uma intrusa ocupando o ninho alheio.

A serva que guiava o caminho se mostrou calorosa:

— A serva que antes servia à senhorita já se casou, então a Marquesa mandou que eu ficasse a seu serviço daqui em diante. Meu nome é Giulia. Sempre que precisar de algo, basta me dizer.

Giulia tinha um rosto redondo, de traços infantis. Mariana a achou familiar e perguntou:

— Você não era do pátio do Sr. Teodoro?

Giulia pareceu surpresa e contente, exclamando:

— A senhorita ainda se lembra de mim?

Mariana assentiu levemente. Antes, costumava brincar bastante no pátio de Teodoro e, portanto, se lembrava de seus criados. O que não entendia era porque ele colocou alguém ao seu lado. Pensando nos mal-entendidos de três anos atrás, quando Teodoro suspeitou que ela queria prejudicar Amanda, Mariana logo concluiu que ele a enviou para vigiá-la.

O Lar de Lótus não era grande, logo na entrada havia um lago de lótus. No verão, as flores desabrochavam em profusão, eram belas apesar dos mosquitos. Mas naquela estação só restavam caules secos balançando na superfície congelada, tornando o pátio ainda mais frio e desolado.

Felizmente, o interior da casa estava aquecido. O fogo ardia no braseiro, e os criados já haviam preparado água quente. Giulia logo se aproximou para ajudá-la no banho, mas Mariana lhe segurou o pulso, dizendo:

— Não precisa, eu mesma me viro.

Giulia arregalou os olhos, protestando:

— Como assim? Onde já se viu deixar uma senhorita fazer as coisas sozinha?

— Eu mesma faço. — Repetiu Mariana, num tom frio, sem emoção aparente, mas carregado de firmeza.

Sem escolha, Giulia deixou as roupas sobre a mesa e falou:

— Então... Eu vou aguardar do lado de fora. Se precisar, é só chamar.

— Está bem. — Respondeu Mariana suavemente, apenas observando até que a serva saísse e fechasse a porta. Só então ela foi para trás do biombo e começou a se despir pouco a pouco.

...

Uma hora depois, Mariana foi ao pátio da matriarca Lovante. Mas mal entrou e foi barrada por Teodoro.

— Por que não trocou de roupa? — Disse ele com raiva e impaciência, olhando com uma pitada de desprezo para ela. — Quer que a avó te veja assim, com traje de serva do palácio, só para deixar ela com dó de você?

Mariana abriu a boca para explicar, mas ele não deu chance, empurrando ela para fora enquanto dizia:

— Vou te avisar, a saúde da avó não aguenta grandes emoções, guarde suas intenções vergonhosas! Se ela passar mal, não vou te perdoar!

Com os empurrões, a dor em seu tornozelo torcido se intensificou, e ela acabou caindo no chão. Justo nesse momento, Natália chegava e presenciou a cena.

— Teo, pare com isso!

Ela correu até Mariana, que não conseguia se levantar sozinha, e ordenou às servas que a ajudassem.

Teodoro, olhando para elas de forma indiferente, resmungou:

— Mãe, não é culpa minha, foi ela quem agiu de má-fé! Você comprou roupas novas para ela, mas ela insiste em usar essa vestimenta para encontrar a avó. Não é claramente para fazer a avó morrer de tristeza?

Ao ouvir, Natália reparou que Mariana ainda vestia o traje de serva. Ela suspirou e, com voz suave, disse:

— Mari, nestes três anos que você esteve fora, a saúde de sua avó piorou muito. Seu irmão não devia ter te empurrado, mas é apenas preocupação com sua avó. Troque de roupa, está bem?

Mariana ergueu os olhos para Natália, depois lançou um olhar para Amanda, antes de finalmente responder:

— As roupas ficaram pequenas.

As roupas novas haviam sido preparadas com as medidas de Amanda, mas Mariana era meia cabeça mais alta, e nelas não cabia.

Natália ficou cheia de culpa:

— Entendo... Foi descuido meu, vou mandar providenciar outras agora mesmo.

Teodoro, porém, explodiu:

— Quão pequenas podem ser? Você só é um pouco mais alta que a Mandinha! Agora, depois de três anos como serva do palácio, ficou cheia de frescura?

Mariana respirou fundo. Sabendo que ele sempre a acusava injustamente, ela decidiu mostrar ali mesmo. Ela levantou a manga da roupa e falou:

— Não é que não caibam, é que não conseguem esconder.

Um choque percorreu todos.

As mãos dela estavam roxas e inchadas, com frieiras abertas e feridas. Ainda mais terríveis eram as marcas em seus braços: vergões de chicote, cicatrizes velhas e novas, avermelhadas e escuras, entrelaçadas como uma rede quebrada que se estendia até as mãos.

Teodoro, finalmente, entendeu. Se as roupas fossem pequenas demais, as mangas curtas deixariam à mostra esses ferimentos diante da avó. A velhinha não teria um ataque cardíaco se visse uma coisa dessas?

Natália também compreendeu e as lágrimas caíram de imediato. Tomou as mãos da filha e, cheia de dor, falou:

— Eu pensei que você me afastou por mágoa... Mas, na verdade, era eu que tinha te machucado, não é?

Mariana nada disse, tampouco retirou as mãos.

Giulia, com os olhos vermelhos, murmurou:

— Então era por isso que a senhorita não me deixava te ajudar com o banho... Está ferida no corpo inteiro, não é?

"Ferida no corpo inteiro? Os braços já estão nesse estado chocante, se todo o corpo for assim..."

Pensando assim, Natália perdeu até o fôlego, gritando:

— Rápido, chamem o médico!

Uma serva saiu correndo. Amanda, por sua vez, já chorava ao lado:

— Como puderam te tratar assim?

Se ela ficasse calada, tudo ficaria bem, mas a bendita teve que abrir a boca... Ao ouvir isso, Mariana sentiu uma onda amarga crescer em seu peito. Ela olhou para Amanda e disse impassivelmente:

— Naturalmente, foi por ordem da princesa. Quem me maltratasse, recebia recompensa. Quanto mais cruel fosse, mais prêmios ganhava. Afinal... Fui eu quem quebrou o vaso de vidro dela, não?

O corpo de Amanda enrijeceu, as lágrimas rolaram uma após outra daqueles olhos esbugalhados que encaravam Mariana fixamente, como se a vítima de três anos de tormento tivesse sido ela.

Atrás dela, a sua serva mantinha a cabeça baixa, em silêncio.

Três anos se passaram, e aquela mesma serva que a acusou injustamente ainda permanecia ao lado de Amanda. Por isso, todas as declarações de dó e carinho de Natália soavam para Mariana apenas como uma grande piada.
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