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Capítulo 2

Author: Moky
O corpo de Mariana estremeceu. Ela pensava que seu coração já não sentia mais nada, mas ao ouvir aquela voz familiar, ainda perdeu duas batidas.

Mariana levantou lentamente a cabeça para olhar o homem dentro da carruagem.

Era o jovem general que havia conquistado glórias militares, seu antigo noivo, Kato Mendes.

Quase por instinto, ela se ajoelhou e disse:

— A humilde serva saúda o General Kato.

As sobrancelhas de Kato se franziram de forma quase imperceptível. Seu olhar passou de relance pelo tornozelo dela, e sua voz fria perguntou:

— A Srta. Mariana está a caminho de casa?

Mariana baixou os olhos para os próprios joelhos e assentiu:

— Sim.

Seguiu-se um longo silêncio.

Kato estava esperando que ela continuasse a falar. Afinal, antigamente, diante dele, Mariana sempre tinha palavras de sobra. Ele não gostava de barulho, mas, em consideração à amizade entre as famílias, raramente a repreendia com severidade, embora também não escondesse sua irritação. Quando o falatório se tornava insuportável, ele simplesmente lhe entregava uma caixa de doces para lhe calar a boca. E sempre, nesse momento, ela se alegrava como uma criança, mas seu falatório só era interrompido por meia hora, no máximo.

Para sua surpresa, depois de três anos sem se verem, ela o respondeu apenas com uma palavra.

Kato desceu da carruagem, mas não estendeu a mão para ajudá-la, se limitando a dizer friamente:

— Estou a caminho do palácio. A Srta. Mariana pode usar minha carruagem para voltar.

Mariana instintivamente quis recusar. Mas antes que pudesse abrir a boca, a voz gélida dele soou novamente:

— Está ferida, não precisa se forçar. Se não pensa em si mesma, pense ao menos na matriarca Lovante.

O tom era impositivo, não admitia réplica.

Mariana se lembrou de sua avó, a pessoa que mais a amava. Ela só havia conseguido sair da Lavanderia Imperial porque a avó tinha ido pessoalmente implorar à Imperatriz. Se a avó descobrisse que a neta havia voltado a pé, mancando, com certeza ficaria profundamente triste.

Assim, não rejeitou mais e respondeu em voz baixa:

— A humilde serva agradece ao General Kato.

Ela se levantou e caminhou em direção à carruagem. Ao passar por ele, seu corpo enrijeceu involuntariamente.

Comparado a três anos atrás, Kato estava mais alto, mais robusto. Ela ouviu rumores de que ele havia vencido uma batalha recentemente, então parecia ainda exalar o ar solene e opressivo do campo de guerra. Só de passar por ele, o coração de Mariana se contraía bruscamente.

Ela o amou com paixão ardente, embora ele nunca tivesse correspondido. Naquele tempo, acreditava que Kato era como gelo, frio e distante com todos, mas que, se ela fosse calorosa o suficiente, acabaria por derretê-lo. Só mais tarde, quando o viu olhando para Amanda com uma ternura inigualável, percebeu que nem todo esforço trazia resultados.

Algumas pessoas nasciam destinadas a ter, sem esforço algum, o que outros não conseguiam obter em toda uma vida.

Por isso, no dia em que viu Kato proteger Amanda e lhe lançar um olhar feroz de advertência, engoliu todas as palavras que queria dizer em sua própria defesa.

Seus pais, seu irmão e até o homem que mais amava, todos escolheram ficar ao lado de Amanda, desejando que Mariana assumisse a culpa no lugar dela.

Teodoro disse uma vez algo que, embora cruel, não deixava de ser verdadeiro: Mariana desfrutou de quinze anos de privilégios no lugar de Amanda, aqueles três anos de castigo eram apenas a restituição.

Mas doía? Claro que doía.

Ela nunca fez nada, e ainda assim, todos os que a amavam e protegiam um dia, de repente, apontaram as armas para ela. Como não se sentiria injustiçada?

Dentro da carruagem, o ambiente era bem mais quente que lá fora. Um leve aroma de incenso preenchia o ar, o mesmo que Kato sempre usava. Sobre a mesinha, havia um aquecedor portátil e uma caixa de doces. Mariana reconheceu, eram da confeitaria favorita de Amanda.

Ela se lembrou de quando Amanda voltou para casa, e Natália logo a procurou, lhe pedindo delicadamente que devolvesse o acordo de noivado com Kato para Amanda. Aquele era o casamento destinado à herdeira da família Lovante e ao herdeiro da família Mendes. Naquela época, Mariana não queria aceitar. Só que, embora a fala de Natália fosse gentil, sua postura era firme. Mariana teve de ceder, querendo ou não. Agora, passados três anos, Kato e Amanda ainda não haviam se casado?

Uma dor ácida lhe encheu o peito, ela não sabia nomear o sentimento. Inveja? Ressentimento? O que quer que fosse, no fim, se reduzia a uma frase: já não importava mais.

Pouco tempo depois, a carruagem parou diante da Casa do Marquês Lovante. Amparada pelo cocheiro, Mariana desceu ainda com dificuldade. Mal se firmou, quando ouviu uma voz ansiosa e terna:

— Mari!

Era Natália, a pessoa que já foi, um dia, a sua mãe.

Mariana se virou e viu que ela vinha apressada, apoiada por Teodoro e Amanda. Seus braços abertos deixavam claro que queria abraçá-la.

Os olhos de Mariana se escureceram. Antes que Natália pudesse alcançá-la, se ajoelhou e cumprimentou:

— A humilde serva Mariana saúda a Marquesa Lovante.

O corpo de Natália parou no mesmo instante.

Mais cedo, Teodoro e Kato a haviam tratado como parte da família Lovante. Mas talvez não soubessem que, no terceiro dia de sua punição na Lavanderia Imperial, uma ama já lhe disse que Décio havia declarado diante do Imperador que ela não era filha legítima da família Lovante, seu sobrenome era Rossi.

Seu nome agora era Mariana Rossi, e assim era chamada havia muito tempo.

Natália, obviamente, sabia disso. E talvez por culpa ou por dor, as lágrimas escorreram imediatamente. Ela segurou Mariana, acariciou o rosto dela e murmurou com ternura:

— Está mais magra, mais escura...

A filha que ela sempre criou como joia preciosa, em apenas três anos, se tornou desgastada e esquelética.

— Não chore, mãe, basta que minha irmã tenha voltado, tudo vai ficar bem. — Disse Amanda, com voz suave.

Comparada a três anos atrás, Amanda estava mais branca e mais cheia. Seus olhos vermelhos e tímidos refletiam uma culpa contida, exatamente como antes. Mariana fingiu não ter visto ela e baixou os olhos.

Natália, porém, sorriu aliviada:

— Sim, voltou, e isso é o que importa, voltou.

Enquanto falava, lançou um olhar para a carruagem próxima e reconheceu de imediato que era da família Mendes. Ela se lembrou do rosto irado de Teodoro ao chegar em casa e franziu o cenho, o repreendendo com um olhar, depois puxou a mão de Mariana, consolando:

— Seu irmão foi um insensato, já o castiguei por isso. Não se preocupe, daqui em diante não vou deixar que você sofra mais nada!

Natália estava realmente com dó dela, havia lágrimas nos olhos, mas Mariana retirou a mão de repente. Esse gesto enfureceu ainda mais Teodoro, que já estava irritado. Ele gritou:

— Mariana, não seja ingrata!

Ela apenas levantou os olhos para ele, sem dizer nada.

Natália ralhou em voz baixa:

— Sua irmã acabou de voltar, e você já mostra todo esse mau humor?

— Mãe! Olhe para a atitude dela! — Teodoro franziu as sobrancelhas, fuzilando Mariana com os olhos. — Já te disse antes, se não quer ficar, volte para a Lavanderia Imperial! A família Lovante te criou por quinze anos, não te deve nada. Posso tolerar que me trate com frieza, mas a mãe quase chora todos os dias por sua causa! Como ousa tratar ela assim, com esse seu humor instável de senhorita?

"Humor instável de senhorita?"

Mariana sorriu amargamente por dentro. Já não era mais nenhuma "senhorita", como teria humor instável de senhorita?

Diante de seu silêncio, Natália também franziu a testa, mas mesmo assim repreendeu Teodoro:

— Sua irmã só precisa de tempo para se readaptar. Não a culpe mais! — Dito isso, ela chamou uma serva e disse a Mariana. — Sua avó sabe que voltou hoje, está esperando por você. Vá primeiro ao Lar de Lótus se lavar e depois vá cumprimentá-la. Daqui em diante, você ainda é uma jovem herdeira Lovante. Fique tranquila, nada vai mudar.

Mariana inclinou a cabeça em sinal de respeito, se despediu de Natália e só achou graça por dentro. Nada iria mudar? Mas ela sabia que jamais voltaria a viver no mesmo pátio de antes.
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