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Capítulo 2

Author: Clara Noturna
Isabel abriu os olhos lentamente. Seus cílios ainda molhados da água fria batiam levemente, como uma borboleta lutando na chuva, batendo as asas desesperadas. O olhar dela estava claro e firme.

Envolta em uma toalha, Isabel caminhou até o armário em busca de roupas. Havia vestidos, bolsas, joias, uma infinidade de opções. Tudo da coleção mais recente, enviado por Rafael. Mas agora, olhando para tudo aquilo, Isabel não sentiu a mesma doçura. Pelo contrário, sentiu apenas uma humilhação sem fim.

Cinco anos. Foi cinco anos presa nas mentiras meticulosamente tecidas por Rafael.

Ela se pegou pensando no quão tola e desesperada havia sido.

Isabel escolheu um pijama que havia comprado, vestiu-o e deitou-se novamente, deixando a memória levá-la de volta ao passado. As suspeitas começaram a surgir, e ela percebeu os inúmeros pontos duvidosos em relação a Rafael.

Ele sempre viajava a negócios em datas específicas, coincidindo com o aniversário de Antonela. Sempre que voltava à antiga casa para jantar, ele dizia que a família não aceitava Isabel e que não queria colocá-la numa situação difícil, então ia sozinho.

Às vezes, ao voltar de eventos, ele tinha o cheiro de perfume semelhante ao que Antonela usava.

Isabel nunca desconfiou dele antes. Agora, olhando para trás, ela se sentiu ridícula e tola.

Antonela era irmã dele, talvez não houvesse nada impróprio entre os dois. Ele nem podia ser chamado de traidor. Estava apenas a usando.

Ela havia sido enganada por cinco anos, acreditando naquele falso amor.

Quanto mais Isabel refletia, mais desolada ficava, e mais firme se tornava a sua decisão de se divorciar.

De repente, ela lembrou-se de que Rafael mencionou na ligação que ainda guardava fotos antigas de cinco anos atrás. Isso poderia ser a chave para descobrir a verdade daquele tempo.

Isabel pegou o celular e enviou uma mensagem para Sofia Santos, sua melhor amiga, que estava em outro fuso horário, oito horas à frente.

[Você conhece algum especialista em informática? Se sim, me indica alguém confiável.]

Sofia era especialista em inteligência artificial, muito atualizada e com uma grande rede de contatos. Quando Isabel se meteu em problemas, todos os amigos a evitaram, exceto Sofia, que sempre a defendeu. Com o tempo, as duas se tornaram amigas íntimas, compartilhando tudo.

Sofia respondeu com uma chamada vídeo. Isabel atendeu.

— A esta hora, em vez de estar dormindo com seu marido, você está procurando especialista em informática? — Brincou Sofia. — Não está atrás de vídeos duvidosos, não é? Se precisar, eu tenho recursos, posso te mandar, sem cobrar.

Isabel permaneceu em silêncio. Vendo a expressão séria da amiga, Sofia deixou a brincadeira de lado.

— E seu marido, onde está? — Perguntou.

— Aconteceu algo, te conto quando você voltar da viagem. — Isabel desviou, evitando falar sobre Rafael, com os olhos ainda doloridos. — Por favor, me ajuda a encontrar um especialista o mais rápido possível.

— Qual tipo de especialidade você precisa? — Sofia franziu a sobrancelha e perguntou.

— Preciso de alguém que consiga invadir um computador discretamente, encontrar arquivos escondidos de anos atrás, copiá-los e programar a destruição automática das fotos originais, sem deixar vestígios. — Isabel respondeu, após pensar por um instante.

Sofia captou os pontos-chave, piscou levemente, mas manteve a compostura, fazendo o sinal de ok.

— Sem problema. — Respondeu.

Após desligar a chamada, em menos de dois minutos, Sofia enviou um contato. Isabel abriu. O avatar era uma imagem preta, e o nome era apenas um ponto. O perfil era frio e vazio, nada publicado. Misterioso e distante.

Isabel adicionou o contato. Por um longo tempo, não houve resposta.

Até que o pedido foi aceito, quase ao amanhecer. E ela recebeu a mensagem:

[Endereço]

Isabel respondeu com um ponto de interrogação.

[O pendrive vem com programa de trojan. Insira no computador para copiar arquivos ocultos]

[Observação: os arquivos originais serão destruídos automaticamente em três meses]

[O prazo pode ser alterado]

Isabel percebeu que o programa já estava pronto, e o pendrive enviado conforme solicitado.

Assim, ela mesma poderia operar o programa, e só ela saberia do conteúdo copiado.

O especialista foi mais atencioso do que ela esperava.

Os arquivos originais se destruiriam automaticamente em três meses, mas contanto que ela descobrisse a verdade e concluísse o divórcio dentro desse prazo, não importaria se Rafael descobrisse.

Além disso, havia outra questão importante que precisava da influência dele para resolver. Três meses era o prazo perfeito.

Isabel enviou o endereço e informações de contato. E logo em seguida respondeu:

[Três meses apenas, não precisa alterar]

[Quanto custa?]

[Já está pago]

Isso significava que Sofia havia pago por ela. Isabel respondeu:

[Obrigada!]

A mensagem foi lida, mas não teve resposta. Isabel não se importou.

O dia amanheceu, e os funcionários lá embaixo já se moviam, ocupados. A atmosfera era animada. Isabel levantou-se e caminhou até a janela. As cortinas se abriram automaticamente. A luz suave da manhã entrou pela grande janela de vidro, iluminando seu rosto pálido com calor e brilho.

Um novo dia começava! Recuperar a audição era, de qualquer forma, uma boa coisa.

Ao descer as escadas, Isabel esbarrou com Rafael no canto da escada.

— Levantou tão cedo. — Disse ele com preocupação. — Por que não dorme mais um pouco?

— Já acordei. Preciso sair hoje. — Respondeu Isabel casualmente, e perguntou. — Quando você voltou ontem à noite? Por que não voltou para o quarto?

— Voltei tarde, então dormi no quarto de hóspedes para não te acordar. — Rafael respondeu envergonhado.

Ele estendeu a mão para abraçá-la, mas Isabel foi mais rápida, descendo primeiro em direção à sala de jantar.

— Estou com tanta fome, que comeria uma vaca inteira! — Ela reclamou fazendo charme.

Rafael riu e a seguiu calmamente.

Na sala, numa longa mesa ocidental, ele se sentou em frente a ela, acompanhando o café da manhã em silêncio.

— Vai para onde hoje? — Finalmente, ele não pôde evitar perguntar. — Não estou tão ocupado, posso ir junto.

Isabel segurou o sanduíche, hesitou por um instante, e continuou comendo.

Lembrou-se do passado.

Após se casarem, parecia que Rafael sempre a acompanhava toda vez que ela saía. Antes, ela acreditava ser uma prova do amor dele por ela. Agora, ela entendia que era só para impedi-la de encontrar Artur às escondidas.

— Vou às compras. — Disse Isabel, sorrindo levemente e observando o rosto impecável de Rafael, sentindo uma pontada de dor. — O problema da empresa de ontem já foi resolvido?

Rafael ficou surpreso por um segundo.

— Não se preocupe, já está resolvido. — Ele respondeu.

— Que bom. — Disse Isabel, o tranquilizando. — A propósito, hoje não precisa isolar o local para eu fazer as compras.

— Não é seguro lá fora. — Ele franziu a sobrancelha. — E se alguém te reconhecer como da última vez? Será perigoso e te deixará abalada.

Ele se referia à quando Isabel, pouco depois do casamento, tentou sair discretamente à noite. E, ao chegar à praça central, foi reconhecida e humilhada publicamente. Rafael, tomado pela fúria, atacou e agrediu o homem, e Isabel não conseguiu impedir. Desde então, ela raramente saía em público. Mesmo para jantar ou passear, Rafael sempre isolava o local.

— O que você quer comprar? Eu mando entregar em casa. — Ele tentou convencê-la.

Ela baixou o olhar, resignada, e concordou. Ele suspirou de alívio.

Isabel sentiu o coração apertado.

— Ah, estou trabalhando em uma nova história em quadrinhos. O protagonista é um investidor bilionário. Preciso ir ao seu escritório para pesquisar. Posso? — Ela disse, casualmente.

Ela raramente saía, então normalmente se dedicava em desenhar e escrever. Há três anos, uma história em quadrinhos que ela publicou anonimamente ficou famosa, e desde então, conquistou muitos fãs. Rafael, para apoiá-la, construiu um escritório ensolarado e acolhedor especialmente para ela.

Ele também tinha escritório, mas ninguém era autorizado a entrar, exceto os empregados. Isabel mesmo nunca havia estado lá.

O pedido dela foi um pouco repentino, mas ele já havia recusado o seu pedido de sair, então não podia negar novamente. Além disso, ao olhar nos olhos límpidos e brilhantes de Isabel, ele não teve coragem de dizer não.

— Claro que sim, pode usar. — Rafael assentiu, após pensar por dois segundos.

Isabel sorriu feliz, triunfante. O seu plano tinha dado certo.

As pessoas, no fundo, sempre se sentem constrangidas em recusar a mesma pessoa duas vezes seguidas. Na psicologia, isso se chama efeito porta na cara, é uma técnica de persuasão. Desde o início, Isabel não queria sair, apenas queria que Rafael concordasse que ela pudesse usar o escritório.

— Eu já sabia! Meu marido é o melhor e mais amoroso de todos! — Ela brincou, fazendo charme.

Ela inclinou a cabeça, mantendo o olhar firme nos profundos e apaixonados olhos de Rafael.

Dessa vez, não deixou passar a expressão de desconforto que passou por seus olhos quando ela disse que ele a amava mais do que tudo.
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