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Capítulo 3

Author: Grande Cabeça Atum
Eu ainda ouvi o que Ruben disse.

Deitada na cama, respirei com dificuldade. Sem perceber, meus olhos ficaram vermelhos. Conheci Ruben durante um espetáculo de música e dança. Eu era dançarina no palco, e ele, o músico da apresentação. Foi o professor quem nos apresentou.

No momento em que o vi pela primeira vez, fiquei encantada com a forma como ele se dedicava à música. Durante um ensaio, quase caí do palco por descuido.

Foi Ruben quem se jogou para me amparar, evitando que eu me machucasse. Ele acabou quebrando o pé direito. Naquela época, eu tremia de medo, mas ele me abraçou e me tranquilizou:

— Por que está assustada? Não vou pedir para você me compensar. Além disso, mesmo que eu perca o movimento da perna, isso não vai mudar minha vida. Mas você é diferente. Se quebrar a perna, isso pode afetar sua carreira para sempre.

Foi por causa dessas palavras que eu me apaixonei perdidamente pela gentileza dele. Mas agora percebi que sua dedicação à música não significava lealdade no amor.

Ele se apaixonou por mim, que dançava graciosamente no palco, mas também foi capaz de se encantar pela juventude vibrante de Yona.

Enquanto eu dormia, meio atordoada, Ruben entrou no quarto com uma tigela de mingau de abóbora e batata, minha comida preferida.

— Amor, levante-se. Não pode dormir sem comer nada. Isso faz mal para sua saúde.

Ele falou, mas eu não reagi.

Ruben, surpreendentemente, não ficou irritado. Em vez disso, cuidou de mim com cuidado, ajudando-me a sentar na cama e falando com uma voz suave:

— Mesmo que esteja brava comigo e não queira comer, pense no nosso filho. Ele é tão pequeno e precisa de nutrientes. Coma este mingau, e depois, se quiser, pode descontar sua raiva em mim.

Ele estava incomumente paciente, tentando me agradar. Não resisti e olhei para ele. Ruben segurava a tigela, e seus olhos mostravam uma leve tentativa de me conquistar. A última vez que ele foi tão gentil e atencioso foi quando precisava de algo de mim: que eu cedesse minha vaga em uma competição de dança para Yona.

Naquela ocasião, ele disse:

— Você está grávida e não pode participar da competição de qualquer forma. Por que não cede a vaga para Yona? Ela quer participar desse concurso há muito tempo.

Naquele momento, despertei completamente. Ele tinha um motivo oculto. Peguei a tigela de mingau das mãos de Ruben com calma e olhei para ele, sem expressão.

— Diga logo. O que você quer de mim desta vez?

Ruben riu de forma constrangida.

— Meu amor, que ideia é essa? Mesmo que eu não precise de nada, preparar um mingau para você é o mínimo que eu deveria fazer.

— Se não vai dizer, vou assumir que não é nada.

Ele imediatamente mudou de expressão, como se tivesse medo de que eu mudasse de ideia, e rapidamente falou:

— É que... Yona quer comer os tacos e aquele porco assado ao estilo americano que você faz. Eu já comprei os ingredientes. Amanhã você pode preparar para que eu leve para ela?

Mesmo já esperando algo assim, as palavras dele me atingiram como uma faca, perfurando meu coração pouco a pouco.

Agora, mesmo sendo ingênua, finalmente entendi que, para todos, eu nunca tive valor algum. Desde pequena, fui a empregada da família, sempre à disposição de Yona. Nossos pais só se preocupavam com ela, fazendo questão de dar tudo de bom e do melhor para ela.

Ela sempre teve a felicidade que eu só podia sonhar em ter.

Ela podia aprender pintura, dança, o que quisesse, enquanto eu precisava implorar por semanas para conseguir o dinheiro da mensalidade escolar. Até dançar, eu só consegui por sorte.

Yona decidiu que não queria mais as aulas de dança, mas como o pagamento já havia sido feito, eu me ofereci para ocupar a vaga.

Depois, Yona ficou com ciúmes e exigiu voltar para as aulas de dança. Meus pais, querendo incentivá-la a estudar, permitiram que eu continuasse dançando.

Mesmo assim, eu não tinha sequer um par de sapatilhas. Sempre dançava descalça.

Yona aproveitava essas oportunidades para pisar de propósito nos meus pés, arrancando risadas dos outros.

— Yarin, dançando descalça? Que ridículo!

Tudo isso mudou quando Ruben me pediu em casamento. Acreditei que, ao me casar com ele, finalmente deixaria para trás uma vida de sofrimento.

Mas agora eu percebia que essa dor apenas assumiu de outra forma.

A pessoa que me machucava agora era meu próprio marido, Ruben.
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