capítulo 1

Depois que o pessoal do Grupo Zuanetti foi embora, minha mãe me olhou com o rosto cheio de pânico.

— Lorena, não tenha medo. Mesmo que ele seja o presidente do Grupo Zuanetti, não pode usar isso pra te oprimir. — Disse meu pai, Gabriel Navarro, com a testa franzida. — Vou falar agora mesmo com o patriarca da família Zuanetti e cancelar esse noivado.

Levantou-se e já ia saindo.

— Leonardo já concordou em permitir que o especialista em neurologia, Dr. Lacerda, trate da Bianca, desde que eu me case com ele. — Falei, olhando para meu pai com calma.

Ele parou no mesmo instante. A voz mudou na hora:

— Casar com o presidente do Grupo Zuanetti… você sabe quantas dariam tudo por essa chance? A partir de hoje, se prepare pra ser uma esposa digna.

Minha mãe, com os olhos marejados, murmurou:

— Mas o Leonardo é conhecido por ser violento e ainda por cima é estéril. Todo mundo em Cidade Antoril sabe disso. Lorena, casar com ele é como se jogar no fogo!

— Isso não passa de fofoca maldosa! — Retrucou meu pai, com o rosto fechado. — E você, como mulher, entende o quê?

E saiu, irritado, sem olhar pra trás.

Aquela mudança repentina de atitude não me surpreendia mais. Talvez ele até sentisse algo por mim, mas jamais se comparava ao amor que tinha por Bianca Navarro.

A mãe de Bianca foi o grande amor da vida dele. Morreu no auge da paixão entre os dois.

Depois, minha mãe entrou na vida dele por um casamento arranjado. Desde então, ele vivia com medo de que ela maltratasse Bianca, como se quisesse compensar tudo dando o melhor do mundo à filha preferida.

Sempre que havia conflito entre nós duas, ele não hesitava em tomar o lado da Bianca, mesmo sem razão.

Enxuguei as lágrimas do rosto da minha mãe e tentei acalmar ela:

— Mãe, não precisa se preocupar. Vou me casar com Leonardo e serei a esposa do presidente. Você devia se sentir feliz por mim.

— Mas…

— Nada de "mas". Pode ficar tranquila. Eu vou ficar bem.

Dr. Lacerda era mesmo um médico excepcional. Em apenas dois dias, Bianca já tinha recuperado a lucidez.

Meu pai ficou tão contente que decidiu organizar um grande banquete para anunciar a boa notícia a todos.

— Lorena, vá até o Grupo Montelo e avise a família Montelo para comparecerem ao jantar hoje à noite. — Ordenou ele, olhando diretamente pra mim.

Fui sozinha até o Grupo Montelo, mas fui barrada pelos seguranças logo na entrada. Não tive escolha senão explicar o motivo da visita e pedir que anunciassem minha presença.

Sob o sol escaldante, fiquei ali esperando por quase duas horas. Só então Francisco saiu do prédio. A primeira coisa que fez foi me repreender:

— Lorena, o fato de eu ter aceitado me casar com você não significa que você pode vir me importunar desse jeito!

Olhando para o desprezo estampado no rosto dele, respondi com voz serena:

— Minha irmã já recobrou a consciência. Meu pai vai dar um jantar hoje à noite para comemorar.

Os olhos de Francisco brilharam na hora, cheios de surpresa.

— Bian está mesmo consciente?

Assenti com o rosto pálido.

Francisco abriu um largo sorriso, pegou o convite da minha mão e disse:

— Estarei lá na hora.

Foi só naquele momento que me dei conta de como fui cega no passado. Nunca percebi o quão gritante era a diferença entre o jeito como Francisco tratava a mim e a Bianca.