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Capítulo 8

Author: Moky
Do outro lado, Mariana tinha acabado de ajudar Cássia a voltar ao quarto quando esta teve uma crise.

Tal como Natália havia dito, o corpo de Cássia já não era como antes. Mesmo tentando controlar as emoções naquele dia, ainda assim se agitou demais. Mesmo deitada, ela respirava ofegante.

Felizmente, a velha serva Matilde já previa isso e chamou o médico particular da casa para ficar de prontidão do lado de fora. Assim que Cássia se deitou, ele aplicou agulhas e massagens.

Depois de meia hora, Cássia finalmente se recuperou. Não chegou a ser algo muito perigoso, mas Mariana, ao lado, ficou assustada e sem saber o que fazer. Vendo o pânico no rosto da neta, Cássia se apoiou na cabeceira e acenou para que ela se aproximasse.

O nariz de Mariana ardeu, mas com medo de que sua própria emoção pudesse piorar a saúde da avó, conteve as lágrimas e foi até a beira da cama.

— Você se assustou? — Cássia sorriu com doçura.

Mariana fungou e, apertando com força a mão da avó, murmurou:

— A avó me prometeu que vai viver até os cem anos.

Ela só tinha a avó.

Cássia a olhou com ternura, falando:

— A avó também deseja viver cem anos e proteger Mari para sempre... — Mas ela sabia que isso não seria possível por muito tempo. Com esse pensamento, perguntou de repente. — Mari, que tal a avó procurar um bom casamento para você?

Enquanto ainda tivesse forças e voz dentro da Casa do Marquês Lovante, queria garantir um futuro seguro para a neta, assim a protegeria por toda a vida.

Mariana entendeu a intenção da avó, mas balançou a cabeça e baixou os olhos, murmurando:

— A Mari só quer cuidar da avó.

Nesses três anos, ela já havia enxergado muita coisa. Se até os parentes que a acompanharam por quinze anos puderam abandoná-la de um dia para o outro, como poderia confiar a vida a um estranho, chamado de marido? Decidiu que ficaria ao lado da avó até o fim. E, quando esta partisse, sairia da Casa do Marquês Lovante. Mesmo que fosse para virar uma freira, seria melhor do que se prender novamente a essa família.

Cássia sabia que Mariana era teimosa desde pequena, quando ela não queria algo, ninguém a faria mudar de ideia. A velhinha apenas suspirou levemente e não insistiu.

Mariana ainda ficou um tempo com ela e, quando a avó adormeceu, se retirou.

Pouco depois de voltar ao Lar de Lótus, Giulia veio avisar:

— Senhorita, a Srta. Amanda veio te visitar.

— Amanda? — Mariana franziu o cenho.

Antes que respondesse, Giulia acrescentou:

— A Srta. Amanda veio sozinha.

Ao ouvir isso, Mariana sorriu de leve, perguntando:

— Foi ela quem mandou você dizer assim?

A serva piscou com ar inocente e confirmou, acrescentando em seguida:

— Se a senhorita não quiser recebê-la, vou recusar agora mesmo.

Até uma serva sabia que ela não queria ver Amanda, mas Amanda, não sabendo, ou talvez fingindo não saber, ainda pediu para Giulia passar o recado e destacar que não trouxe consigo aquela serva que a acusou de quebrar o vaso de vidro anos atrás.

Era bem engraçado. Naquele ano, quem a incriminou foi, de fato, a serva da Amanda, mas quem quebrou o vaso de vidro e não ousou admitir, quem ficou encolhida de lado, de boca fechada, permitindo que a própria serva a acusasse injustamente e aceitando que Mariana levasse a culpa, foi justamente Amanda!

Por isso, Mariana não conseguia entender: com que direito Amanda achava que ela iria querer vê-la?

— Diga que já fui dormir. — Disse Mariana friamente.

— Sim! — Giulia saiu, mas demorou a voltar.

Quando regressou, parecia constrangida.

— Senhorita, a Srta. Amanda disse que veio hoje especialmente pedir perdão. Se a senhorita não quiser vê-la, ela vai ficar lá fora sem sair. E parece que logo vai nevar...

Giulia não sabia o motivo da insistência de Amanda, mas afinal, ela era a joia da Casa do Marquês Lovante. Se ficasse do lado de fora sob a neve, os rumores que surgissem não seriam bons para sua senhora.

Mariana franziu a testa, suspirou cansada e, por fim, cedeu:

— Então deixa ela entrar.

— Sim. — Giulia obedeceu e saiu.

Logo, Amanda entrou. Naquele momento, Mariana estava sentada junto à mesa, passando pomada para frieiras nas mãos. Amanda notou de imediato os dedos arroxeados dela, o coração se apertando. Ela se aproximou e fez uma reverência, cumprimentando:

— Amanda saúda a irmã mais velha.

Mariana não ergueu nem as pálpebras, falando:

— Senta aí. — A voz era suave, mas carregada de frieza.

Amanda não se sentou, apenas avançou e disse:

— Deixa a Mandinha te ajudar a passar o remédio.

Enquanto falava, pegou a pomada da mesa, pronta para aplicá-la, mas Mariana escondeu a mão dentro da manga. Finalmente ergueu os olhos, lhe lançando um olhar de escárnio e questionando:

— Em pleno frio do inverno, a Srta. Amanda não fica em seu quarto e vem até o meu para quê?

A frieza dela deixou Amanda um pouco ressentida, os olhos dela marejaram enquanto ela dizia suavemente:

— Eu vim pedir perdão. Tudo foi culpa minha. Se eu não tivesse quebrado o vaso de vidro, você não teria sofrido tanto. Pode me bater, me xingar, não vou me queixar, contanto que extravase sua raiva e se acalme.

Ela falava com tanta sinceridade que parecia pronta a se ajoelhar. Mas Mariana a olhava apenas com indiferença, e quando ela terminou, perguntou:

— Você acha que seu único erro naquele dia foi ter quebrado o vaso de vidro?

Amanda ficou sem saber o que dizer.

Mariana se levantou devagar e foi até a porta, olhando para o lago de lótus congelado, onde restavam apenas caules secos. Ela respirou fundo e o ar gelado penetrou nos pulmões, reforçando ainda mais a frieza em sua presença.

— Você é a filha legítima da Casa do Marquês Lovante. Durante quinze anos, fui eu quem roubou o seu lugar, sua riqueza, seu afeto. Eu sabia que o Marquês e a Marquesa deviam cuidar de você, que o Sr. Teodoro devia te proteger, até o Lar das Ameixeiras que eu tanto amava deveria ser seu. Amanda, quando você voltou, eu me senti culpada. Pensei em voltar para casa dos meus pais biológicos, mas o Marquês me disse que eles já haviam falecido e pediu que eu ficasse. Sou grata por isso e até jurei que tentaria conviver bem com você, mesmo sentindo diferença em meu coração. Mas... — Ela se virou de repente, fitando Amanda. — Me responda com sinceridade: eu, alguma vez, já te prejudiquei?

Os olhos de Amanda se encheram de lágrimas, prestes a cair.

Por um instante, Mariana se sentiu cansada. Se alguém da Casa do Marquês Lovante a visse assim, logo diriam que ela estava intimidando Amanda. Não foi assim que Teodoro, enganado pelo choro dela, a chutou escada abaixo anos atrás?

E, no entanto, ela nunca fez nada de errado para merecer isso.

Sentindo um frio no coração, Mariana encarou aquela mulher frágil prestes a chorar, e sua voz se tornou ainda mais gélida:

— Então por que você quis me prejudicar?
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